Alice In Chains
Black Gives Way to Blue
(EMI)
No mundo do rock, para uma grande banda fazer uma reunião basta que tenha se separado. Quando há a perda de um dos integrantes, sobretudo o vocalista, a coisa fica difícil, mas não impossível – vejam o caso do Queen. No do Alice In Chains chega a ser inacreditável que o grupo tenha encontrado alguém com o timbre de voz tão parecido com o de Layne Staley, morto em 2002, vítima de overdose de drogas. O trio remanescente demorou, fazendo circular vários candidatos em pequenos shows, até o guitarrista Jerry Cantrell perceber que William DuVall estava ali o tempo todo, tocando com sua banda solo. A semelhança entre os dois é espantosa e fundamental para este excelente retorno.
O quarteto poderia ter reiniciado os trabalhos de onde parou, isto é, no auto-intitulado álbum de 1996, mas, em vez disso, optou por fazer deste “Black Gives Way to Blue” uma espécie de tributo a si próprio, só que com músicas inéditas. Além de boas canções, arranjos cirúrgicos somados com a combinação das vozes de DuVall e Cantrell trouxeram o “espírito” do Alice In Chains renovado e atualizado – graças à boa produção de Nick Raskulinecz (Rush, Foo Fighters). Nada pode simbolizar mais o grupo do que o cantarolar que antecede os versos principais de “A Looking In View”, uma das melhores do disco e a primeira que circulou pela web. Ou ainda a inicialmente calma “Private Hell”, já no título ou pelos mesmos motivos no “uh huh” que antecede o denso e pesado refrão.
Da geração grunge, Soudgarden e Alice In Chains foram os que beberam mais diretamente na fonte do Black Sabbath, e aqui, mais do que em qualquer outro álbum, o grupo investe nos riffs ultrapesados e andamentos lentos e arrastados. Salvo exceções como “When The Sun Rose Again”, quase acústica, cheia de violões, o que sobra é (repita-se) o mais puro rock pesado e arrasado que foi ponto de partida para o inefável pós grunge de Creed, Nickelback, Puddle Of Mudd e afins. Só que com o padrão de qualidade que jamais tirou o Alice In Chains do primeiro escalão do grunge.
“Acid Bubble”, no entanto, deixa de lado a batida mais lenta ao receber uma mudança de andamento extraordinária. É como se um bucólico barco a passear por um lago num dia de verão recebesse abruptamente dos céus uma cruel tempestade, para depois voltar à calmaria. O artifício dá bem a noção do quão pesado está o som desse novo – por assim dizer – Alice In Chains. Outra que se destaca é o single “Check My Brain”, de irresistíveis riffs que imploram por solos que se intercalam, fornecendo ao ouvinte altas doses de peso, sem ceder a refrões óbvios. Impossível não escutar com o som no talo. “Lesson Learned” também pega por um bom riff, dessa vez com evoluções melódicas acima da média que também cativam sem muito esforço.
Curiosamente o disco é encerrado pela faixa título, espécie de tributo a Layne Staley, quase acústica e com um enfático teclado encomendado a Elton John. Não representa o cerne do grupo em nenhuma de suas fases, muito menos nesse disco, mas serve como fecho de um retorno penoso para todos os integrantes - por razões óbvias. Ao mesmo tempo, se conclui uma etapa que tinha que ser cumprida, deixa um leque de opções para o que virá, num disco que, de forma incontestável, supera até as melhores expectativas.
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Ótimo comentário, honesto. A marca do AIC é a variedade de riffs, solos… Mike Inex, por exemplo está tocando de forma bem diferente se comparado ao Tripod.