Melhor que antes ou rock carioca: a luz no fim do túnel
Se pouco premia, ao menos Festival B de Banda serve para revelar novos nomes do rock carioca; edição desse ano superou – e muito – a do anterior.
Meus amigos, nada como um dia após o outro. Desde que tenho essa coluna virtual me lembro de ter feito ao menos dois textos falando especificamente sobre as novidades do rock carioca. Num deles, já há algum tempo, enchi de elogios a tal cena que via, em qualidade e diversidade de bandas. Noutro, o mais recente, escrito em julho desse ano, a despeito da final do festival das seletivas para o Mada, vi que a coisa estava muito ruim. Como poderiam as bandas que disputavam uma final de um festival ser tão ruim? Dureza, meus amigos, dureza.
Mas disse que nada como um dia após o outro. Eis que, no finalzinho desse ano, fui convidado para ser jurado do Festival B de Banda, gêmeo da tal seletiva, em todas as cinco eliminatórias e também na final. Posso concluir, com o alívio dos entusiastas de rock, que nem tudo está perdido. Ou, por outra, não há nada perdido. Não sei se a pré-seleção foi mais criteriosa, se mais bandas legais apareceram, se as bandas ruins jogaram a toalha, mas o fato é que, diferentemente daquilo que escrevi aqui, hoje a coisa está melhor que antes. Ligeiramente melhor, diga-se, mas melhor é melhor e não se fala mais nisso.
O leitor de última hora, que viu o tal texto escancarando a ruindade das novas bandas cariocas e agora se depara com essas linhas já deve achar que sou de adotar a método “morde e assopra” só pra fazer média. Que, para desfazer minha fama de mau, estou a fazer contrapontos para ficar tudo por isso mesmo. Ou, ainda, que me arrependo do que escrevi e agora quero posar de bom moço. No que apelo, então, ao leitor de longa data. Não é nada disso. São os fatos, meus amigos, os fatos. Se vou lá e vejo uma pá de bandas ruins, digo que são ruins; se vejo trocentas bandas boas, digo que são boas. Simples, não é não?
Ocorre, quem, no entanto, as duas melhores bandas do festival sequer passaram das eliminatórias, e, por coincidência (quero crer) estavam escaladas para a mesma noite. Monstros do Ula-Ula e Madame Machado já são grupos prontos e, a rigor, nem deveriam estar disputando um festival para novatos como esse. Percebe-se isso já no primeiro ruído vindo da guitarra de uma das bandas antes de o show começar. É outra coisa, outro nível. E nem precisa dizer que o MM faz um skacore de primeira linha, com excelente sotaque pop, e o Monstros ataca de surf music, música trash, hardcore e afins. Primeiro vêm essas, depois as outras.
Pois ambas votam derrotadas por uma banda indie à Pixies e afins muito boa, a Stereologica. Muito novinha, ainda sem saber quem deve cantar, o menino ou a menina, não fez feio na final, mas, muito verde, ainda tem que rodar muito mais antes de embarcar para Natal. Pois Paulo Pilha também venceu sua eliminatória mais contando histórias do que fazendo música. E que histórias. Letras que falam de um zagueiro que deseja ser titular de seu time ou de uma esposa burra trazem de volta a graça do rock, sem passar pelo assustador engraçadinho, com o perdão da citação, de Mamonas Assassinas. Mas, pelo que soube, Pilha fez no festival seu terceiro show. Ou seja, ainda tem muito o que pilhar por aí.
Vi, também, que alguma bandas melhoram, e outras, realmente não têm jeito. Planar, por exemplo, pareceu bem mais à vontade no palco do que quando o vi numa outra oportunidade. Até o Mobile Drink, a primeira banda “emo metal”, do planeta, melhorou tanto que conseguiu até vencer sua eliminatória, uma das mais fracas do festival. Já o Tapete Red, repito, continua errado já no nome; no palco, pior ainda. Crombie, então, vencedor de outra das eliminatórias, até melhorou ao eliminar a percussão hipponga, mas acabou ganhando o carimbo certeiro de “cover de Djavan” do grande Bart.
Não acho que o Ganeshas, vencedor da finalíssima, é um grande representante, embora tenha vencido a final, segunda passada, lá no Odisséia, de lavada, como estampou a capa do Caderno B, do JB, na quarta. Mas ganhou na simpatia e tocando o bom e velho rock, numa grande prova (capitalizo em cima) de que rock é rock mesmo. É, também, um grupo muito novinho, e deve receber esse “prêmio” como um incentivo para fazer shows a rodo e chegar afiadinho ao Mada, que acontece daqui a uns oito meses. Toquem, rapazes, só o palco salva.
Não posso deixar de falar, ainda, de duas outras bandas legais, Amplexos e Parêntese. Se os nomes são ruins, o som merece ser escutado. Os dois apresentaram uma complexidade sonora pouco cativante, é verdade, mas que pode ser destrinchada com o passar do tempo. Porque as idéias parecem ser boas, e, se melhor (ou mais claramente) desenvolvidas, pode dar num bom rock. O resto, meus amigos, é joio. Mas percebam que o rock feito debaixo do Cristo Redentor não está liquidado. Agora, saiam daqui, copiem esses nomes e vão procurar o que ouvir deles por aí pela internet. Eu, ao menos, estou fazendo isso.
Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!
Tags desse texto: Amplexos, Ganeshas, Jornal do Brasil, Madame Machado, Mobile Drink, Monstros do Ula-Ula, Parêntese, Paulo Pilha, Stereologica, Tapete Red