Cansado e prejudicado pelo som, New Order faz show apenas razoável
Grupo britânico tocou por pouco mais de uma hora e meia, ontem, num inacabado Vivo Rio. Fotos: Daryan Dorneles.
Quem esperou 18 anos para ver um show do New Order com uma qualidade de som melhor do que aquela oferecida pelo Maracãnanzinho, em 1988, voltou a se decepcionar, ontem, no Vivo Rio. Pior: além da acústica reverberante, o New Order mostrou que não é mais o mesmo, fazendo um show que, se não foi burocrático, também não foi daqueles de arrebatar multidões. E olha que hits não faltam à banda.
A estratégia adotada no set list foi engenhosa. Primeiro, as músicas mais legais dos últimos tempos, e no final, só aqueles sucessos das pistas, aquela coisa arrbenta-assoalho para não deixar ninguém com cara de quem comeu e não gostou. Entre eles, alguma coisa do último disco, o fraco “Waiting For The Sirens to Call”, e uma ou outra do Joy Division salpicada. E aqui vale uma anotação. Uma banda bem sucedida como o New Order, com tanto tempo de estrada, não precisava colocar músicas do Joy Division no repertório, mesmo considerando as questões históricas que praticamente fundem as duas bandas. E outra. Música do Joy Division sem Ian Curtis não é Joy Division. Como imaginar “Transmission” (com eco na voz e tudo) e “She’s Lost Control” (que Bernard Sumner anunciou como “He’s Lost Control”), sem a voz de Curtis? Só mesmo “Love Will Tear Us Apart”, no último bis, é que não caiu mal, sendo que a oculta “These Days” passou desapercebida pela maioria.
A abertura, com “Crystal”, foi das mais agradáveis, mas já ali se notava um som vacilante em volume e potência, com Sumner reclamando a olhos vistos do retorno. O quarto elemento, Phil Cunningham, se mostrou um tanto quando dispensável, fazendo bases de teclado idênticas às pré-gravadas, só acrescentou algo quando ajudou na “dobra” de guitarras em músicas como em “True Faith”, por exemplo, que transformou o show num verdadeiro espetáculo de arena. A boa “Temptation”, com arranjos, digamos, atualizados (como, aliás, ocorreu com toda a parte eletrônica da banda, em várias músicas), perdeu peso e carisma junto ao público. “Bizarre Love Tringle” também caiu com o tal “up grade”.
O melhor momento ficou para na dobradinha “Perfec Kiss” e “Blue Monday”, emendadas em grande estilo. Na primeira Peter Hook tocou seu kit de batera como os velhos tempos e Stephen Morris deu um show à parte nas baquetas. A segunda, tocada sabe-se lá em qual remix, já quem em todos ela é colante, foi algo de espetacular, mesmo com o som não tão bem equalizado. Para o bis a ótima e tranqüila “Love Vigilantes”, com Sumner operando aquele tecladinho de sopro infantil, usado antes em “Turn” – nem assim Phil Cunningham aproveitou para sair do óbvio. O vocalista ainda disse, antes de “Love Will Ter Us Apart”, que não costumam voltar ao palco tantas vezes, e que abririam uma exceção por ter gostado do público. Exatamente como fizera em Belo Horizonte e em São Paulo.
Nota: Não foi só o som do Vivo Rio que estava ruim. Ao que parece o local foi inaugurado antes de todas as obras terem sido concluídas, talvez para não deixar de cumprir os contratos assinados previamente com os artistas. Além do conforto – num show em que o ingresso mais em conta custou R$ 200 – a falta do acabamento contribui para a qualidade do som. Após os shows já agendados, talvez seja melhor o Vivo Rio fechar as portas para concluir todas as pendências, e só então abrir para o público de novo.
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