Cachorro solto
Guitarrista do Cachorro Grande, Marcelo Gross reafirma referências ao rock de raiz e à psicodelia no Goiânia Noise Festival. Foto: Marcelo Costa/Scream & Yell.
Único artista entre os não headliners que teve mais de meia hora para se apresentar na edição desse ano do Goiânia Noise, o guitarrista do Cachorro Grande, Marcelo Gross, teve tempo o bastante para mostrar as faixas do seu primeiro álbum solo, “Use o Assento Para Flutuar”. E ele não perde tempo com músicas de sua banda ou com covers e manda logo 10 das 12 canções que fazem parte do CD. Um pena que, dado o avançar da hora e os atrasos recorrentes do festival, um público apenas razoável tenha permanecido para assistir à estreia da empreitada em Goiânia.
A formação da banda é de trio e acompanham Gross o baixista Fernando Papassoni (ex-Detetives) e o baterista Clayton Martin (Cidadão Instigado, entre outros), o que já representa a primeira mudança no trabalho solo. Sai a pegada aloprada à Keith Moon de Gabriel Boizinho, do Cachorro Grande, e entra o groove diversificado de Clayton, um dos músicos mais versáteis do País. As composições seguem a linha Beatles/Stones, sempre com um “quê” a mais de guitarrista e agressividade a menos, se lembrarmos da atitude de Beto Bruno em um show do Cachorro Grande. Ou seja, solo, o show de Marcelo Gross é menos porrada e mais viagem. E isso pode ser muito bom.
Um exemplo dessa viagem está no “clima psicodélico” anunciado por Marcelo em “A Hora de Rolar”, num clima totalmente Pink Floyd com Syd Barret no comando. E aí cabe a lembrança de que Marcelo Gross é o sujeito que fez parte da banda de Júpiter Maçã, como baterista, na turnê do álbum “A Sétima Efervescência”, um clássico do rock psicodélico nacional. É clara a batida que Clayton pega emprestada de “Tomorrow Never Knows”, dos Beatles, cuja versão do Violeta de Outono, outro ícone psicodélico brasileiro, permanece ecoando em toda a parte. O solo variado tirado por Gross não deixa dúvidas de que, sim, o negócio é sério.
No clima Rolling Stones, Gross saca um belo riff na qual desenvolve “O Buraco da Festa”, com direito a duas intervenções solo, no meio da música e no final, quando empunha a guitarra à frente do palco como poucos. Embora não seja guitarrista solo na acepção da palavra, Marcelo Gross é um dos poucos que encarnam a atitude rock’n’roll com o instrumento, resultando numa fusão quase osmótica, sexualmente falando, entre ambos. Mas a grande debulhada das seis cordas fica para o final, com “Nessa Trip” – olha a viagem aí de novo – um hit estradeiro menos porrada e instrumentalmente alongado, resultado das inúmeras turnês do músico por esse Brazilzão aquarélico.
Das músicas apresentadas ontem, ao menos duas têm perfil para o sucesso. Caso de “Disfarça”, cujo título é repetido durante o refrão e que, ao vivo, ganha uma maior firmeza instrumental; e “Minha Paciência”, com um “papapá” feito para ser repetido sem pensar no amanhã. Sem a preocupação de soar diferente em relação ao trabalho com o Cachorro Grande – como seria? -, Marcelo Gross tem o mérito de fazer o show todo como demonstração daquilo que ele pode render à frente dessa formação de trio. O negócio agora é incrementar a agenda de shows que a coisa inda tem muito a encorpar e o repertório promete.
Set list completo:
1- Trilhos
2- Disfarça
3- Hoje Não Vai Dar
4- A Hora de Levantar
5- O Buraco da Festa
6- A Minha Paciência
7- A Hora de Rolar
8- Eu Aqui e Você Nem Aí
9- Movimento Contínuo
10- Nessa Trip
Clique aqui para ver como foi o show do Exploited no Goiânia Noise Festival.
Clique aqui para ver como foram os shows de sexta no festival.
Marcos Bragatto viajou à Goiânia a convite da produção do Goiânia Noise Festival.
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