Perplexidade geral
Resenha dos shows que o Sepultura fez no Imperator, no Rio, nos dias 8 e 9/11/1996. Pouco tempo depois a banda anunciaria a fatídica separação. Publicado na Rock Press número 6, ainda em tablóide. Foro: Marcos Bragatto.
Assistir ao show do Sepultura resulta em, no mínimo, uma constatação. Do beco sem saída em que se meteu o heavy metal em todo o mundo, e dentre as vertentes que surgiram para sua renovação, o caminho escolhido pelo Sepultura é, sem sombra de dúvidas, o que mais reúne novas tendências, e que, consequentemente, representa o mais inovador e ousado passo para a evolução dessa vertente do rock.
Tudo o que surgiu de novo no meio nos últimos anos está ali naquele palco. Os riffs pára-continua do Helmet; os samples do Ministry; o peso semi-eletrônico do Prong; o hardcore nova-iorquino do Biohazard; os vocais e as levadas do rap… Enfim, tudo o que se adicionou ao heavy metal desde o surgimento e a queda do thrash está ai representado. Os tambores e levadas rítmicas vêm, não só da participação de Carlinhos Brown, mas também da banda carioca Gangrena Gasosa, precursora do “sarava metal”, e da qual o grupo é fã. Pareceria até um show de covers, não estivesse tudo isso liquidificado com a garra, a cara e a agressividade de uma banda acostumada, desde sua origem, a “quebrar regras”.
Diferentemente de outros shows da turnê mundial, onde o palco é dividido com outras atrações, o Sepultura teve tempo para tocar mais canções “antigas”, o que fez com muita propriedade. A maioria das músicas do álbum “Arise” para trás foi literalmente executada em uma velocidade jamais vista, a ponto de a banda passar de uma para outra sem que boa parte do público percebesse. Até coisas como “Escape to the Void” e “Necromancer”, da primeira demo e do primeiro álbum, que quase ninguém conhecia, estiveram presentes no set. As incursões de tambores, berimbaus e afins, assim como em “Roots”, não tiraram o peso do show, que teve o ponto alto em “Polícia”, na versão definitiva para “Orgasmatron”, em “Refuse/Resist”, e na participação do Ratos de Porão (que abriu os shows) em um cover do Discharge.
Altamente tribal e percussivo, o show faz do batera Igor Cavalera o personagem principal. Coadjuvado pelo irmão Max, que por sinal voltou à boa forma, Igor está possesso. Concentrado como se fosse uma máquina, tem com sua bateria horizontal e de poucos pratos uma performance veloz, com batidas precisas e firmes, poucas vezes vista em outros grupos do gênero. De resto, o que se viu foi a perplexidade tomar conta das pessoas.
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