Figura carimbada na festa A Grande Roubada, coube ao Matanza fechar a noite de comemoração de quatro anos do evento, ontem (14/6), no Circo Voador. A data coincidiu com o lançamento do novo clipe do grupo, “Mulher Diabo”, que foi vazado mais cedo, durante o dia, e em seguida censurado pelo youtube (saiba mais). O bem articulado Jimmy London não perdeu a deixa: “A gente demora para fazer um clipe foda e aí o youtube censura por causa de uns peitinhos?”. Foi a senha para uma fã mais atirada subir nos ombros de outro e sacar, de uma vez só, blusa e sutiã, como nos bons tempos dos festivais de rock. Só faltou o chifre e o rabo para incorporar de vez a personagem, e a noite do Matanza começava bem.

Outro momento que marcou a noite foi a elogio vigoroso do vocalista aos participantes das manifestações de rua, nova coqueluche da juventude classemediana. “O Matanza sempre passou reto em política, mas temos muito orgulho der vocês”, disse Jimmy, em dúvida se aproveitava o tempo tocando mais músicas, além das 32 (!) programadas, ou se ficava no que chamou de “blá blá blá”. E é nessa mistura de diversão e porradaria que o show do quarteto satisfaz plenamente uma horda de malucos beberrões identificados, de um jeito ou de outro, nas letras das músicas, que não para de agitar. Cada sequência tem em geral umas quatro, cinco músicas emendadas num gás de matar. As falas do vocalista são meros tempos técnicos para que tudo recomece, durante cerca de uma hora e quarenta minutos de diversão.

O repertório teve ligeiras mudanças em relação ao do show de dezembro, no Matanza Fest, no mesmo local (veja como foi), mas continuou incluindo as músicas do disco “Thunder Dope”, lançado no ano passado. Cinco das 13 foram tocadas, sem muita reação por parte da plateia, diga-se, só a porradaria “de rotina”. O público se esbalda mesmo é com a ousada “Eu Não Gosto de Ninguém”; “O Chamado do Bar”, com resposta imediata de braços erguidos em coreografia espontânea; na romântica “Tempo Ruim”, que realça o número cada vez maior de mulheres nos shows do grupo; em “A Arte do Insulto”, cantada em uníssono; e na desenterrada “Santa Madre Cassino”, entre outras. Para se ter uma ideia do alvoroço, a clássica “Ela Roubou Meu Caminhão” foi simplesmente a segunda da madrugada; o show começou depois de uma da manhã.

Antes, o Gramofocas bem que tentou, mas, talvez por ter ficado tanto tempo longe do Rio, não conseguiu reunir tanta gente assim na beirada do palco. O grupo – se você não conhece – é fincado no 1, 2, 3, 4 do Ramones e tem braços no rockabilly e nas temáticas de garotas, bebedeiras (olha o Matanza aí), carrões e outras vicissitudes juvenis. É um primo de primeiro grau do local Carbona, e não por acaso mandou uma versão acelerada para a ótima “Sempre Que Eu Fico Feliz Eu Bebo”, que os cariocas sempre tocam. Outra que agita o público que se ajuntou na frente é “Quando Eu Fui Pra Irlanda”, mais uma ode à beberronice. Uma pena que o trio tenha tocado por um tempo tão curto, inferior, inclusive ao da banda de abertura.

Curiosamente, o Café Irlanda, que começou os trabalhos, não é exatamente uma banda. Trata-se de uma fanfarra com instrumentos “típicos” empenhada em tocar música irlandesa de raiz, muito embora o vocalista Caio Gregory exiba uma saia escocesa, ou kilt, como queiram. O problema é que o grupo não sai do remi-remi de uma música “roots”, não acrescenta nada, embora tenha potencial para seguir caminhos já trilhados por Pogues, The Alarm e Big Country, só pra ficar em três exemplos. Tanto que os momentos mais legais foram: a) Num cover do próprio Matanza (!), gafe do ano; b) Quando fez-se o elogio as manifestações de rua; e c) Na discussão de Gregory com seu bandolim. É ruim, não acrescenta, não tem futuro, mas, acreditem, funcionou como boa abertura, a julgar pela reação do público.

Set list completo Matanza:

1- Rio De Whisky
2- Ela Roubou Meu Caminhão
3- Quando Bebe Desse Jeito
4- Country Core Funeral
5- Carvão, Enxofre & Salitre
6- Tudo Errado
7- Imbecil
8- Matanza Em Idaho
9- Clube dos Canalhas
10- O Bebum Acabado
11- Odiosa Natureza Humana
12- Mulher Diabo
13- O Chamado do Bar
14- Meio Psicopata
15- A Arte do Insulto
16- Remédios Demais
17- Ressaca Sem Fim
18- Eu Não Gosto de Ninguém
19- Todo Ódio da Vingança de Jack Buffalo Head
20- Maldito Hippie Sujo
21- Tempo Ruim
22- Pé na Porta e Soco na Cara
23- Quem Perde Sai
24- Taberneira, Traga o Gim
25- Estrada De Ferro Thunder Dope
26- Santa Madre Cassino
27- Whisky Para Um Condenado
28- Cover Johnny Cash
29- Sunday Morning After
30- Interceptor V-6
31- Bom é Quando Faz Mal
32- Estamos Todos Bêbados

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