Rock é Rock Mesmo

Reducionismo virtual

Oferecendo menos espaço para escrever, twitter é a nova coqueluche no mundo virtual e também pegou o rock de jeito

Meus amigos, pau que bate em Chico também bate em Francisco. Imaginem que, do nada, a última onda da internet é o twitter. Sim, eu sei que a ferramenta existe já há algum tempo, mas, convenhamos, foi agora que, de uma hora pra outra, a coisa bombou. Até técnico de futebol tem um. O sujeito aparece na TV mais que o Tarcísio Meira em novela das oito nesses 44 anos de Rede Globo, dando entrevistas, mas, ainda assim, vai lá no twitter deixar uma ou outra frase qualquer. O que é a tecnologia…

E o que é, no fim das contas, o twitter, senão um blog de poucas palavras? A falta de interesse por conteúdo das novas gerações é tão grande que, quanto menor, melhor. Esse parece ser o princípio do básico do twitter. O Fulano só pode escrever uma frase de tal tamanho por post. Bom, né? E mais: sendo um blog de espaço pequeno, mesmo que se queira escrever um pouco mais, isso é impossível. É como no recado para amigo ou comentário em comunidade, no orkut, o cursor trava e você tem que terminar a mensagem naquele limite mesmo. Bom, né?

Conheço gente em torno dos 20 anos de idade que tem a capacidade de cognição cifrada, isto é, só compreende pequenos trechos de uma conversa, de uma frase lida num texto ou dita na televisão. É como se existissem pequenos lapsos de cognição que não permite a junção de uma idéia, de um pensamento, a outro. Ao mesmo tempo, quando esse lapso aparece, sugere que o que foi dito até ali represente todo o significado, e esse jovem reage, em geral, com alguma observação, naturalmente equivocada. Não sei se me faço entender, mas esse é o tipo de pessoa que podemos chamar de twitter ambulante, ou, ao menos indicar a ela seu reflexo digital. Sim, é essa a juventude que vai mudar o mundo.

Digo isso tudo porque, como todos sabem, antecedo à internet e toda essa balbúrdia virtual. Vi isso aparecer e levar a humanidade a reboque. Fui contra a internet, contra o orkut, contra o fotolog, contra o blog e assim por diante. Hoje, entretanto, convivo com tudo isso, depois de quase ser atropelado pelo mundo virtual. Mas, sim, anotei a placa e não perdi, por pouco, o trem da história. Estava agarrado ao balaústre da escada de acesso do último vagão, mas hoje já posso viajar sentado e na janelinha, como também gostavam Bebeto e Romário. Porque, também, não é possível ignorar a realidade inexorável dos fatos. Nem que seja para ver o que vai acontecer.

Aquele leitor de longa data que chegou até aqui deve estar se perguntando. E o rock? E o rock? No que eu respondo: calma, meus amigos. Percebam que ninguém mais se apega tanto a essas mudanças no mundo da informação no qual estamos inseridos do que aqueles envolvidos no mundinho musical, onde, claro, está o rock. Toda uma indústria está tendo que mudar seu modo de ação, a duras penas, na maioria das vezes tendo grande prejuízo, em função das intermináveis e inconstantes renovações tecnológicas. A internet é de todos, mas mais de quem está envolvido com o rock, podem anotar aí. Mesmo porque fã de rock, sobretudo no Brasil, está ligado às camadas mais abastadas da sociedade, é de classemediano pra cima quem usufrui melhor das benesses tecnológicas.

Então, assim, concluo dizendo que no rock o twitter pegou de vez. Ao ficar correndo atrás de notícias para povoar este site me deparo com o baixista do Blink 182 dizendo, no twitter, que a nova música da banda não se chama “Reborn”. Vejo outro baixista, o do Faith No More, dizendo como está sendo feita a turnê de reunião da banda, para a alegria das viúvas de Patton (há muito tempo não falo delas, hein?). E, só pra variar, leio Liam Gallagher, que nesse horário já deve estar passando o som lá no Citibank Hall, aqui no Rio, batendo boca virtual em seu twitter com o mano Noel, que, por sua vez, usa o blog da banda para escrachar geral. Para o segundo, a turnê sul americana é um fiasco; para o primeiro, uma maravilha. Exemplos de como se colhe informação sobre música pop com o tal do twitter.

Não, meus amigos, não estou escrevendo isso tudo para, no fim das contas colocar lá em cima o título: “Amigos, twittei”. Isso, aliás, pode acontecer a qualquer momento, porque o importante, nessa revolução tecnológica e da informação, o importante, repito, é não ficar de fora, sentado na praça vendo a banda passar. Mas, vejam, se uma das coisas mais legais da internet é o espaço proporcionado à liberdade de expressão, porque optaria eu, por um lugar com limite de texto para escrever? Só por estar na moda, todos sabem, não é a minha. Nunca foi. Mas estou ligado, conectado no que essas pessoas fashion fazem com o twitter delas, podem ter certeza.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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Comentários enviados

Existem 6 comentários nesse texto.
  1. Bruno Nogueira em maio 8, 2009 às 18:21
    #1

    Acho que não é por ai, Bragatto. Não encare o Twitter como um blog. É uma ferramenta de diálogos, uma provável futura versão das salas de chat até. Você vai narrando seu dia, conversando com amigos, etc. Ali, o conteúdo é a relação entre as pessoas conectadas. :)

  2. Ana Morena em maio 8, 2009 às 18:40
    #2

    Querido Bragatto,

    Essa geração foi pra mim uma grande decepção. É a geração que veio depois da minha e na minha cabeça deveria dominar o mundo, devido a tantas e tantas facilidades de acesso a todo tipo de coisa. Mas o que vejo é exatamente o contrário. Eu com 20 anos era praticamente a mesma coisa que sou hoje, talvez um pouco mais ansiosa e um pouco mais insegura. Mas a essência era a mesma.

    Hoje vejo que a adolescência vai até os 25 anos e o povo de 25 conversa e tem tanta profundidade nos assuntos quanto a minha sobrinha de 12.

    O que me conforta é que os filhos desses adolescentes virtuais de 25 anos vão ter a responsabilidade e a maturidade que seus pais não tiveram, é aquela de bater no funo do poço e voltar. O ciclo natural das coisas. Pior que isso não dá pra ficar. ahahaha

    Adoro internet e tecnologia graças a minha mãe que há uns 20 anos atrás foi uma das primeiras pessoas em Natal (minha cidade) a ter computador com internet. Tenho tudo: twitter, orkut, fotolog, flickr, msn, myspace e tudo mais que inventarem.

    O twitter é uma ferramenta deliciosa pq é como se vc convivesse rotineiramente com aquelas pessoas que vc seguem, mesmo que elas morem do outro lado do mundo. Vc acompanha o dia a dia delas. Eu só sigo quem eu conheço. Eu adoro!

    Bjs e parabéns pelo Rock em Geral, hein? Vc é mestre! :D

    Bjs

  3. Felipe Gurgel em maio 9, 2009 às 1:02
    #3

    Ana,

    Concordei contigo na maior parte do teu comentário, só não neste ponto:

    Acho que dos 20 aos 30 é muito difícil qualquer pessoa não passar por profundas mudanças de essência, mesmo aquelas que alcançam certa maturidade cedo. Mesmo que tu não perceba, acho improvável que você seja “essencialmente” a mesma pessoa dos teus 20 anos. Por mais que a pessoa se conheça bem acho isso bastante improvável. Mas é só minha opinião.

    E a Internet nem existia há 20 anos, tá doida mulher? Os primeiros serviços de provedor no Brasil começaram a operar por volta de 95. Mas tu pode ter usado “20 anos” como força de expressão, então neste caso desconsidera a minha correção.

    Toda essa reflexão do Bragatto passa pela problemática do uso da tecnologia. Os pais de hoje precisam ficar em cima disso, penso eu. Mas do mesmo modo que há o extremo lado ruim da coisa, como o texto coloca bem e eu não preciso repetir, por outro viés eu percebo que o acesso facilitado a Internet pode permitir um leque de opções de entretenimento/conhecimento mais interessante do que o hábito de permanecer o dia todo em frente à televisão, absorvendo aquilo que a pessoa não escolheu.

  4. Guilherme Moura em maio 10, 2009 às 19:36
    #4

    Assiste esse vídeo fake :P
    É exatamente tirando onda desse reducionismo.
    140 pra quê ? vamos escrever em 20 chr$!!
    (via twitter!)

    @williampaiva Twitter já tá ultrapassado. O negócio agora é o Flutter: http://tinyurl.com/abogcw

    Fluffer
    As Twitter-mania reaches new levels, Slate V presents a mockumentary about a company that wants to take microblogging to the next level.

  5. Ana Morena em maio 13, 2009 às 10:35
    #5

    Pois é Felipe, usei os 20 anos pra dizer que foi pioneira. Vc tem razão foi por volta de 95 que surgiu a internet. Mas minha mãe tinha computador muito antes disso. Era um dos poucos da cidade.

    Sobre a essência acho que ela é a mesma sim, o que muda é o amdurecimento, a experiência, etc. Mudei muito na minha pre-adolescência pra adolescência. Talvez seja isso, como as criaturas se comportam como adolescentes com 25 anos na cara, eles ainda devem estar em transformação. O que eu passei no período dos 11 até os 17, eles ainda estão passando. É uma teoria, mas Infelizmente, eu não tenho muita paciência… Bragatto como é de uma geração anterior a minha tem MENOS paciência ainda! kkkkkkk

    E continuo achando que é uma questão de Educação. A internet é apenas uma ferramenta, MARAVILHOSA, e não pode ser responsabilizada por criar “adolescentes de 25 anos” leitores de 140 caracteres e cheios de pontos de exclamação e emotions de hoje em dia!

  6. bragatto em maio 17, 2009 às 15:11
    #6

    Adorei ver meus amigos do Hemisfério Norte postando aqui no site! Obrigado!

    É, Bruno, preciso frequentar mais esse mundo pra entender melhor…

    Ana, na verdade as gerações que se sucedem começam bem antes de a gente ver, não é só questão de idade, não. E a regra é ao contrário: quanto mais velho, maior a paciência. Prova cabal de que ainda sou um bebê!

    Felipe tem razão: a internet é ferramenta das boas. O ser humano é que, idiota, estraga tudo.

    Explica, Guilherme, porque eu não constumo ser um sujeito “clicável”.

    Abraços a todos!

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