Turma da pesada
Com um ano de atraso chega ao Brasil, via DVD, o supergrupo Chickenfoot, formado por integrantes do Van Halen, Red Hot Chili Peppers e pelo guitarrista Joe Satriani; álbum de estreia foi disco de ouro nos Estados Unidos e banda deve passar pelo Brasil na próxima turnê. Fotos: Christie Goodwin/Divulgação.
Apesar dos compromissos de todos, sobretudo de Smith e Satriani, o grupo partiu para shows na Europa e pelos Estados Unidos, de onde saiu a ideia de lançar logo um DVD ao vivo, antes de gravar o segundo álbum. Detalhe: nada de músicas das bandas principais de cada um no repertório, o que ajudou a fortalecer ainda mais a imagem - sim – de mais um grande supergrupo na história do rock. “Get Your Buzz On Live”, diferentemente do disco de estreia, está sendo lançado no Brasil, e mostra a força de músicos experientes tocando juntos um surpreendente repertório que cresce muito em cima do palco.
Para saber mais sobre essa história, o Rock em Geral ligou para a casa de Michael Anthony, em Los Angeles, que acordou cedo para explicar tudo, tintim por tintim. O baixista gente fina falou da formação do grupo, da dificuldade de reunir todos os integrantes; de como foi duro superar a saída do Van Halen (banda na qual tocou durante 30 anos!); e da preparação do novo álbum, a essa altura já em andamento. De quebra, Michael Anthony prometeu a inclusão de clássicos do Van Halen na próxima turnê, além de já ter anotado no caderninho o nome do Brasil como parada obrigatória. Veja:
Rock em Geral: Vocês planejaram lançar esse DVD desde o início da banda ou tomaram a decisão depois que o CD teve grande aceitação?
Michael Anthony: Desde o cedo tínhamos câmeras por todos os lados, inclusive no estúdio, mas não sabíamos ao certo o que iríamos fazer, qual seria o próximo passo, só queríamos ter tudo registrado. Quando resolvemos fazer o DVD, achamos que deveria ser uma coisa que fosse legal para os fãs terem e guardarem. Eu sei que fizemos apenas um disco e uma turnê, mas nos divertimos tanto que achamos que deveríamos continuar, e o DVD é uma forma de manter a banda na mídia até que voltemos para gravar um novo disco.
REG: Por que vocês optaram por não incluir músicas das outras bandas de vocês para ampliar o repertório dos shows?
Michael Anthony: Nós não queríamos que os fãs se aproximassem atrás do nosso material antigo, logo na estreia. Sabemos que podemos sair e tocar esses sucessos, mas queríamos pessoas interessadas na nova banda, no Chickenfoot, nós quatro juntos, por isso não queríamos tocar nenhum material de nenhuma das nossas bandas do passado. Mas agora, na próxima turnê, com todo mundo familiarizado com a banda, podemos incluir músicas do Van Halen, da carreira solo do Joe Satriani ou do Red Hot Chili Peppers.
REG: Vou considerar isso como uma promessa, hein?
Michael Anthony: Sim, sim. Já conversamos sobre isso e também planejamos ir até a America do Sul. Infelizmente dessa vez não deu porque o Chad tinha compromissos já agendados com os Chili Peppers e não tivemos tempo para tocar em todos os lugares que queríamos. Espero que da próxima vez possamos correr o mundo, todos os lugares. Não sei se iremos logo ao Brasil, mas definitivamente iremos até aí. A última vez que eu estive aí foi com o Van Halen – meu Deus! - no inicio dos anos 80!
REG: O show que aparece do DVD é a íntegra de um show do Chickenfoot ou houve edição de mais de uma apresentação?
Michael Anthony: O que você vê é exatamente um show do Chickenfoot. Não temos nada para provar para ninguém, apenas tocamos direto porque adoramos fazer música e trocar para os fãs. No DVD você vê quatro caras se divertindo muito, tem muitos bônus…
REG: Fale sobre esses bônus…
Michael Anthony: Tem muitas cenas de bastidores, quisemos mostrar a personalidade de cada um separadamente, não só nós como músicos. Tem muita coisa engraçada, não quisemos nos levar tanto a sério nesse documentário. Crescendo como um fã de rock eu sei que todos gostam de ver cenas de bastidores, e é o que nós tentamos fazer para os fãs, como se fossemos nós vendo um vídeo de nossas bandas preferidas. (Clique aqui para ler a resenha do DVD)
REG: E as músicas que vocês incluíram no show que não estão no CD?Michael Anthony: Fizemos um pedaço de “My Generation” (The Who), mas nunca íamos para o palco com algo planejado. Durante a turnê tocamos coisas do (Jimi) Hendrix, tocamos “Bad Motor Scooter”, do Sammy Hagar, a única coisa que pertenceu a um de nós no passado, só porque ele queria tocar guitarra e essa música era perfeita para isso. Em alguns shows, nos Estados Unidos, fizemos “Highway Star”, do Deep Purple”… Tocamos músicas que adoramos e crescemos ouvindo.
REG: Falando da banda, como ela se formou e de onde saiu esse nome? Soa estranho, ainda mais se traduzirmos para o português (pé de galinha)…
Michael Anthony: Esse nome é estranho em qualquer lugar, pode acreditar! Chad e eu nos conhecemos há bastante tempo. Sammy tem o clube dele em Cabo Wabo, no México, e ele, Chad e eu tocávamos lá às vezes. Por alguma razão Sammy veio com esse papo de Chickenfoot, porque éramos três, sei lá. Acho que ele chamava outras bandas que tocavam lá de Chickenfoot também. Depois que integramos Joe ao grupo tentamos arrumar um nome para a banda. Acredite: nós não queríamos que fosse Chickenfoot! Mas com o tempo o nome vazou e foi se espalhando que estávamos formando uma banda chamada Chickenfoot. Depois de um tempo a galera que trabalha para mim apareceu com o logo e chegou uma hora em que falamos: vamos seguir com isso.
REG: Como a banda se formou?
Michael Anthony: Quando estávamos no estúdio não tínhamos a mínima idéia do que iríamos fazer, tudo o que sabíamos é que estávamos tocando juntos pela primeira vez para um show do Sammy Hagar. Ele estava fazendo uns shows em Las Vegas e queria fazer algo diferente para o bis e chamou Chad e eu para tocarmos junto com a banda dele. Sammy não queria tocar guitarra e chamou o Joe porque eles moram perto, e o Joe topou. Quando nós fizemos essa jam pela primeira vez foi algo mágico e decidimos seguir em frente.
REG: A escolha de Andy Johns para produtor do CD foi feita levando em conta que ele já tinha produzido discos do Van Halen (“For Unlawful Carnal Knowledge”) e do Joe Satriani (“The Extremist”)?
Michael Anthony: Chegou ao ponto em que precisávamos trazer alguém para gravar alguma coisa. E claro que o nome do Andy apareceu, quando trabalhamos com ele no Van Halen foi uma grande experiência e ele também tinha trabalhado com o Joe. Então pensamos que ele seria o cara certo para pegar essa banda
REG: Vocês poderiam ter produzido o álbum vocês mesmos…
Michael Anthony: Poderíamos, há muitas bandas que se autoproduzem, mas quer saber? É sempre bom ter um a opinião de fora, porque quando você compõe e toca um tipo de música, está muito perto do processo. No Van Halen, se produzíssemos os discos, a maioria das músicas teria dez minutos de duração! É preciso alguém que diga para limar essa parte, incluir essa outra. Achamos que Andy era o cara certo porque ele tem um ouvido muito bom para o rock’n’roll. Ele toca baixo também, sempre nos demos bem trabalhando juntos. A primeira coisa que ele disse foi que estava tudo funcionando muito bem, o que foi um bom sinal.
REG: O quão difícil foi gravar esse disco já que todos os integrantes estão envolvidos com outros bandas/projetos?
Michael Anthony: É uma coisa estranha mesmo. E - de novo - sequer sabíamos se faríamos um disco ou o que iria acontecer. Aos poucos fomos terminando seis, sete, oito músicas e todos falavam: vamos colocar isso num álbum. Não houve pressão ou nada do tipo, não precisávamos da grana ou de nada, estávamos curtindo. Quatro caras tocando juntos num estúdio e se divertindo. As pessoas falam que montamos um supergrupo, mas nós nem pensamos nisso, nem nos consideramos um supergrupo. Nunca pensamos assim: vamos chamar o Joe Satriani porque ele é ótimo guitarrista, vamos chamar o Chad porque ele é do Chili Peppers… Somos amigos e foi assim que a coisa nasceu.
REG: É fácil trabalhar com o Joe Satriani, ou, já que ele é um guitarrista com trabalho solo, fica sempre querendo colocar uma guitarra aqui e ali?
Michael Anthony: Eu acho que isso está sendo revigorador para o Joe. Sei que ele - depois de ler em entrevistas - disse no passado que sempre tentou trabalhar numa banda com um vocalista. Sei que ele iria aproveitar, porque ele não tem que ser o cara que faz tudo, as melodias, a coisa toda. Ele divide tudo com nós três. E Joe é um tipo de cara mais de estrutura, de arranjo das músicas, é um músico de verdade e muito bom num estúdio. Não faríamos nem a metade do que fizemos sem ele. Joe começa a tocar e diz: “vamos fazer assim, assim e assim”. Ele tinha uma abordagem sobre o que estávamos fazendo, pode perceber tudo o que está acontecendo na hora de transformar uma idéia em uma estrutura mais complexa.
REG: A pergunta é recorrente, mas inevitável: como comparar o trabalho de Joe Satriani com o de Eddie Van Halen?
Michael Anthony: (Suspiro) Os dois são grandes guitarristas, mas os estilos são obviamente diferentes. Joe é um músico mais arranjador, ele realmente tem a ideia completa do que está fazendo. Numa progressão de acordes, Joe diz exatamente como fazer, ele é muito musical. Já o Eddie é mais… ele não lê música, em pauta, simplesmente toca o que sente. Os dois são grandes guitarristas!
REG: Falando de algumas músicas que estão no álbum e também no DVD, a faixa “Turnin’ Left” é a que mais se parece com os tempos do Van Halen…Michael Anthony: Sim, sim, nós não nos esforçamos para que as músicas do disco não fossem parecidas com aquilo que já fizemos. É inevitável. O Chad, por exemplo, vai lembrar o Chili Peppers. Ele é um baterista de rock’n’roll, cresceu ouvindo bandas como o Kiss, que é uma das favoritas dele, mas toca muita coisa com groove, no estilo dos Chili Peppers, que o influenciou muito. O Joe, quando começa a solar, você sabe que é ele.
REG: É difícil para você e para o Sammy compor sem deixar que o resultado saia parecido com o dos tempos do Van Halen?
Michael Anthony: Quer saber? Eu não vou dizer que não pensamos nisso, se as músicas soariam como Van Halen. A maior parte das idéias apareceu sem o Joe, e eu, Chad e Sammy criamos e só começamos a improvisar. Uns meses depois reservamos o estúdio por uma semana e trabalhamos como uma banda. Não havia consciência alguma sobre isto ou aquilo, estávamos só tocando. Eu acho que quem ouvir o CD com atenção também vai lembrar outras sete ou oito bandas, como Deep Purple, The Who… É óbvio, porque é o tipo de coisa que escutamos.
REG: Falando de similaridades, em “Learnin’ to Fall” os vocais lembram muito os de David Coverdale…
Michael Anthony: Sério? (Gargalhada). Deixa eu contar isso ao Sammy… Não tínhamos certeza se deveríamos colocar uma balada no disco, tínhamos medo de não levarem a sério ou de ouvir comparações como essas com o Whitesnake. Mas é legal, é o que somos. Não queríamos tentar agradar aos outros, mas colocar no disco aquilo que nós realmente achávamos que fosse ficar legal. É uma grande música e acho que Sammy mandou muito bem nela.
REG: Vocês sempre falam que o Chickenfoot não é um projeto, mas, como você disse, o Chad já teve que sair para gravar o novo do Red Hot e o Satriani tá gravando o novo CD dele também. Você realmente acha que essa banda pode continuar?
Michael Anthony: Acho que sim. Se conseguimos fazer isso da primeira vez, conseguiremos fazer outras vezes, porque agora sabemos o que esperar um do outro, como funciona, como cada um reage. Da primeira vez, não sabíamos de nada, no que ia dar. Era tipo, o Joe ligava: acho que a partir dessa semana minha turnê acaba, vocês estão livres? Agora, não, podemos planejar tudo. Não queremos ser o tipo de banda que fica sempre trocando de integrantes e envolvendo músicos de outras bandas, ou só uma banda de estúdio. Queremos ser uma banda de verdade, mais do que só um tipo de supergrupo que se reúne de vez em quando. Infelizmente não sabemos o tempo que levará a gravação do Red Hot Chili Peppers, nem quanto tempo o Chad terá para gravar conosco e sair em turnê, mas vamos conversar para decidir o que fazer. Mas definitivamente vamos seguir em frente. Íamos sair em turnê no verão, tivemos varias ofertas, mas Chad não estaria disponível, então vamos fazer uns shows aqui nos Estados Unidos em setembro e depois voltaremos ao estúdio.
REG: Há músicas novas já adiantadas ou vão começar na improvisação de novo?
Michael Anthony: Temos uma quatro partes de músicas, algumas ideias desenvolvidas nas quais estamos trabalhando, tudo feito depois que o primeiro disco ficou pronto, são coisas bem novinhas. São musicas diferentes, mas são Chickenfoot, as pessoas vão reconhecer que são nossas. Não queremos mudar tanto aquilo de está dando certo.
REG: Ninguém esperava que você fosse deixar o Van Halen um dia, mas esse dia chegou. Como isso rolou, e como é para você estar numa banda que não é o Van Halen?
Michael Anthony: Em principio foi muito estranho. Eu me senti muito estranho de não estar no Van Halen. Entrei em 1974 e a última vez que eu toquei foi em 2004, 30 anos numa banda. É como um casamento ou algo do tipo. As coisas mudam, as pessoas mudam e infelizmente eles escolheram caminhos diferentes. Eles não gostaram de saber que eu estava tocando de bobeira com o Sammy, num momento em que o Van Halen não estava fazendo nada. Eu estava lá esperando eles me chamarem para fazer alguma coisa, shows, disco… Infelizmente não aconteceu desse jeito. É estranho no começo, tipo sair… Eu toquei em vários shows chatos com o Sammy, achei que eram muito longos… Precisava de tempo para perceber o que eu iria fazer, e, para minha sorte, veio o Chickenfoot. É muito bom, deu a sensação de que estou vivo de novo.
REG: Você e o Sammy conversam sobre a possibilidade de estar no Van Halen de novo?
Michael Anthony: Eu sou o tipo de cara que prometeu nunca dizer nunca. Se o tempo for o certo e se todos estiverem abertos, interessados no todo, certamente eu toparia. Mas eu não vou ficar esperando por isso, e felizmente agora eu estou focado no Chickenfoot. Se algo acontecer no futuro, estarei por aqui para ver o que acontece. Estou bem feliz agora, não há nada o que esperar.
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