Hype do Arcade Fire assusta, mas Wilco é quem destrói na segunda noite do TIM Festival
Segunda noite do festival é marcada pela empolgação do Palco Lab. Fotos: Divulgação.
Atrasaram tudo ontem à noite no palco TIM Lab, para que todos pudessem chegar a tempo. Muitos estavam no palco principal, outros tantos vinham à galope do Cais do Porto, onde o Strokes fazia um segundo show igualmente esgotado. Ninguém podia era perder o canadense Arcade Fire, últimas das mais novas sensações do mundo pop, e a tenda estava realmente cheia, metade de gente que conhece tudo da banda – um único disco – e a outra composta por curiosos em geral.
A banda, grande como o Slipknot, é composta por jovens mancebos empolgados com sua cria. Todos de preto, iniciam o show com a batida marcial de “Wake Up”, que anima o público, mas é fichinha perto da euforia quando “Laika”, a segunda, é iniciada. Já ali começa a acontecer a troca de instrumentos entre os integrantes da banda, numa promiscuidade musical da qual só escapa a violonista. Uma coisa às vezes até desnecessária, já que na maioria das vezes tanto faz quem toca o que, entre acordeons, teclados e percussões.
No palco, o grupo é tão animado que parece uma espécie de banda de colégio ou do conselho paroquial, algo como a família dó ré mi. Em “No Cars Go”, a música é encerrada com uma interessante jam session, e o público delira. Difícil não se contaminar com o despojo dos canadenses, muito embora musicalmente a coisa não seja tão óbvia assim, a menos que tudo seja encarado como música folclórica ou regional dos cafundós da América do Norte. E aí uma versão quase irreconhecível de “Aquarela do Brasil” cai muito bem, só ajuda a deixar a platéia ainda mais feliz. E isso sem falar em “Age of Consent”, do New Order, que o vocalista Win Butler anunciou como “uma música que só tocamos às vezes”. Mas a homenagem nem seria necessária: quase todas as outras oito canções, numa horinha exata de show, foram cantadas por boa parte do público mais chegado ao palco. Só faltou mesmo o churrasco de hambúrguer no quintal gramado.
DEPOIS DA PRELIMINAR, SHOW DE GENTE GRANDE
Quem ouve esse ou aquele disco do Wilco não imagina que aquelas músicas soturnas e até tristes, quando tocadas ao vivo, se transformam num furacão de peso e energia. A banda capitaneada pela lenda Jeff Tweedy é praticamente a inventora do termo “alt country” (não vamos considerar o ancestral Uncle Tupelo) e subiu no palco TIM Lab com essa moral e com a missão de manter a euforia ocasionada pelo Arcade Fire.
De cara se percebe que o Wilco leva larga vantagem. Primeiro porque, já no primeiro toque em cada instrumento, se percebe uma banda muitos mais experiente e com músicos de verdade: todos ali já têm boa quilometragem percorrida. Segundo, porque nenhum dos integrantes – embora Tweedy seja realmente o manda-chuva - abre mão de mostrar suas qualidades, seja em passagens intimistas e até minimalistas, ou em solos endiabrados como os que o guitarrista Nels Cline mandou já a partir de “Handshake Drugs”, a quinta música do set. Cline, aliás, protagonizaria outros momentos de rara emoção, fosse debulhado a guitarra, ou plácido, sentado dando uma aula de lap steel guitar, quando toca com um anel de metal em um dos dedos sobre a guitarra deitada na mesa, como se fosse um teclado. “A Shot In The Arm” é outra que arrebata, mas esta por um refrão cativante que levanta o público – que, diga-se de passagem, para o bem ou para o mal, é bem menor do que o do Arcade Fire. E a seqüência ainda traz “At Least That’s What You Said”, aquela que tem no final uma verdadeira jam – destaque para o desembestado baterista Glenn Kotche - e encerra num esporro daqueles. Na canção seguinte, “Misunderstood”, é a repetição monocórdica da parte final que leva o público a um inevitável aplauso.
Para o Wilco isso é quase um estilo criado por eles, ou parte de um jeito de tocar bem peculiar. Do silêncio quase minimalista, parte-se para ruídos esporrentos a pleno volume. Acontece em muitos momentos, como em “Via Chicago”, que abriu o bis de cinco músicas - uma última ainda viria num segundo encore. Mas outra faceta é também interessante: a inclusão de verdadeiros rockões americanos à Neil Young ou que remetem ao Creedence Clearwater Revival. É o caso da estonteante “Spiders (Kidsmoke)”, com mais de 12 minutos de bola rolando, e a própria “At Least…”. E para quem acha a banda soturna demais, ao menos em disco, temas leves como o do hit “Heavy Metal Drummer” pode ser a solução.
O primeiro bis, depois de verdadeiros duelos de guitarra, faz a banda deixar o palco aplaudidíssima. Mas Tweedy e cia. voltam para cantar uma baladinha em falsete e encerrar o espetáculo de quase duas horas deixando a grande mensagem: eles ainda amam o rock’n’roll. Azar de quem saiu batido depois do hype.
LADO 2 ESTÉREO FAZ BOM SHOW, MAS SOFRE COM DESINTERESSE DO PÚBLICO
Mais cedo, mas com um atraso de uma hora, por conta da produção do festival, o Lado 2 Estéreo bem que tentou animar a platéia, mas como entreter indies ansiosos pelo hype? A mistura de guitarras pesadas – o guitarrista Josh S batalhou anos na cena heavy metal de Teresina – com bossas e outras levadas, e até com certa eletrônica, acabou soando como fundo musical para o público. Tanto que, ao anunciar a última música, Josh foi aplaudido.
Além de metal, o duo (é só bateria e guitarra) investe também em trechos de grindcore dos mais esporrentos e velozes, mas alterna esses momentos com levadas menos agressivas. E é isso que eles tentam explorar: a dicotomia entre a bossas e levadas e ritmos mais nervosos. E conseguem, na maioria das vezes. As músicas do novo repertório – que estão no disco “Samba Bloody Samba” – têm muito menos de eletrônico e mais de músicas tocadas, o que concentra o duo mais na música mesmo. Pena que o público não estava muito interessado nesse tipo de novidade.
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