O Homem Baile

No quintal

The Baggios se destaca na primeira noite do Goiânia Noise tocando como se estivesse em casa; Delinquentes também envolve grande público enquanto o bom show do Diablo Motor é visto por poucos. Fotos: Marcelo Costa/Scream & Yell.

O guitarrista do Baggios, Júlio Andrade, engana com o figurino de passista de escola de samba

O guitarrista do Baggios, Júlio Andrade, engana com o figurino de passista de escola de samba

Não deixa de ser curioso que num festival com nada menos que 15 bandas tocando sem parar em uma única tarde/noite, o melhor show tenha sido realizado justamente pela formação mais enxuta. Pois foi o que aconteceu nesta sexta, na abertura do Goiânia Noise Festival com o The Baggios. E quem diz é o público que se acotovelou para vê-los, de longe o maior de toda a sexta, à exceção do show do Exploited (veja como foi), única atração internacional desta 19ª edição do festival. O grupo, na verdade um trio à Experience, de Jimi Hendrix, incompleto, sem baixista, é de Aracaju e se vale da perícia técnica do guitarrista Júlio Andrade e do feeling que ele tem ao tocar o instrumento.

Mas nem parece. O guitarrista sobe no palco com um típico figurino de passista de escola de samba do carnaval dos anos 20, com chapéu e tudo, e entrega muito mais do que promete. É o show de lançamento do álbum “Sina”, e em “Sem Condição” ele despeja um riff pesado e colante que arrebata o público. Há efeitos nos vocais que funde a massa sonora com a guitarra como se fosse uma coisa só, mas que falta faz um baixista! Em “Pegando Uma Punga”, um dedal faz o efeito slide guitar cuja introdução lembra as paragens de um Lynyrd Skynyrd – interiorano como o Baggios - em começo de carreira. Uma pena o tempo curto – só o headliner tem mais de meia hora para tocar – no qual só cabem oito músicas.

Diablo Motor, um dos melhores shows e pouco público: o vocalista Rafael Sales e o guitarrista Filipe Cabral

Diablo Motor, um dos melhores shows e pouco público: Rafael Sales (vocal) e Filipe Cabral (guitarra)

O que falta o Baggios – uma banda – sobra ao Diablo Motor. O quarteto é do Recife e faz um rockão dos bons, com referências ao stoner rock, só que com músicas mais curtas e certeiras, cheias de refrães colantes. Caso de “Não Quero te Entender”, que abre o show em grande estilo. Mas o que o Baggios tem de sobra, falta ao Diablo: público. E justamente em Goiânia, sede da Monstro Discos, que lança o álbum da banda, e onde esse tipo de som é tido como trilha sonora oficial. É uma pena que poucas pessoas tenham visto o grupo tocar porradas como “Sem Moderação” e “Cafa Song”, essa dedicada aos cafajestes, num dos melhores shows do Noise desse ano.

Mas poucas bandas têm o domínio de palco e do público como o Delinquentes, que vem para mostrar que o Pará não vive só de guitarrada e de música de gosto duvidoso e visual borrado. O grupo, veterano, tem um entrosamento espantoso sobre o palco, o que resulta seguramente no melhor show entre as bandas de hardcore, punk e adjacências que tocaram antes do Exploited. O perturbado vocalista Jayme Katarro tem o público na mão e comanda a maior roda de pogo do festival. O som da banda há tempos deixou de ser o hardcore de raiz e hoje emana um peso extraordinário, incluindo referências ao metal contemporâneo: uma massa sonora que garante pogo, bateção de cabeça e tudo que não pode faltar num show der rock pesado de verdade.

Jayme Katarro lidera a impressionante performance do Delinquentes no Goiânia Noise Festival

Jayme Katarro lidera a impressionante performance do Delinquentes no Goiânia Noise Festival

Outros veteranos que fizeram bonito, mais cedo, foram o Sangue Seco e o Ressonância Mórfica. O primeiro, com um punk rock oitentista dos bons, com várias referências ao Cólera e ao Inocentes, muito embora tenham incluído o hino “Grandola Vila Morena”, consagrado pelo 365, no repertório. Vale o final com a genial “Eu Quero Que Você Morra”, cantada a plenos pulmões pela plateia. Já no Ressonância, o que conta é o extremo, o grind, o crust, o esporro, a porrada na cara. Não por acaso o grupo gravou uma faixa para o tributo de bandas brasileiras ao Napalm Death e tocou no show, mesmo que não desse para identificar qual música foi a escolhida. Mas e daí? O que importa é que o Mal esteve presente durante todo o show, um dos mais sombrios de toda a noite, que terminou com o público “cantando” em cima do palco.

Quem poderia estar num patamar diferente é o Zefirina Bomba, cuja proposta de tocar hardcore com um violão todo detonado e transformado numa poderosa arma acaba caindo no lugar comum por conta de um repertório um pouco repetitivo. Ao menos se consideramos o show desta sexta; vamos renovar, rapaziada. Num espécie de bloco “classic rock” em plena noite punk/hardcore, caiu muito mal a escalação do Soothing, sobretudo por tocar próximo das atrações principais da noite. Isso porque embora o grupo tenha músicos experientes, a formação ainda é insipiente e não sabe para onde ir, apostando em rock progressivo/fusion com dois vocalistas que não valem por um; vamos ensaiar e tocar mais, pessoal.

A presença do Mal do Ressonância Mórfica: o vocalista Marcos Campos soltando um gutural após o outro

A presença do Mal do Ressonância Mórfica: o vocalista Marcos Campos soltando um gutural após o outro

Melhor para o Galo Power, que, ao iniciar o show antes que o do Soothing acabasse, roubou-lhe o público. O grupo, este sim bem ensaiado, só tem evoluído, fazendo versões casa vez mais trabalhadas e ao mesmo tempo com improvisações das músicas. A grooveada “Big Momma” e a enguitarrada embalagem dada à boa “Tales Of Life”, no encerramento que o digam. Mais cedo, o Bad Matters se arriscou fazendo o rock parecido com o do Diablo Motor, mas ficou devendo mais músicas boas, e menos decalcadas do Queens Of The Stone Age. Já o Evening não consegue esconder as raízes noventistas que incluem o grunge de Mudhoney e o nu-metal esporrento do Korn em início de carreira. E o trio ainda vem para o festival da importância do GNF com um guitarrista tapa buraco. Aí, não.

Quem abriu os trabalhos foi o Expressão Urbana, com um punk rock anos 80 ainda bem ingênuo. A formação com duas guitarras não se explica, mas como vocalista solo, um dos guitarristas fica meio perdido. Já o Shotgun Wives é um equívoco já na paisagem do palco. Cinco sextos da banda usam óculos de aro gigante e os instrumentos – escaleta, banjo - ligam a turba ao famigerado indie de quermesse que não faz o menor sentido. Assim como não se faz necessário o outro extremo: uma banda feminina – caso das Radioativas - que vai fundo em clichês do rock que bandas como o Velhas Virgens fazem com muito mais vigor. Ou, ainda o remi-remi hip hop do Calango Nego, cujo show até agora não deve ter começado. Saiam dessa pessoal.

Clique aqui para ver como foi o show do Exploited no Goiânia Noise Festival.

Marcos Bragatto viajou à Goiânia a convite da produção do Goiânia Noise Festival.

Tags desse texto:

Comentários enviados

Existem 6 comentários nesse texto.
  1. Daniel Henrique em dezembro 7, 2013 às 16:28
    #1

    Três shows foram ótimos. É uma pena que essa moda de ficar de fora dos shows ainda persista no Martim Cererê, mesmo depois de reformado (e um ano fechado).

  2. Wilson em dezembro 8, 2013 às 12:55
    #2

    É uma pena ver alguns comentários sem fundamento e comparações esdrúxulas, o que me fizeram questionar a qualidade das noticias em geral.

  3. Paula em dezembro 8, 2013 às 14:58
    #3

    Uma pena mesmo, Wilson. Ao redator, aprenda que para uma crítica ser construtiva, precisa expor o que considerou bom e/ou ruim, e não apenas vomitar palavras expondo sua preferência particular sobre as coisas, deixando claro o quanto é preconceituoso. Que feio, man!

  4. Jaqueline em dezembro 8, 2013 às 15:39
    #4

    Sabe, é realmente lamentável tudo o que foi aqui escrito. É triste como a acessibilidade da internet à realização de blogs pode ser prejudicial aos nossos sentidos. Crítica é diferente da mera exposição de opinião, é algo mais complexo que isso. Sua mente parece não estar preparada para tanto.

  5. Diego de Moraes em dezembro 9, 2013 às 8:43
    #5

    Muito massa o post! Acho os Baggios uma banda fodaça!
    Mas discordo que “o que falta a eles é uma banda”, pois o que impressiona é exatamente o que você colocou no começo do post: ser uma formação enxuta e fazer um baita show.
    O legal é o conceito: mandar o recado enquanto duo!
    Sem falar que é uma das bandas que mais viajam atualmente no independente brasileiro, exatamente por ser prático e fácil levar dois cabra pra tocar…

  6. Francielle Thaiane em dezembro 14, 2013 às 8:05
    #6

    O show do Galo e do Sangue seco forammmm pesadíssimos, muito foda. Pena não ter dado para assistir Exploited.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado