Imagem é Tudo

Queen + Paul Rodgers

Live In Ukraine
(EMI)

queenukraineO material desse DVD é mais que um registro histórico; é a prova irrefutável do improvável. Primeiro da longevidade de uma banda cuja existência seria impossível sem Freddie Mercury, seguramente um dois maiores vocalistas e frontman em todos os tempos. Depois, que essa mesma banda conseguiria voltar a gravar um grande álbum “The Cosmos Rocks” e a fazer turnês arrebatadoras ao redor do Globo, indo a lugares antes inalcançados (até por questões políticas) e atraindo multidões espetaculares.

Pois as cerca 350 mil pessoas que aparecem fotografadas na capa desse DVD compõem um visual gigantesco de rara beleza e interatividade de impressionar. A gigantesca Praça da Liberdade, na cidade de Kharkov, na Ucrânia, outrora estratégica para ações militares e manobras ditatoriais, dessa vez foi ocupada pelo povo para celebrar o rock como “cereja do bolo” de uma grande campanha de prevenção contra a AIDS - um problema tão grave por lá quanto no dito Terceiro Mundo. Um cenário assemelhado ao do Rock In Rio de 1985 que recebeu o mesmo Queen com proporções semelhantes. Não por acaso, músicas como “I Want to Break Free” soam como um verdadeiro brado por uma liberdade alcançada a cada dia, a cada um das 28 músicas tocadas em cerca de duas horas de show.

A apresentação, em setembro do ano passado, antecedeu aos shows realizados no Brasil, e o repertório é basicamente o mesmo, com a troca de uma ou outra música. A diferença está na grandiosidade do evento, que parece tornar o Queen, talhado para tocar para as massas, ainda mais incisivo e vibrante. Em meia hora e oito músicas tocadas direto, o grupo praticamente não dá um pio, mandando sucessos consagrados e cantados de cor e salteado por uma platéia surpreendentemente jovem. “The Show Must Go On” é outra que tem significado especial, e o primeiro grande momento do show vem com a emblemática “Love Of My Life”, jamais cantada em uníssono por um coro tão grande. “Eu já vi muita coisa na minha vida, mas nada que chegasse perto disso”, confessou Brian May, que levou a música sozinho, com seu violão.

Vê-se que na Ucrânia, diferentemente da liberdade estabelecida, o desvario tecnológico ainda não é tão grande como no Ocidente, a julgar pela quase ausência das indesejáveis câmeras que desviam a atenção do show em si e encrava a apresentação ainda mais no panteão da história do rock. “Say It’s Not True”, uma baladaça da nova formação, mas que é a cara do Queen, fala sobre o drama da AIDS que levou Freddie Mercury e é lembrada pelo batera Roger Taylor, que canta com imagens dele no telão. É também o momento de descanso para o gogó de ouro de Paul Rodgers, que reaparece dando tons dramáticos no meio da música.

Mas Rodgers também canta músicas de sua trajetória, como “Bad Company” (com o próprio), “All Right Now” (do Free) e “Feel Like Makin’ Love”. Junto com o tradicional solo de guitarra, Brian May toca a espetacular “Last Horizon”, provando que nada tem a dever aos grandes guitarristas de todos os tempos. Em “Bhoemian Rhapsody”, Freddie reaparece no telão, dessa vez cantando, num dueto do além entre música ao vivo e videoclipe – como esse blockbuster do rock poderia ser tocado, senão dessa maneira? É o momento mais grandioso e emocionante do show, que leva várias pessoas às lágrimas em meio à generosa multidão.

Como registro histórico de uma fase que já passou – Rodgers voltou para sua vida simples e o Dr. May aos estudos de física – o pacote traz também bem a versão em áudio em dois CDs idênticos ao DVD. O que mancha o material é a versão enxuta para “We Are The Champions”, cortada e que acaba soando mais como uma vinheta de encerramento de show do que mostra sua atemporalidade global como hino de todas as vitórias em todos os tempos e lugares. Mancha, mas não estraga o conjunto da obra de um dos grandes momentos da história do rock, da liberdade e (até) da Ucrânia.

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado