Fazendo História

ZZ Top
Guitarra multiplicada

Trio legendário do Texas mostra virtuosismo a serviço do rock’n’roll. Resenha do show do Via Funchal, em São Paulo, no dia 21 de maio de 2010. Publicada na Revista Billboard número 9, de junho de 2010. Foto: Stephan Solon/Divulgação.

Dusty Hill e Billy Gibbons posam de dupla siamesa

Dusty Hill e Billy Gibbons posam de dupla siamesa

A paisagem de um show do ZZ Top remete a um desenho animado. Dois sujeitos de ternos pretos à la “Blues Brothers” com chapéus, óculos escuros baratos e barbas compridíssimas parecem fantasiados de uma inacreditável dupla siamesa. Atrás, uma bateria de design peculiar, com bumbos de interior giratório, completa o cenário simples e eficiente como o som praticado pelo trio, de formação inalterada - fato raro no mundo do rock - há mais de 40 anos.

Coadjuvado pelo baixista Dust Hill, Billy Gibbons mostra um jeito exuberante de tocar guitarra que supera o nicho do southern rock representado pelo trio. Utilizando uma timbragem diferenciada, ele saca do instrumento um som cristalino, às vezes distorcido, com uma naturalidade impressionante. Gibbons usa bem o virtuosismo – chega a tocar com uma mão só - sem jamais soar enfadonho, desfilando o repertório calcado no álbum “Live In Texas”, de 2008.

Em “Pincushion” as evoluções de guitarra multiplicam o instrumento; a versão de “Hey Joey” dá novas cores ao velho clássico eternizado por Hendrix; e “I’m Bad, I’m Nationwide” faz lembrar as twin guitars difundidas pelo Wishbone Ash, mas com uma guitarra só! Tudo isso acontece como se fosse coisa corriqueira, flagrando a duplinha Gibbons/Hill em coreografias ensaiadas quase em câmera lenta, enquanto, no som, o coro come solto. O baixista também faz das suas, cantando e em improvisos instrumentais como o de “Party On The Patio”.

Curiosamente, é só em “Just Got Paid”, já na parte final da noite, que Gibbons troca de guitarra. Ele sola descontroladamente, utilizando o efeito slide guitar, num dos melhores momentos da noite, que só seria superado por causa dos hits deixados estrategicamente para o fim. Caso de “Gimme All Your Lovin’”, cantada também pelo batera Frank Beard; do hit “Legs”, com baixo e guitarra enfeitados com penas; e da dobradinha “La Grange”/“Tush”, já no bis, ambas com riffs irresistíveis, responsável por colocar o público de pé. Um desfecho e tanto para uma noite memorável.

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