Tim Festival castiga público rock, mas Arctic Monkeys – quem diria – redime a primeira noite
Björk inventa baticum pra turista e tecnopop retrô do Hot Chip traz de volta o tempo das discotecas. Palco “Novo Rock BR” não resiste à chuva e bandas nacionais têm shows cancelados. Fotos: Marcus Schaefer/Divulgação Tim Festival (1) e (3) e fotocom.net/Divulgação Tim Festival (2).
Se há uma coisa que o Tim Festival consegue (desde os tempos do Free Jazz) é dar a uma bandinha qualquer o status de popstar. Vem o caso dos Arctic Monkeys, por exemplo. É verdade que os inglesinhos são um dos milhares de destaques do chamado novo rock, mas são, sim, um grupo bastante jovem, com pouca presença de palco, músicas boas – mas não muitas – e que tem um futuro brilhante. Mas não é nem de longe melhor do que as novas bandas de rock brasileiras, que tocam para trezentas pessoas em buracos aqui e acolá. O Moptop, diga-se de passagem, colocaria o quarteto no bolso em dois tempos. Tímidos, os caipiras britânicos ainda têm que comer muito feijão. Mas o show do Arctic foi bom, sim, ainda mais dentro das circunstâncias.
Não é preciso falar que o som deles é todo calcado na década de 80, e ao vivo o desempenho do baixista Nick O’Malley realçou o que no disco já era evidente: é ele quem dá o tom e sustenta as músicas do Arctic. Foi assim na surpreendente “Brianstorm”, que começa como se fosse algo do Black Sabbath e descamba e imediato para a coisa dos anos 80, aí sob o patrocínio do batera Matt Helders, que mistura a batida óbvia com sutis mudanças em algumas partes. Essa foi um das cinco músicas tocada no talo, sem deixar o público respirar. Ponto pra eles, que se mexem pouco num cenário com luzes de estúdio fotográfico. Depois da ótima “Dancing Shoes”, o vocalista Alex Turner dá o ar da graça: “Olá, como vocês podem ver nós somos os Arctic Monkeys”. O público, que sofreu na chuva à espera de poder entrar no local do show, delira.
A citação ao criador o heavy metal ali em cima não foi por acaso, outras salpicadas de gêneros aparentemente estranhos aparecem ainda mais nas versões tocadas ao vivo, todas bem mais velozes do que em disco. “I Bet You Look Good On The Dance Flor”, uma porrada com uma introdução surf music espantosa, tem não por acaso o coro do público, num dos melhores momentos do show. “A Certain Romance”, que fechou o set sem bis, e “This House Is Circus”, outra daquelas cinco primeiras, têm um tempero reggae/ska dos mais interessantes, às custas – de novo – da pungência de O’Malley. E – vejam só - ele foi buscar em algum disco dos Pretenders a levada de “Teddy Picker” – seria “My City Was Gone”? Músicas que se destacam no pequeno universo dos Arctic Monkeys, formado por dois discos que, a bem da verdade, não dariam um. Com pouco mais de uma hora, o show foi curto, mas longo se considerarmos as vinte músicas executadas com uma fúria juvenil quase punk. Talvez por isso muita gente da fração “oba-oba” do público, cansada de dançar com a música “mecânica”, deixou o local lá pela metade do show. Ponto para a banda.
A apresentação do Arctic Monkeys foi redentora (em parte) pelo cenário que se colocou durante a noite. Uma boa teoria da conspiração (a favor) diria que os artistas que se apresentaram antes foram escalados para que eles se transformassem nos salvadores da Pátria. O Hot Chip, por exemplo, se não fosse abençoado pelo festival, tocaria no máximo em festas numa dessas boates da zona sul carioca. O grupo é inexpressivo e nada tem a ver com o novo rock do Arctic Monkeys, daí causar espécie sua escalação naquele lugar. Mistura de Pet Shop Boys com Depeche Mode – tudo mal feito -, o quinteto não passa de um grande embuste, na mesma linha do Rapture, que se apresentou algumas edições atrás desse mesmo festival. Uma citação a New Order passou quase desapercebida, e no fim das contas tudo não passou de desculpa para transformar o local numa grande discoteca, por aqueles que deixaram o show do Arctic no meio, lembram?
TROPICALISMO GLOBALIZADO
Dentro da mesma teoria da conspiração, até Björk cairia bem. Ela fechou o palco “Tim Volta”, no mesmo local, só que mais cedo, e atualmente faz um show do tipo batucada pra turista: decoração cheia de parangolés tropicalistas, um grupo de sua terra natal – Islândia, lembre-se –, com sopros nada convencionais, e uns dois DJs que cuidam do resto, além de uma animador visual de gosto questionável que utiliza vários plasmas de TV. O show varia entre o bom gosto – quando ela enfatiza a voz – e o baticum desnecessário – quando os DJs passam da medida. Entre uma coisa e outra é o carisma de Björk que salva a parada. Desembrulhada para presente, com menos de um metro e dois terços de altura, ela empolga o público o tempo todo, às vezes com artifícios cênicos, como quando “soltou teia de aranha” dos punhos, na boa “Hunter”, ou na chuva de papel picado de final de Copa do Mundo em “Declare Independence”, já no bis, em ritmo de folia. Outras músicas em que ela comanda a platéia são “Cover Me” e “Pleasure Is Al Mine”. Já “Pluto” apareceu numa versão irreconhecível, por conta da tal intervenção exagerada dos DJS. No fim das contas, e a julgar pelo frenesi do público, Björk venceu.
O que pode ser dito também de Anthony And The Johnsons, uma das atrações mais inóspitas já vistas no Tim Festival. Um piano, violinos, um violoncelo e um baixo às escuras com um sujeito soltando uma voz de Pavarotti em músicas pra lá de arrastadas. Mal escalado – deveria estar num palco mais íntimo, com mesas e tal –, até que ele se sai bem, a julgar pela inusitada vibração de boa parte do ainda pequeno público que se aglomerava em frente ao palco. Pena que a alegria durou pouco: em exatos 35 minutos Anthony saiu prometendo um novo show no palco “Novas Divas”. E cumpriu, com um set list todo modificado. Será que ele partiu o show original em dois? Vai saber…
FALHAS NA ORGANIZAÇÃO TIRAM BANDAS NACIONAIS DO FESTIVAL
Sempre elogiado pela boa organização, esse ano o Tim Festival começou mal. Para as bandas nacionais montou um palco mambembe que não suportou a uma chuva nem tão forte assim. Resultado: Vanguart, Montage e Del Rey vieram ao Rio à passeio. Sem ar condicionado, o palco principal do festival lembrou – vejam vocês – os bons tempos do saudoso Garage, com o demérito de ter cerveja ruim, cara e sem gelo. Pra finalizar a baixa organizacional, uma inversão da ordem no palco “Novas Divas” fez muita gente perder o show de Cat Power. Lamentável.
O Tim Festival continua hoje no Rio.
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Que lixo de resenha, falar que os caras do Arctic Monkeys são caipiras e não são melhores do que as bandas de rock brasileiras? E os 2 albuns lançados não dão 1? Fala sério, deixa pra quem entende de música fazer a matéria. Não é a toa que não tem um comentário na matéria até hoje 6/11/11
Isso sem falar o preconceito quase infantil contra a música eletrônica. Quase aquela birrinha de escola (rock x samba). Uma infantilidade. E o que você esperava da Bjork? Um show do Oasis?
Todavia, achei interessantes as influências citadas no artigo.