O Homem Baile

‘Um Oasis’ no Circo Voador

Presença do Beady Eye, nova banda de Liam Gallagher, promove adaptações no templo do rock carioca; grupo supera apatia do show do Planeta Terra. Fotos: Felipe Diniz/Divulgação.

Liam Gallagher encara a entusiasmada plateia carioca e não decepciona como no show do Planeta Terra

Liam Gallagher encara a entusiasmada plateia carioca e não decepciona como no show do Planeta Terra

O Circo Voador estava diferente. Um pórtico colorido na entrada para se passar por debaixo. Um palco secundário tão bonito, do lado de fora da lona, que mais parece uma instalação artística modernosa. Um quiosque do lado direito cheio de computadores e gente conectada. À esquerda, latas de colorjet para pintar letras grandes, e uma Kombi estacionada expondo roupas no escuro. Junto ao palco – acredite se quiser - uma daquelas barricadas para separar o público. E, sobre ele, uma quantidade de monitores de som e equipamentos jamais vista no local. O enigma pode ser decifrado por conta de um grande patrocinador que o pessoal do @queremos descolou para o “Eu Quero Festival”, micro versão do gigante Planeta Terra. Mas não se engane, a razão disso tudo é uma só: o Circo recebe Liam Gallagher, um legítimo Oasis.

É dura a vida de quem já tocou para estádios lotados nos quatro cantos do mundo e tem que recomeçar com uma bandinha nova, mas Liam encarou essa e o Beady Eye vai muito bem, obrigado. Embora tenha reclamado o tempo todo do som, sobretudo da fileira de retornos que estavam à sua frente, com os técnicos que ele mesmo trouxe da Inglaterra, Liam pareceu satisfeito com a parada. Se dirigiu várias vezes especificamente a fãs no meio da multidão, mandou beijinhos e até presenteou um deles com um dos microfones usados no show. Mais do que isso. Cantou bem pacas e agradou a platéia que, se não grita seu nome, manda o corinho preferido da noite: Biri-ai! Biri-ai! Biri-ai!

Liam solta a voz em sua pose característica

Liam solta a voz em sua pose característica

Esqueçam a apatia dos cinquenta minutos do show de sábado, no Planeta Terra. O de ontem foi a versão completa da apresentação, com mais de uma hora de duração e 17 músicas, com direito a bis e tudo. E que bis. A ótima “World Outside My Room”, lado B de um dos compactos do grupo, e uma versão sensacional de “Sons Of The Stage”, resgatada do grupo oitentista britânico World Of Twist. Um palco com projeções psicodélicas garantiu a hipnose que a música sugere, e a letra até que representa bem a renúncia à viuvagem adotada por Liam, que, no Beady Eye, não toca nada do Oasis.

Bem, mais ou menos. Se não há no set list nenhum clássico de sua ex-banda, também não se pode negar que certas músicas, sobretudo as baladas e as mais lentas, são Oasis da cabeça aos pés. É o caso da ótima “The Beat Goes On”; de “Kill for a Dream”, que leva o público a um belo cantarolar; e também de “Milionare”, cujas guitarras melosas reproduzem um efeito slide guitar sem dedal. No fundo, no fundo, o que parece é que, no afã de gravar logo um disco sozinho, sem o irmão Noel, compositor de mão cheia, Liam rapou o tacho das canções ou esboço de canções que seriam do Oasis, e as transformou em músicas do Beady Eye. Usou um tempero mais anos 50, pré-Beatles - tudo que os irmãos Gallagher fazer vem dos Fab Four – e embalou para viagem. Dá certo na maior parte do tempo, mas, no fim das contas, o que se tem é, de certa forma, o pior do Oasis. O que não chega a ser ruim, convenhamos.

O show começa bem, com “Four Letter Word” e tem ainda as “cinquentinhas” “Two Of a Kind” e “Beatles And Stones”. “Standing on the Edge of the Noise” é uma das melhores do meio do show, com Liam usando muito eco na voz e mostrando satisfação com o resultado, assim como “In The Bubble With a Bullet”, lado B do single “The Beat Goes On”. Como se vê, muitas músicas que não estão no álbum de estréia, “Different Gear, Still Speeding”, poderiam estar. O palco tem holofotes virados para a plateia, na frente e um pano branco que recebe projeções que aludem à maior parte das músicas. Toda a parafernália é da (ou alugada para a) banda, o que não impede Liam de classificar o equipamento como “fucking shit”, no final, mesmo garantindo que volta no ano que vem. Mas com o Beady Eye ou com o Oasis?

Nunca o palco do Circo Voador recebeu tanto equipamento de uma só banda

Nunca o palco do Circo Voador recebeu tanto equipamento de uma só banda


Resta saber se o cotista que contribui com o show (realizado no esquema do crowdfunding) também queria assistir aos shows de abertura, inicialmente não incluídos no pacote, nem mesmo no disputado cartaz do show. Especialmente o Holger, espécie de Vampire Weekend do Tietê, que mais parece um amontoado de “músicos” tocando, cada um, uma coisa, sob um viés de mau gosto sem limites. Já ao Driving Music, único a tocar no estreante palco secundário, coube aquecer aos primeiros que chegaram ao local e não quiseram se amontoar na grade do palco do Beady Eye. Ainda bem cru, o grupo é um protótipo de banda indie, cujo vocalista precisa melhorar com urgência. Retirar pandeiros e maracas do palco também é uma boa providência.

Set list completo Beady Eye:

1- Four Letter Word
2- Beatles And Stones
3- Millionare
4- Two Of a Kind
5- For Anyone
6- Three Ring Circus
7- The Roller
8- In The Bubble With a Bullet
9- Bring the Light
10- Standing on the Edge of the Noise
11- Kill for a Dream
12- The Beat Goes On
13- Man of Misery
14- The Morning Son
15- Wigwam
Bis
16- World Outside My Room
17- Sons Of The Stage

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Paulo Henrique em novembro 9, 2011 às 15:35
    #1

    É “Different Gear, Still Speeding”. :D

  2. Marcos Bragatto em novembro 9, 2011 às 16:00
    #2

    Corrigido, obrigado!

  3. Keila Beckman em novembro 13, 2011 às 22:54
    #3

    Só pra constar… sou eu a garota a quem o Liam deu o microfone… ;)

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