Silverchair
Resenha do show do ATL Hall (atual Citibank Hall), realizado em 14/5/2003. Publicado na Rock Press. Fotos: Marcos Bragatto.
Primeiro foi no Close Up Planet, em 1996. Depois no Rock In Rio, em 2001, quando roubaram a cena na última e mais cheia noite do festival. Já estava na hora de os brasileiros verem um show completo do Silverchair, antes que a banda acabe, seja por problemas de saúde do vocalista e guitarrista Daniel Johns ou pelas profundas mudanças pelas quais o grupo vem passando a cada disco.
Só para se ter uma idéia, do álbum de estréia, quando tudo era coadjuvação do grunge, nenhuma música foi tocada, apesar dos insistentes pedidos da platéia por “Tomorrow”. Com a coragem de poucos grupos que obtêm sucesso no universo pop, nada menos que oito músicas do último álbum, “Diorama”, foram incluídas no set list. Em “Emotional Sickness”, logo a segunda, do álbum “Neon Ballroom”, Daniel já disse ao que vinha, comandando uma verdadeira jam session durante o solo de guitarra, fato que se repetiria num show em que o guitarrista – que entrara no palco com um terninho démodé-, solou com os dentes, tocou piano e se acabou sobre ele com a guitarra, como se fossem, ambos, um casal de amantes, e ainda arrancou suspiros ao expor seu anoréxico peito nu. Mas arrancar suspiros era a coisa mais fácil da noite, quando até Tico, o vocalista do Detonautas, que na abertura, diga-se de passagem, não conseguiu levantar o público, percebeu ao anunciar a atração seguinte.
Além de baladas (belas) como “Without You” e “Ana’s Song (Open Fire)”, que têm apelo popular, mas desagradam os críticos mais ortodoxos, algumas músicas justificaram para todo o sempre a pecha que o Silverchair levou de ter “tirado o melhor som de guitarra” no Rock In Rio. Foram elas “Anthem For The Year 2000”, “Freak” e “The Door”, as duas últimas do álbum “Freakshow”. No bis, um possesso Johns detonou tudo, atirando pedestal e guitarra para onde o nariz apontava, numa performance ensaiada, sim, mas absolutamente visceral.
Mas o que ficou foi mesmo o completo amadurecimento do grupo, refletido já em “Diorama” e também no palco do ATL, onde o grupo contou com dois tecladistas que reproduziram os climas de orquestra criados por Johns em estúdio, durante cerca de uma hora e meia. Esse estágio ratifica a distância abissal que se estabelece entre os três pré-adolescentes que imitavam Nirvana em meados da década passada e a grande banda de rock que ora se apresenta. Tão grande a diferença que Daniel Johns já admite o fim, tão precoce quanto o surgimento, de uma das maiores bandas de rock dos últimos tempos. Tão grande que parece que não vai durar tanto. Tão grande a sorte dos brasileiros que puderam vê-la em todas as suas fases.
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Por uma série de fatores e contextos pessoais, é a banda da minha vida. Tive a sorte de assistir ao show (e tietar a banda no hotel - ah, a adolescência…) e posso dizer que nunca vi apresentação melhor. É a única banda que posso escutar diariamente, sem enjoar. Mas que os projetos solos possam nos trazer boa música também. Mas confesso que estou de coração partido!
Acho que este set é do DVD ao vivo deles da tour e não do show que ocorreu no ATL Hall.
Tem razão, Jonas. O próprio texto contradiz a lista, retirei o set list. Obrigado!
Grande Bragatto, só uma correção : o nome correto da música é “Emotion Sickness”, e não “Emotional Sickness”.
Valeu !