Ao vivo, Walverdes viaja com peso e distorção
Cabaret abriu a noite da Mini Loud!, ontem, no Teatro Odisséia.
Às vezes parece estranho que duas bandas tão diferentes entre si toquem numa mesma noite. Mas ontem Walverdes e Cabaret não decepcionaram os públicos um do outro, nem os seus próprios, numa noite em que o artigo mais oferecido no palco do Teatro Odisséia foi o bom e velho rock’n’roll.
O Cabaret é a festa em carne, osso e rebolado. Ao menos foi o que o vocalista Marvel mostrou logo na música que tem aberto regularmente os shows deles, “Copacabana Full-Time” – e pensar que “O Palco Não Pode Ser Pouco” parecia talhada para essa tarefa. “Rockstar Baby” é a segunda e já emociona aqueles que ainda estavam assimilando a experiência. Outros, fãs das antigas (já?) cantavam todas as letras dramáticas e até bem humoradas como um discernimento fugaz. Na balada “Brilhar” Marvel para de cantar e se orgulha ao saber que todo mundo já sabe a introdução de cor e salteado. É o seu momento alto no show, principalmente como cantor, já que como performer a coisa inda iria o pegar fogo antes que os cerca de 40 minutos destinados ao Cabaret se esgotassem.
O curioso no show do quarteto não é só a potência sonora despejada em altos decibéis – e Peter Glitter sabe botar a guitarra para fazer o serviço - num resultado bem superior ao do disco, mas como todo o repertório se torna ainda mais colante, tanto para os ouvidos menos iniciados quanto para aquelas faces de sorriso largo que vibram com cada evolução instrumental, grito ou rebolado semi-fake de Marvel. “Não Desista de Mim”, por exemplo, emana as guitarras de Angus Young com uma sonoridade peculiar a atualizada, e o riff, irresistível, conduz a platéia à entrega quase que imediata. É a deixa para outra balada, na qual Marvel aproveita para mostrar o busto desnudo. No final do set, com “Deixe o Cadáver No Palco”, ele se joga no meio do público e os demais saem desprezando os instrumentos, largando-os pelo chão. Falta muito pouco para eles destruírem tudo. E o público, algo atônito, agradece.
Se o Walverdes demorou um pouco para subir no palco e muita gente cansou, ao menos foi o tempo para outra turma chegar e fazer o Odisséia ter o público que a banda merece. O trio barulhento consegue fundir simplicidade e barulho como poucos. Neste show em particular, em que amplificadores pediram arrego e a bateria queria dar mosh, o desafio foi superar tudo isso sem que o público se desesperasse. E eles conseguiram. A abertura foi com “Altos e Baixos”, do disco mais recente deles, “Playback”. Com volumes altíssimos, os instrumentos martelavam o público de forma salutar e convincente logo no início. “Anticontrole” e “Seja Mais Certo”, que começa com uma bateria se repetindo com o típico minimalismo da banda, também estão entre as do primeiro bloco.
Toda música tocada pelo Walverdes, no final, parece invariavelmente virar um jam session. Mesmo quando a duração não é lá tão grande assim. Quando é, aí é que os instrumentos parecem tocar sozinhos, fazendo dos músicos seus coadjuvantes, como se comandados fossem pelo deuses do rock. E nessa hora os covers, sempre tocados de forma inusitada, ganham um papel que sempre lhes é negado num show de rock. Aqui, ao invés de soar como falta de repertório ou artifício para animação de platéia, realça a criatividade e o poderio instrumental do trio. Além de algo de Rocket From The Crypt – pelo que o vocalista/guitarrista Mini falou, deu para identificar “No Fun“, dos Stooges, e a feliz junção de Black Sabbath (“Sweet Leaf”) com o reggae. Que outra banda poderia fazer isso dignamente senão o Walverdes? Curto, o show termina com as grandes levadas instrumentais que deram fama à banda, num volume tão alto que nem todos conseguiram se prostrar à frente do palco por todo o tempo. Só um sinal de como a coisa foi realmente boa.