Chickenfoot
Get Your Buzz On Live
(ST2)
“Era come se estivéssemos no início das nossas carreiras”. A frase, dita em tom de animação por Sammy Hagar no meio desse o show, gravado em Phoenix, no Arizona, no ano passado, explica como deu certo a reunião de pesos pesados do rock em torno de uma nova banda. No documentário anexado, o guitarrista Joe Satriani usa o velho clichê da música pop para explicar: “foi química”. Os experientes músicos começaram a tocar juntos em estúdio, as jam sessions foram virando músicas, daí aí saiu o álbum de estreia e, na estrada, quase todas as músicas se re-transformaram em jams da pesada. É o que mostra, basicamente, este DVD, que bem poderia ter sido lançado antes mesmo do disco, ainda inédito no Brasil.
O repertório é praticamente o mesmo do CD, exceção feita à faixa “Running Out”, que ficou de fora, e à inclusão de “Bad Motor Scooter”, espécie de música símbolo do Montrose, banda que projetou Hagar, e de “My Generation”, do Who. Mesmo tendo dois ex-Van Halen no palco (além de Hagar o baixista Michael Anthony), nada de sucessos do grupo. E nem precisava. Músicas colantes cresceram muito ao vivo, como a ótima “Turnin’ Left”, talvez a mais parecida com o repertório do Van Halen. É nela que se percebe que, além de excelente baixista, Michael Anthony era o responsável pelas excelentes vocalizações de seu ex-grupo, fosse com David Lee Roth ou com Sammy Hagar na voz principal. A música ainda reserva um duelo guitarra x vocal, coisa rara para um vocalista de 62 anos.
Essa música é uma das poucas em que Joe Satriani se comporta como Joe Satriani, talvez para retirar dela um pouco do sotaque Van Halen. O guitarrista, esperto, aparece como personagens que o distanciam dele próprio. Em “My Kinda Girl”, outra da safra parece-Van Halen-mas-não-é, ele foge do seu jeito de tocar e aparece com estilo completamente diferente, num solo turbinado pela alavanca desgovernada. A música é outra que empolga o público, mesmo aparecendo no início do set. Em “Oh Yeah”, o single do CD, os músicos parecem participar de um desafio recíproco, no qual uma olha para outro esperando ver onde é o limite. Nessas horas realça a pegada pesada do baterista Chad Smith, muitas vezes ofuscada no caldeirão de referências do Red Hot Chili Peppers.
Há várias músicas cujo riff, ao vivo, causam uma transformação e tanto. É o caso de “Get It Up”, um petardo de tirar o fôlego que encontra um Michael Anthony solto e solando como uma criança. Não é que ele toque diferente em relação aos tempos do Van Halen, mas parece muito mais à vontade, inclusive para estalar as cordas com mais frequência e para fazer a clássica dobradinha coreografada com Satriani, o que agita ainda mais a performance no palco. No fim, ainda há tempo para, no meio da improvisação, uma ligeira citação ao Led Zeppelin. Com o repertório dissecado, sobra para o bis as já citadas “Bad Motor Scooter” e “My Generation”, que ganha um trecho do hino americano, cortesia de Satriani, antes de Chad Smith desmontar todo o kit de bateria.
No documentário, além de cenas de bastidores intercaladas, cada integrante aparece separadamente em entrevistas não convencionais, com inesperados perguntadores, mas acabam mostrando como, de fato, são. Satriani aparece tímido ao ser questionado por Nigel Tufnel, do Spinal Tap; Hagar se diverte com a sinceridade ao visitar Bob Weir, do Greatful Dead; e Michael Anthony é o fanfarrão acompanhado pelo comediante Adam Carolla, apresentador do programa de TV “O Mundo dos Machos”. Já Chad Smith foge do padrão e sai pelas ruas em busca de algum incauto que reconheça a banda e seus integrantes numa foto, coroando a diversão. Até Jimmy Page é apontado como membro da banda. Só faltaram mesmo as legendas pra coisa ficar divertida de verdade.
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