Fazendo História

Up The Irons!
Bruce Dickinson e Adrian Smith voltam para o Iron Maiden

Texto explicando a volta de dois dos principais integrantes do Iron Maiden em 1999. Publicado na Rock Press no início do mesmo ano. Foto: Marcos Bragatto.

brucevoltaironFãs do rock pesado em todo o mundo, uni-vos para celebrar a volta da melhor formação da maior banda de heavy metal de todos os tempos! Sim, atendendo aos anseios da imprensa, da própria banda, e, principalmente dos fãs, Bruce Dickinson e Adrian Smith estão de volta ao Iron Maiden. Blaze Bayley deixa a banda, mas Janick Gers continua, fazendo a formação do Iron ter, pela primeira vez, seis integrantes.

Quando Bruce Dickinson saiu do Iron Maiden para se dedicar à sua carreira solo, não houve qualquer retaliação entre os integrantes da banda, fato que geralmente ocorre nessas ocasiões. Nem mesmo o conhecido poder que Steve Harris concentra em suas mãos foi criticado na pacífica separação, onde rolou até um show de despedida transmitido por TVs a cabo em vários países, com direito à efeitos especiais, onde Bruce aparecia decapitado, enforcado, etc. Adrian Smith saíra alguns anos antes, fechando o ciclo de glória do Iron Maiden com o álbum “Seventh Son Of a Seventh Son”. A razão era a mesma de sempre: ele queria maior liberdade para compor, e não queria mais trabalhar sob a tutela de Steve Harris, que sempre ditou as regras no Iron. Harris, por sua vez avaliava que Adrian se inclinara demais para a música progressiva, tirando o peso que o Maiden deveria ter.

Na sua saída, Bruce deixou claro a intenção de se dedicar a sua carreira solo, iniciada em 90, com “Tattooed Millionaire”, mas ofuscada pelo próprio Iron Maiden. Bruce saiu por cima, pois além de colocar Janick Gers, guitarrista de sua banda solo no Iron, o álbum “Fear Of The Dark”, puxado pela balada “Wasting Love”, de sua autoria, colocava a banda de volta ao sucesso, conquistando uma nova geração de fãs. O detalhe é que “Fear Of The Dark” foi composto quase “meio a meio” com Steve Harris, fato raro, uma vez que o baixista sempre concentrou as composições da banda em suas mãos.

Em sua carreira solo, Bruce Dickinson sempre buscou dar um rumo diferente do trabalho junto ao Maiden. Ainda no Iron, lançou “Tattooed Millionaire”, com uma sonoridade extremamente pop, e só conseguiu montar uma boa banda mesmo a partir de “Balls To Picasso”, quando iniciou sua parceria com o ótimo guitarrista Roy Z. Esse álbum rendeu a baladaça “Tears Of The Dragon”, tocada à exaustão nas FMs de todo o mundo. Em “Skunkworks”, Bruce regride com um álbum esquisito e mal recebido por toda a crítica especializada. A essa altura, o Iron Maiden está na tour de “X Factor”, o primeiro álbum com Blaze Bayley, ex. vocalista do Wolfsbane, banda da segunda divisão do metal inglês. Bem recebido, em “X Factor”, Blaze é aprovado, mas não corresponde nos shows.

A coisa começa a mudar em 97, quando Bruce Dickinson convoca Adrian Smith para a gravação de “Accident Of Birth”, que tentara, sem sucesso, sustentar uma carreira solo. Pela primeira vez o trabalho de Bruce se encontra com a sonoridade do velho Iron Maiden, através da indefectível guitarra de Adrian. Mesmo se ter lançado “Accident…” no Brasil, Bruce faz dois shows arrebatadores no final de 97, incluindo três músicas do Iron no set (“Two Minutes to Midnight”, “Powerslave” e “Run To The Hills”) e teve sua banda agraciada pela alcunha de “Segundo Iron Maiden”. Perguntado por esse repórter no início de 98 (ver Rock Press 12), Blaze desconversou e disse que isso era assunto para os fãs.

E foi no ano de 98 que os sinais da volta de Bruce e Adrian começaram a aparecer. Logo no início, o Iron Maiden lança “Virtual XI”, um álbum correto, mas muito distante da época de ouro da banda, e, o que é pior, mais fraco que seu antecessor, “X Factor”. Mais à frente, Bruce Dickinson lança o excelente “Chemical Wedding”, um álbum denso e essencialmente de heavy metal, com Adrian Smith criando riffs típicos do Iron Maiden. A música “The Tower”, primeiro single, sintetiza bem o quão próximo de sua ex-banda Bruce Dickinson chegou, numa clara sinalização de que Steve Harris tinha que se tocar. Em outubro, perguntado por este repórter se considerava-se um cantor de heavy metal, Bruce levantou um olhar tímido, e respondeu, sorrindo em seguida: “Yeape”. (N.E.: sim)

Os últimos shows da tour de “Virtual XI”, junto com o Helloween foram pela América do Sul, e o público brasileiro pôde tirar suas conclusões. A primeira delas é que Blaze Bayley, mesmo com uma performance superior à da tour anterior, não consegue mesmo segurar o pique da banda, e as músicas novas entediam boa parte do público. Depois, era notável que Dave Murray, sem Adrian Smith, não era o grande guitarrista de outrora. Ao contrário, caiu no lugar comum do fraco Janick Gers, seguindo suas presepadas. Pela primeira vez, ainda com a lembrança do show de Bruce no ano anterior, ficou claro para todos que Adrian Smith também fazia falta no Iron Maiden.

Em meio à um show cancelado em Campinas e outro sem bis no Rio, muito se falou na imprensa brasileira, e os boatos rolaram solto. Foi dito que havia um clima ruim entre Blaze e a banda, que ele andava em um veículo em separado, que fãs teriam atirado objetos em Janick Gers no show do Metropolitan, causando o cancelamento do bis, e que o próprio Janick (imagine!) não estava mais agüentando. Tolice. Blaze Bayley não é com certeza o vocalista certo para o Maiden, mas não se pode negar sua dedicação junto à banda, sua simpatia com todos, e o profissionalismo com que procurou segurar o posto para o qual foi escolhido. Escolhido, aliás, pela própria banda, leia-se Steve Harris. Blaze também não é o culpado (pelo menos não o único) pelas músicas de “Virtual XI” não terem o impacto que geralmente as músicas do Iron têm. Blaze não pode, enfim, ser o bode expiatório de uma fase ruim dentro do Iron Maiden.

Depois dessa tour, a contradição estava formada: de um lado a melhor banda de heavy metal de todos os tempos com um vocalista fraco e um guitarrista nulo, passando por uma fase ruim, talvez a pior de todos os tempos. De outro, o melhor vocalista que a banda já teve, junto com o melhor guitarrista, lançando um álbum que é a cara do Iron Maiden, e, tal qual um filho pródigo arrependido, sinalizando que quer voltar ao meio metálico. Era só uma questão de tempo mesmo, mas ninguém poderia esperar que fosse tão rápido.

Alguns shows da tour americana de Bruce foram cancelados, mas outros, como as datas no Brasil continuam confirmadas. O certo é que no segundo semestre o Iron Maiden deve fazer uma espécie de tour de comemoração de vinte anos, tocando só clássicos, e talvez alguma coisa da fase Blaze, o que deve deixar muitos fãs satisfeitos. As primeiras datas já estão sendo divulgadas no site oficial da banda, e dão conta de dez shows, começando por Paris, no dia 9/9/99. Segundo Bruce Dickinson, essa data foi escolhida porque especialistas estão prevendo que é nesse dia que todos os computadores de todo o mundo vão dar pau, por causa da falta de previsão de quatro dígitos para registrar o ano, fato que só ocorrerá em 2000. Mas também um número muito próximo do número da besta ao contrário. Toda a produção de palco desses shows será baseada no game Ed Hunter, cuja nova versão estará disponível em maio. Álbum novo mesmo só no início do ano que vem. E mesmo sem nada divulgado, levando-se em conta a boa vontade de Steve e Bruce de trabalharem juntos, o material deve voltar a ser do tipo “meio a meio”, como nos tempos de “Fear Of The Dark”. Até lá, quem sabe Janick Gers não sai da banda e parte para tocar com a carreira solo de Blaze? E quem sabe Bruce não volta a usar suas belas madeixas?

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Daniel em outubro 26, 2011 às 23:31
    #1

    E então, o Janick continua na banda até hoje, a formação de 6 integrantes continua até hoje, 12 anos depois. Fizeram uma turnê com músicas dos anos 80, e o Bruce continuou com cabelo curto.

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