Ver Joan Jett no palco usando aquele macacão avermelhando purpurinado, calçando um all star preto com uma guitarra surrada dependurada no pescoço é o que se pode chamar verdadeiramente de um encontro marcado com a história. Com a carreira re-alavancada pelo sucesso do filme “The Runaways”, sobre sua banda de origem, lançado em 2010, Jett voltou às páginas dos jornais e acabou vindo a Brasil na edição de esteia do Lollapalooza BR, onde toucou antes do Foo Fighters, atração principal de sábado. Com o Blackhearts, a banda a acompanha há mais de 20 anos pelos cafundós dos Estados Unidos, a cantora mostrou clássicos de sua carreira e até testou músicas novas de um inevitável novo álbum de inéditas; isso se a “alergia” deixar…

O som é simples: hard rock de raiz com pegada punk e sotaque pop. Daria até para chamar a banda de Ramones de saias – e as músicas novas têm um sotaque punk de raiz latente -, mas a visceralidade ali é muito grande para isso. Joan Jett personifica, emblematiza tanto o rock propriamente dito que seria uma heresia diminuir sua persona rude, rock’n’roll da cabeça aos pés. Um terrível erro da produção do festival, que deixou Joan Jett a quilômetros de distância - de verdade - do show do Foo Fighters, quando deveria ser a atração imediatamente anterior no Palco Cidade Jardim, reduziu consideravelmente a quantidade de público em frente ao Palco Butantã. Plateia que ia diminuindo com a debandada para o outro lado, embora o show só crescesse em intensidade.

No palco, sem dó, estavam lá os intangíveis clássicos do rock como “Cherry Bomb”, das Runaways, e “Bad Reputation”, que abriram o set, além de “I Love Rock’n’roll”, o cover do The Arrows que todo mundo pensa que é de autoria de Joan Jett, dada a identificação da canção com a moça. A música, tocada já no final do set, é um dos grandes momentos do show, mas determina a debandada definitiva para o Palco Cidade Jardim, onde todas as 70 mil pessoas da noite queriam ver o Foo Fighters (veja como foi o show). Quem partiu antes acabou perdendo a excelente “I Hate Myself for Loving You”, um sonzaço guiado por um riff pesado, cheio de groove e grudento do início ao fim, que fechou o set, antes do bis. Sem dúvida uma das grandes músicas do rock em todos os tempos. Outros hits que embalaram a festa rock foram “Do You Wanna Touch Me”, de Gary Glitter, e a baladaça “Crimson and Clover”, da açucarada dupla Tommy James & The Shondells. Como se vê, a face intérprete de Joan Jett é forte e ajuda a explicar o sumiço da moça.

Por isso, agora, a cantora não pode se esquivar e tem que, aproveitando o hype em torno de si própria, por um novo trabalho no mercado. E, a julgar pelas músicas novas apresentadas ontem, com a letra ainda lida num púlpito improvisado, a coisa pode dar muito certo. É o caso da impagável “Hard To Grow Up”, uma peça ramônica sobre um adolescente com dificuldade para madurecer, escrita por alguém que já passou das 53 primaveras! Outra das novas de encher os olhos (e ouvidos) é “Reality Mentality”, também com dois pés na saga dos Ramones. É impressionante como os Blackhearts têm, não só no visual, mas uma pegada punk 77 que parece inabalada 35 anos depois, e o mesmo se aplica a Jett, que – diga-se – descabelou as menininhas que se alinhavam na fila do gargarejo. Ah, esse tal de rock’n’roll…

O Lollapalooza continua neste domingo, tendo como atração principal o Arctic Monkeys, e ainda há ingressos disponíveis. Clique aqui para saber absolutamente tudo sobre o festival.

Set list completo

1- Bad Reputation
2- Cherry Bomb
3- Light of Day
4- Do You Wanna Touch Me
5- Victim of Circumstance
6- You Drive Me Wild
7- The French Song
8- Love Is Pain
9- TMI
10- Hard To Grow Up
11- Naked
12- Fake Friends
13- Reality Mentality
14- I Love Rock ‘n’ Roll
15- Crimson and Clover
16- I Hate Myself for Loving You
Bis
17- A.C.D.C.

Tags desse texto: Joan Jett, Lollapalooza