Punkada!
Com raro bom humor, Exploited comanda a turba punk na noite de abertura do Goiânia Noise Festival. Foto: Marcelo Costa/Scream & Yell.
Depois de 14 bandas que tocaram desde antes de o sol de por, chegava a vez do Exploited, única atração internacional desse ano, colocar o Goiânia Noise abaixo. Mas o que são 14 bandas para um grupo lendário do punk mundial que nunca tinha pisado na chamada Cidade do Rock? A ansiedade era tanta que um gargalo humano se formou na entrada do Palco Monstro, evidenciando o gargarejo punk que se estasbeleceu na beirada do palco, cujo body surfing empurra incautos para cima da banda e para as rodas que se formavam mais atrás, não com menos vigor.
Ocorre que o festival acontece em dois teatros construídos onde durante a ditadura militar o governo armazenava água, de modo que o pé direito não é tão alto, e o palco, quase no mesmo nível do piso. O que, evidentemente, aumentou a pressão para cima da banda. Assim, era comum o vocalista Wattie esticar o braço para o público cantar partes da letra, e ver o microfone desaparecer no meio da turba até voltar desligado/danificado. Coube ao baixista Irish Rob, nas horas do aperto, fazer o diplomático papel de acalmar as coisas, dentro do possível. Curiosamente o temperamental Wattie estava com um bom humor raro: ria o tempo todo e tirava fotos com punks de boutique em pleno palco. Cada uma.
O momento mais delicado acontece quando o brother Willie destrói nada menos que o bumbo da bateria, durante “Never Sell Out”. Wattie desaparece no fundo do palco enquanto a banda vai enrolando o público e pedindo desculpas ao menos tempo, durante cerca de 10 minutos. Como o palco é baixo, a turma do gargarejo – nem gargarejando tanto – olha para a lista das músicas a serem tocadas o tempo todo, e sempre um gaiato anuncia a próxima antes do vocalista, que – repita-se – se diverte como em poucas vezes se vê. Afinal não fica bem para uma lenda do punk, cuja cabeça raspada com moicano espetado faz parte do inconsciente coletivo do rock em todas as épocas, bancar o bonzinho. Tá certo, Wattie.
O repertório é basicamente o mesmo do show de quinta, no Rio (veja como foi), com sutis alterações, mantendo-se a festa em que se transforma “Sex And Violence”, com a turma toda em cima do palco cantando junto com Wattie - no Rio ele se mandou para o camarim – e nem precisou ninguém chamar. Outras em que o bicho pega pra valer na zona de desconforto entre a entrada do local e a parede de punks vestidos à caráter são “Fuck The USA”, unanimidade universal; “Punk’s Not Dead”, música tema da segunda onda punk britânica; “Beat the Bastards”, com uma pegada nervosa que contagia o público; e a cantoria alegre da debochada “Army Life”. Uma daquelas noites para o sujeito nunca mais se esquecer de como o mundo pode ser divertido.
Set list completo:
1- Let’s Start a War (Said Maggie One Day)
2- Fight Back
3- Dogs Of War
4- Maggie
5- UK 82
6- Chaos Is My Life
7- Dead Cities
8- Alternative
9- Noize Annoys
10- Troops Of Tomorrow
11- Never Sell Out
12- Rival Leaders
13- Anarchy
14- A confirmar
15- Beat The Bastards
16- Fuck The System
17- Cop Cars
18- Porno Slut
19- Fuck The USA
20- Army Life
21- Sex And Violence
23- Punk’s Not Dead
23- Was It Me
Bis
24-Why Are You Doing This to Me
Clique aqui para ver como foram os outros shows de sexta no Goiânia Noise.
Marcos Bragatto viajou à Goiânia a convite da produção do Goiânia Noise Festival.
Tags desse texto: Goiânia Noise Festival, The Exploited