Rock é Rock Mesmo

Só dá AC/DC

Não tem bandinha emergente, não tem nova sensação do rock, não tem a maior banda de todos os tempos, não tem dinossauro em turnê de reunião, não tem Radiohead, Coldplay, U2 ou Pink Floyd.

Meus amigos, o show do ano já foi confirmado e agora o negócio e descolar a grana para comprar o ingresso porque barato é que não vai ser. Ainda mais com apresentação única em São Paulo, com o Brasil inteiro querendo ver esta que deve ser a última turnê do AC/DC. Sobretudo porque o vocalista Brian Johnson já disse que, aos 62 anos incompletos, não aguenta mais a pesada rotina de entrar e sair do palco quase toda a noite. Simplesmente não tem estrutura física, o corpo não suporta mais. Ele até havia combinado que esta Black Ice Tour duraria apenas até a metade do ano, mas foi traído pelos companheiros de banda e, quando viu, estava de novo entrando e saindo de aviões, pra cima e pra baixo, a serviço do rock.

Já falei isso umas trezentas vezes, mas não me canso de repetir. Não sei se vocês já reparam, mas o AC/DC, hoje, é a banda da moda. Não tem bandinha emergente, não tem nova sensação do rock, não tem a maior banda de todos os tempos, não tem dinossauro em turnê de reunião, não tem Radiohead, Coldplay, U2 ou Pink Floyd. Nem Beatles nem (com o perdão da citação) Michael Jackson. Ou, por outra, só esses dois últimos podem tirar onda com os escoceses/australianos. Sim, porque o único grupo que vende mais discos de catálogo que o AC/DC em todo o mundo (exceto nos Estados Unidos) são os Beatles; e o único disco mais vendido que “Back In Black” é – vocês devem saber – “Thriller”, do nefasto rei do pop. Até o aclamadíssimo “The Dark Side Of The Moon”, do Pink Floyd, já foi ultrapassado. É mole?

Vejam vocês, meus amigos, que estamos em tempos de internet, downloads e afins, e o AC/DC sequer se dá ao luxo de colocar suas músicas para venda online. O grupo já disse, um milhão de vezes, que não vende músicas, mas álbuns. Ante o desvario virtual, pede respeito aos seus álbuns, mesmo que venda o mais recente, o bom “Black Ice”, nas prateleiras da rede varejista Wal-Mart. Sim, embora taxem o AC/DC de dinossauro, a banda tem, de verdade, um álbum de inéditas na praça, não vive só de passado. E vende mais que água no deserto, assim como o catálogo de DVDs. Ninguém, aliás, vende mais DVDs, em todo o mundo, que a trupe de Angus Young. Como diria Milton Leite: que fase!

E o que faz o AC/DC para ser tão querido assim? Música de vanguarda? Revolução dentro da música pop? Um achado musical num mundo cada vez mais marcado pela repetição? Não, faz o bom e velho rock’n’roll. É vago para você? Sim, porque, desde que foi criado, o termo açambarca um rol enorme de referências, gêneros e subgêneros dentro da música. Só que, no caso do AC/DC, a expressão se encerra em si própria. Porque o grupo faz a mesma coisa desde sempre, e é por isso mesmo que todo mundo gosta. Nasce gente, morre gente, sai geração, entra geração e está lá Angus Young abaixando e levantando o tronco em coreografia ritmada, se estrebuchando no chão, correndo de um lado a outro e arriando a bermudinha ginasiana pra mostrar a bunda rala. Um script manjado, mas que todos querem ter por perto. Rock’n'roll, porra!

Há, no entanto, os dissidentes, aqueles que não enxergam, no AC/DC, “nada demais”. Ou, por outra, que vêem como demérito justamente aquilo que a maioria tem como vantagem. No lugar do plus a mais, optam pelo plus a menos. Acham, por equívoco, que, como ensinou o Mestre, toda unanimidade é burra, então é sinal de inteligência rejeitar o senso comum. Colocam-se assim, em condição de minoria que tende a zero, como se fosse possível aplicar, no rock, a teoria matemática do limite. Assim, a cada segundo que passa, vejo uma possibilidade cada vez menor de encontrar, entre os mortais, do Pólo Norte ao Pólo Sul, do Havaí à cordilheira dos Andes, alguém que se oponha à inapelável popularidade do AC/DC – repito - a banda da moda.

Vejam vocês que até o meu amigo Moderninho de Plantão deu o braço a torcer. Outro dia, circulando pelo Baixo Gávea, o encontrei de calças xadrez com boca apertada pescando siri, all star vermelho e uma camiseta meio acabada do Friendly Fires. Dizem que, desde o show do Circo Voador, há cerca de um mês, que ele não troca de estampa. Pois eis que, antes mesmo que iniciássemos mais uma calorosa discussão sobre as mais novas novidades novinhas em folha, sabe-se lá o porquê, entre um chope gelado e outro, o papo descambou para o AC/DC. E ele próprio atribuiu, meio a contragosto, a condição de fenômeno ao grupo. Pode parecer pouco, mas se até ele, dado ao culto do novidadeirismo e ligado em jornalistas alvissareiros, vê no AC/DC certo valor e lhe dá reconhecimento, quem mais pode ir contra o óbvio?

O tempo passa, o tempo voa e daqui a aproximadamente um mês o lançamento de “Black Ice” já vai fazer um ano. E nesse ano o AC/DC tem rodado o mundo dando trabalho aos bilheteiros e enchendo o bolso com a grana de gente de todas as idades que faz de tudo para conseguir os ingressos que se esgotam em questão de horas, minutos até. Em 2010 já há shows agendados e, segundo Brian Johnson, de julho do ano que vem sua aposentadoria não passa. É bem verdade que tudo é possível no mundo do rock – tanto ele voltar atrás quanto lhe arranjarem um substituto. Mas é aí que volto ao início para dar ao show do AC/DC, confirmado na segunda passada para 27 de novembro, em São Paulo, o status de inexoravelmente imperdível. Até lá!

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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