Ozzy Osbourne não grava mais discos como antigamente. O primeiro em que ele participou, o clássico fundador do heavy metal “Black Sabbath”, foi feito em dois dias e – dizem – custou reles 600 Libras. “Scream”, 40 anos depois, levou uns seis meses para ficar pronto, de acordo com o próprio Ozzy. Agora ele é um rock star (é a frase que abre o CD, na assustadora “Let It Die”) e também um senhor de sessenta e poucos anos, milionário e que tem um estúdio dentro de casa. É lá que trabalha o produtor Kevin Churko, parceiro de Ozzy desde o disco anterior, o apenas razoável “Black Rain”, de 2007. Agora, a dupla parece mais afiada e em sintonia com a trajetória de Ozzy.

A novidade no álbum, entretanto, é a entrada do guitarrista Gus G, que substituiu Zakk Wylde, com quem Ozzy trabalhava há cerca de 20 anos. Tanto tempo que, se a informação não tivesse vindo a público, seria fácil dizer que as guitarras de “Scream” ainda são de Wylde; não foi dessa vez que Gus G mostrou ao que veio, certamente porque Ozzy/Churko devem ter enquadrado o garoto. Ele, de seu lado, cumpriu a tabela. Por isso não se vê, na maior parte de “Scream”, solos espetaculares, evoluções das mais criativas, só o trivial – e isso, pode acreditar, não é pouco. Porque Ozzy sabe que um bom disco de rock pesado deve ser um disco com bons riffs (também, pudera, foi criado com Tony Iommi), e “Scream” tem riffs de sobra.

Um deles é o de “Diggin’ Me Down”, música que, embora comece com um dedilhado disfarçante (lembra as viagens do auge do Black Sabbath), é a cara da carreira solo de Ozzy. Ele próprio, aliás, define muito bem o disco como uma mistura entre Sabbath e a carreira solo – parece óbvio, mas a frase resume “Scream” com precisão. “Soul Sucker”, que quase foi o título do CD, é lenta, arrastada, pesada… Sabbática; enquanto “Life Won’t Wait”, segundo single, é baladaça do naipe de “Mama I’m Coming Home”. “Let It Die”, de seu lado, está no meio do caminho entre uma coisa e outra.

Gus G, sim, faz das suas. Em “Crucify” ele solta a mão, resultando num riff bem desenvolvidos, evoluções escondidas e muitos solos, costurados por Churko em vários trechos da música. Gus também vai bem na ótima “I Want It More”, de novo com um riff enriquecido e guitarras salpicadas curiosamente casadas com os teclados de Adam Wakeman – sim, filho de Rick. A faixa mais colante do CD é, de fato, o primeiro single, “Let Me Hear You Scream”, carregada com um groove para encantar o mais comum dos cidadãos e – se bobear – fazer sucesso até nas pistas.

Além de ser quem alinhava todo o disco, Ozzy mostra sua marca com um vocal inacreditavelmente em forma, em que pese comparações com outros vocalistas que lhe são contemporâneos. É verdade que a voz que emblematiza o heavy metal nunca foi de buscar as notas mais altas, mas marcou pelo tom e timbre característicos que o tempo não consegue modificar. Não seria exagero dizer que, em disco, a voz de Ozzy é a mesma de 20 anos atrás: continua facilmente reconhecível. E Ozzy, a despeito de ser um sexagenário, com paciência e cercado das pessoas certas, ainda consegue fazer bons discos como este “Scream”.

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