Morrissey
Years Of Refusal
(Universal)
Morrissey já gravou mais que o dobro de álbuns como artista solo do que com os Smiths, mas qual deles é mais relevante que um “Meat Is Murder” ou um “The Queen Is Dead”? A pergunta perde o sentido porque, solo, Morrissey faz valer a máxima de que o que vale é a regularidade, e assim fica difícil apontar, entre os oito discos anteriores, algum abaixo da crítica. O cantor – agora cinquentão – não perde a vibe de compositor e de intérprete dos bons, sempre fazendo o rock simples e cativante que o projetou em sua banda de origem.
É evidente que, neste “Years Of Refusal” é a voz e o jeito de cantar que sobressai, como de hábito, mas não há como não dar importância à composições singelas como a bela “I’m Throwing My Arms Around Paris”. A música mostra como Morrissey circula muito bem em andamentos mais cadenciados ou baladas que nunca se concretizam como tal. Outra é a lenta “You Were Good In your Time”, encerrada por um enigmático diálogo, que pode agradar aos mais “sensíveis”.
Mas, à exemplo da excepcional “Boy Racer”, do álbum “Southpaw Grammar”, lançado há 14 anos, há porradas certeiras. Caso da dramática (já no título) “One Day Goodbye Will Be Farewell”, conduzida por uma bateria nervosa, ou ainda de “Sorry Doesn’t Help”, na qual Moz chega reproduzir um diálogo que explica o porquê de suas letras serem consideradas cinematográficas. Não chega a tanto, mas pequenos episódios sem conexão entre eles baseados em suas letras não ficariam atrás do clássico “A Vida Como Ela é…”, de Nelson Rodrigues. “I’m OK By Myself”, completa a tríade, além de encerrar o disco em alto astral como o título sugere.
Relacionamentos obtusos e não resolvidos continuam sendo a tônica. Só Morrissey intitularia uma música com “All You Need Is Me”, verdadeira declaração de auto convencimento. Ou ainda reconheceria que “estava perdendo o tempo em busca do amor”, como faz na charmosa “That’s How People Grow Up”, uma das melhores do CD. Solitário convicto, ele vive em busca do que tem a certeza de que nunca encontrará, mas jamais desiste; eis a razão de sua existência. E não pense que é recurso literário o uso de letras escritas em primeiríssima pessoa. A maternidade subliminar mostrada na capa aparece também em “Mama Lay Softly On The Riverbed”, um dos temas preferidos do cantor.
A participação de Jeff Beck na boa “Black Cloud” passa despercebida, e de novidade em termos de arranjos há o uso de trompete, que sobressai particularmente na hispânica “When Last I Spoke to Carol”, a “mais diferente” do repertório. Morrissey consegue, por fim, atingir a si próprio, num disco em que não é a apenas a marcante voz que o torna reconhecível a quilômetros de distância, mas toda a coleção de temas íntimos (e ao mesmo tempo universais) que tingem uma trajetória com um singular bom gosto.
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Morrissey é DEUS! Esse disco está 1000! Não se vê hoje em dia gente envelhecendo com tanta dignidade como ele. Um cara de 50 anos que ainda consegue ser relevante e citado por artistas que vão do metal ao pop mais léxico!