O Homem Baile

Chega de saudade

Na noite de encerramento, a diversidade permanece no Se Rasgum: Madame Saatan (foto) celebra caldeirão do peso, Los Porongas revive Legião Urbana e The Slackers arremata festival com madrugada dançante. Fotos: Fotos: Thiago Araújo (1), Renato Reis (2) e Well Maciel (3)/Divulgação.

Longe da cidade natal há um ano, o Madame Saatan veio ao Se Rasgum desse ano para detonar

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Havia um clima de saudade no ar. De tanto se destacar na cena rock de Belém, o Madame Saatan se mandou para São Paulo para tentar a sorte. Enquanto corre atrás de apoio para a gravação do segundo disco, o grupo deu um pulinho aqui em cima para tocar fogo no encerramento do Festival Se Rasgum. Pela tradição era para ser a noite mais pesada do evento, mas quem falou que é assim que acontece na capital paraense? Tanto que teve espaço para o Los Porongas reviver a Legião Urbana junto com Dado Villa-Lobos, e para o ska/rock steady dos americanos do The Slackers varar a madrugada.

Dentro do palco interno do aconchegante African, o cenário que se anunciava estava armado. Centenas de fãs se acotovelavam na beirada do palco reforçado por seguranças extras para dar conta do recado. O gostinho foi dado no show anterior, quando a bela vocalista Sammliz participou do show de guitarrada de Pio Lobato. Mas a guitarra que o público queria era outra e ela chegou rascante, a reboque de riffs pesados – parece que deram um súbito up grade no PA – que de imediato iniciaram o bater de cabeças que só seria interrompido nos moshs que começaram a proliferar.

Ao vivo, o Madame Saatan mostra uma força pouco evidenciada em disco, a custa da potência sonora de uma banda muito entrosada, e da inesperada performance de vocal feminino à frente de uma banda pesada. Mas também salienta os mesmos defeitos notados no CD. Não é de boas composições que o grupo vive, mas de evoluções de guitarra, riffs e levadas encontradas com facilidade dentro dos subgêneros do heavy metal. Não é preciso ser um conhecedor amiúde de música pesada par identificar, aqui e acolá, Rage Against The Machine e metal bete-estacas dos anos 90, Red Hot Chili Peppers e outras referências mais classudas. Pouco importa, pois no comando está Sammliz, que encerra o show como uma amazona galopando nas costas de um segurança no meio da multidão. E é disso que o povo gosta.

Gosta também de reviver a era de ouro do rock nacional, tão bem referenciada pelos Porongas. O vocalista Diogo Soares quase politiza o show ao reclamar do “preconceito do eixo”, já que grupo é do Acre, e cita até o bordão “longe demais das capitais”, do Engenheiros do Hawaii. Nem precisava. Era uma noite de celebração e a banda tem lá seu público em Belém, que canta quase tudo - a boa “Ao Cruzeiro”, que abre o show com um som bem arrumado, é praticamente um hit local. Dado Villa-Lobos entra no palco tocando uma guitarra pesada que nunca emprestou ao Legião. De cara levam “Mais do Mesmo”, com a vantagem de Diogo não pagar de Renato Russo. Pena que só tocaram mais uma da LU, no final. Ao menos foi “Tempo Perdido”, a mais contundente música sobre juventude de que se tem notícia.

Goleada dos clichês

Dado Villa-Lobos e Diogo Soares, do Los Porongas: Dobradinha que funcionou e reviveu a Legião

Dado Villa-Lobos e Diogo Soares, do Los Porongas: Dobradinha que funcionou e reviveu a Legião

No início, bem que a noite parecia ser de novidades. O local Projeto Secreto Macacos abriu os trabalhos com um inesperado som instrumental. Não de trio, como tem sido comum no cenário brasileiro, mas com duas guitarras pesadas e distorcidas e um telado saturado dos mais interessantes – viria ele do inefável tecnobrega? Em vez de ofuscar, realçava as guitarras num resultado dos mais interessantes. O grupo acabou se saindo como uma das boas promessas dessa edição do Se Rasgum. Metido a rock dos anos 00, Paris Rock iniciou os trabalhos no palco principal mostrando a referência comum – e danosa, diga-se – às bandas contemporâneas: a vocalização terrível oriunda do Los Hermanos. Primeira providência: corrigir ou arrumar outro vocalista.

Mas era uma noite de clichês, e eles ficaram evidentes com o local Bruno B.O., espécie de Planet Hemp local, que – segundo consta – há 16 anos não sai do mesmo lengalenga; com o veterano Delinquentes, cujo ponto de honra foi a abertura das maiores rodas de pogo de todo o festival, a custa de um hardcore porrada; e Pio Lobato, que manteve a guitarrada em pauta dando a certeza que falta só um pouquinho para o gênero ser matéria prima para algo mais – digamos – cativante. O caminho do pop é o mais óbvio, mas a virtuose pode ser uma opção para fugir do beco sem saída de se encerrar em si próprio. E não dá pra não incluir o bombado Emicida no rol das repetições. Embora tenha carisma, o rapper fica no remi-remi lugar comum do segmento, mesmo porque – ao que parece - o forte dele é o improviso. Podem apostar um real.

Curiosamente o grupo menos lugar comum da noite não foi o mais atraente. O Graveola e o Lixo Polifônico – já no nome – denuncia aquele típico coletivo de integrantes sem saber para onde ir que não consegue formatar uma sonoridade e alega pluralidade musical para se impor. Podem colocar o grupo junto no rol do terrível – e também mineiro – Porcas e Borboletas: eita tem ruim, sô! Quando o Dubalizer chegou depois de problemas logísticos, na alta madrugada, o público já era escasso, mas também não perdeu nada: os caras ainda têm que melhorar muito para não carregar a pecha de grupo amador. Também, que chance teriam depois do verdadeiro bailão de ska promovido pelos simpáticos veteranos do Slackers?

Direto de Nova York, o ska do Slackers transformu o Se Rasgum num bailão dos bons

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Placar Rock em Geral:

The Hell’s Kitchen Project: 5,0
Dona Onete: 7,0
Felipe Cordeiro: 7,5
André Abujamra: 7,0
Dharma Burns: 6,0
Mostarda na Lagarta: 4,0
Lê Almeida: 6,0
Soatá: 7,0
Cabruêra: 8,0
Graforréia Xilarmônica: 8,0
Odair José (SP) + Dead Lover’s Twisted Heart: 3,0
Nelsinho Rodrigues: 4,0
Cidadão Instigado: 9,0
Félix e Los Carozos: 5,0
Otto: 7,0
Projeto Secreto Macacos: 7,5
Paris Rock: 6,0
Bruno B.O: 5,0
Delinquentes: 8,0
Graveola e o Lixo Polifônico: 3,0
Emicida: 5,0
Pio Lobato: 7,0
Los Porongas + Dado Villa-Lobos: 8,0
Madame Saatan: 9,0
The Slackers: 8,0
Dubalizer: 5,0

Veja como foi a primeira noite do Festival

Veja como foi a segunda noite do Festival

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Bruno B.O. em novembro 15, 2010 às 17:14
    #1

    Os incomodados que se explodam mano, e viva o “lenga lenga” das ruas de Belém!

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