No Mundo do Rock

Tuatha de Danann prepara novo disco para consolidar carreira internacional

Inspirado em duendes e povos da floresta, grupo mistura heavy metal com música celta e medieval. Fotos: Ricardo Zupa / Divulgação.

A música do Tuatha nasceu de uma grande mistura musical

A música do Tuatha nasceu de uma grande mistura musical

Eles são de Varginha, não são ETs, mas fazem música de outro mundo. Um mundo fantástico habitado por duendes que vivem em florestas e se divertem ouvindo boa música e bebendo muito vinho. Na verdade, “uma raça de deuses, seres encantados” que deixaram a Irlanda mítica par habitar o universo do rock pesado. Eles são o Tuatha de Danann.

O grupo nasceu há onze anos, e no início se chamava Pendragon, nome sob o qual lançou uma demotape. Uma segunda, “Faeryage” foi a base para o álbum de estréia, que levou o mesmo nome da banda, em 1999. Foi o bastante para a público do heavy metal se interessar pela música pesada do Tuatha, ao mesmo tempo mesclada com elementos da música medieval, a custa de instrumentos inusitados para o meio, como flautas e bandolim. Dois mil e um foi a vez de “Tingaralatingadun”, trabalho que consolidou o grupo no meio, sendo por várias vezes identificado com o chamado “viking metal” europeu.

“The Delirium Has Just Began”, um EP, de 2002, foi lançado também na França, iniciando um processo que daria frutos mais tarde. Em 2004 foi a vez do pesado “Trova de Danú”, que saiu também em países como a Rússia, o que impulsionou o Tuatha para a primeira turnê européia, em 2005. O grupo tocou em Paris, Hamburgo e no Wacken Open Air, festival que atualmente é a Meca do metal mundial. Agora Bruno Maia (vocais, flautas, bouzuki, guitarras, bandolim), Rodrigo Berne (vocais, guitarras, violão), Giovani Gomes (vocais, baixo), Rodrigo Abreu (bateria) e Edgard Britto (teclados) estão concentrados na composição do próximo álbum. Mas os Rodrigos acabaram dado uma paradinha no trabalho para conceder esta entrevista ao Rock em Geral.

Rock em Geral: Como vocês chegaram à conclusão de que deveriam fazer esse tipo de som, misturando música celta com metal?

Rodrigo Abreu: Não há intenções, idéias. É tudo natural, tudo flui. Temos muitas influências que vão desde Beatles, Jethro Tull e Yes até Dimmu Borgir, Carcass, Obituary, Anathema, música clássica, celta… Mas esse lance das viagens, os delírios e até as incursões da música celta é o que gostamos, é o que soa natural.
Rodrigo Berne: A banda vive em transformação, a música celta é uma parte da coisa, acho que a música do Tuatha nasceu de uma grande mistura musical.

RG: Esse tipo de som que vocês fazem leva a muitas comparações com o chamado “viking metal” europeu, você acha que uma coisa tem a ver com a outra?

Rodrigo Abreu: Acho que nosso som se parece com vários tipos de som, mas, na verdade, ouvindo-se de novo, ele não se parece com nada com o que outras bandas fazem.
Rodrigo Berne: Nossas músicas antigas andavam por essa vertente do metal, mas principalmente as letras no “Trova di Danú” não têm nada a ver com esse tipo de som. Talvez role no futuro uma música bem porrada, com coisas celtas e “vikings” juntas.

RG: O fato de vocês serem do interior de Minas contribui para se chegar à sonoridade da banda? Tem alguma coisa de regional no som de vocês?

Rodrigo Abreu: Acho que sim. Essa tranqüilidade de cidade do interior, muito verde, cachoeiras, isso certamente influencia nas músicas.

Rodrigo Berne: Aqui é ótimo, um lugar cheio de riquezas naturais, um lugar inspirador. Até o som dos trovões.

RG: O que significa o nome da banda?

Rodrigo Abreu: Tuatha de Danann era o povo de Danú, uma raça de deuses, de seres encantados que povoaram a Irlanda mítica. Eles vieram dos céus e trouxeram todos os segredos da magia, da natureza, dos sonhos, da vida e da morte. Com a chegada do cristianismo eles se converteram nos duendes e fadas do folclore popular. A história desse povo é bem louca!

Rodrigo Berne: Povo de Dana, ou Danú, ou Danann, são outras formas de escrever.

RG: Vocês costumam inventar palavras nas letras das músicas, sobretudo no álbum “Tingaralatingadum”. Há algum significado nessas nisso ou é só uma questão fonética?

Rodrigo Abreu: Tingaralatingadun foi a rebelião dos seres encantados contra o homem, pois eles já estavam cansados daquelas histórias de que “fadas e duendes são coisas de crianças, de fantasia”. E também não agüentavam mais ver os homens destruindo toda a natureza. Aí resolveram fazer uma reunião na floresta com todos os tipos de seres mágicos, só que no dia eles “chaparam” demais e rolou na música que é um tanto de duende bêbado cantando, como mostra a ilustração na capa.

Rodrigo Berne: Tudo tem um significado, rebelião dos duendes, gnomos, fadas, etc. Também utilizamos palavras do vocabulário gaélico.

RG: Vocês escrevem as letras diretamente em inglês ou traduzem? Fazem pesquisa para escrever ou elas são fruto de conhecimento armazenado?

Rodrigo Abreu: Se esta pergunta fosse uma prova diria que todas alternativas estão corretas.

Rodrigo Berne: Pensamos em português e inglês. É fruto do vinho armazenado e da ajuda dos anões mágicos.

RG: Na parte gráfica dos discos há sempre ilustrações com duendes e outras criaturas fantasiosas…

Rodrigo Abreu: Nos encartes, junto com as criaturas, duendes, encontram-se vários personagens das nossas músicas, mas esteticamente não tem nada a ver com a gente.
Rodrigo Berne: Ainda bem, porque a galera dos desenhos, os personagens são muito feios. Nossas roupas, em alguns casos, parecem-se com a dos desenhos.

RG: O visual da banda, somado a esta parte gráfica, parece identificado com a cultura hippie, embora o som nada tenha a ver com isso. Como vocês convivem com essas duas partes?

Rodrigo Abreu: Acho que tem a ver sim, como nosso som é uma mistura musical, nosso visual também é uma mistura cultural. Vestimos e tocamos o que acreditamos, fazendo com que a música e a cultura se unam.

Rodrigo Berne: O nosso som é hippie. Se a banda tivesse surgido na década de 70, nós seríamos hippies.

O nosso som é hippie. Se a banda tivesse surgido na década de 70, nós seríamos hippies

O nosso som é hippie. Se a banda tivesse surgido na década de 70, nós seríamos hippies

RG: Vocês já pensaram em usar vocais femininos na banda, não só com convidadas, mas com uma integrante fixa?

Rodrigo Abreu: Ainda não pensamos sobre isso, por enquanto os vocais femininos estão apenas para completar a viagem, como convidadas especiais.

Rodrigo Berne: Eu sou contra incluirmos mulher como integrante fixa.

RG: Nas referências musicais de cada integrante, no site, há muito mais bandas de classic rock e metal das antigas do que do metal, digamos, contemporâneo. Como o Tuatha de Danann se insere no mercado do metal atual?

Rodrigo Abreu: É difícil definir em que área do mercado do metal se encaixa o nosso som. Nos nossos shows vemos crianças de 12 anos se divertindo e headbangers “das antigas” com camisa de bandas extremas também curtindo.

RG: O último disco, “Trova di Danú” é mais pesado que os anteriores. Podemos considerar essa uma nova tendência para a banda?

Rodrigo Abreu: Ainda não dá pra falar sobre o próximo trabalho, ele ainda está em criação, mas tem musicas pesadas e leves também. Ainda não sei se será essa tendência.
Rodrigo Berne: O “Trova…” é até meio leve. O próximo deverá ter de tudo, inclusive peso, mas principalmente coisas celtas.

RG: Esse disco já foi composto com uma carreira internacional em mente?

Rodrigo Abreu: Não especificamente. A única coisa que nos preocupamos era em fazer uma produção de nível internacional, mas visando a qualidade. Aí então surgem as propostas, como rolaram. Mas os nossos CDs anteriores também atingiram o mercado internacional.

Rodrigo Berne: Sempre, sempre mesmo, em todos CDs, já estávamos com isso em mente, esse pensamento de construir um caminho para uma carreira internacional.

RG: Em que países esse disco foi lançado, e qual tem sido a repercussão em cada um deles?

Rodrigo Abreu: Os nossos discos foram lançados por um selo na Rússia, e outro na França, onde eles têm o direito de explorar os paises vizinhos, por isso não dá para saber em quantos paises o nosso som já chegou; e a repercussão é muito boa, a galera fica de cara com o som, acha curioso, criativo. Percebemos isso na turnê européia do ano passado.

Rodrigo Berne: E não é só o CD que interessa, a música rola forte na net. As pessoas são as distribuidoras e divulgadoras das músicas do Tuatha. Ok, a música tá rolando, rolando, mas, infelizmente, não há o retorno correspondente em dinheiro.

RG: Vocês fizeram uma turnê pela Europa no ano passado. Conte, em linhas gerais, como foram esses shows:

Rodrigo Abreu: A turnê européia do Tuatha de Danann obteve muito sucesso, principalmente na França, inclusive com show “sold out” em Paris, no La Scène Bastille. E na Alemanha também foi ótimo, onde tocamos em um dos mais importantes eventos do heavy metal, o Wacken Open Air. Nem imaginávamos que teríamos tanta abertura assim por ser a primeira turnê.

RG: Em que cidades aconteceram os shows mais legais e por quê?

Rodrigo Abreu: Em Paris certamente o show foi animal, casa lotada, som animal, etc. E o show do Wacken foi perfeito.

Rodrigo Berne: Paris, e teve Hamburgo também, o festival Metal Bash, além do Wacken.

RG: Alguma história interessante da viagem?

Rodrigo Abreu: Tem várias, no site do Tuatha, no “tour report”, escrevemos várias delas. Mas foi uma experiência bem massa. Ficamos alguns dias sem banho, comemos bastante baguete na França, churrasco sem tempero. Mas com ótimas bebidas, principalmente cerveja e vinho.

RG: Havia público lá que já conhecia ou tinha ouvido falar do trabalho de vocês?

Rodrigo Abreu: Isso foi o inesperado. Tinha um bocado de gente que já sabia cantar as músicas. A banda toda ficou de cara, curtimos demais.

Rodrigo Berne: Muito mais do que imaginávamos. Mas é o resultado dos lançamentos feitos na Europa anteriormente, e também do que rola na Internet. Muita gente já conhece nosso som no mundo todo.

RG: Quando acontece a próxima turnê no exterior?

Rodrigo Abreu: Estamos trabalhando para o ano que vem, até lá já estaremos com um novo trabalho, e com certeza divulgaremos por lá também.

RG: Como estão as músicas desse novo trabalho?

Rodrigo Abreu: Nesse exato momento estávamos criando alguma coisa, mas ainda não dá para adiantar os detalhes, só posso dizer que tá bem massa.

Rodrigo Berne: Todos estamos trabalhando em novas composições. As minhas músicas estão pesadas e épicas, tem uma celta com um ritmo rápido, é um rock’n’roll com estrutura celta. Juntando com o material dos outros da banda já estamos com quase um disco pronto.

(As letras são) fruto do vinho armazenado e da ajuda dos anões mágicos

(As letras são) fruto do vinho armazenado e da ajuda dos anões mágicos

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