Duplinha de peso
Cascudos, Walverdes e Mechanics confirmam a ode às guitarras no Goiânia Noise; esporrento ao máximo, Fuzzly não fica atrás. Fotos: Marcelo Costa/Scream & Yell.
Primeiro, foi o Walverdes. Se os shows do grupo gaúcho sempre foram uma verdadeira muralha de guitarras, imagine agora com a entrada de Julio Porto, que já foi do Ultraman, numa segunda guitarra. Ok que ele seja o encarregado de fazer os solos raros na música do grupo, mas não há como negar a potencialização do esporro com o dobro das guitarras de antes. É assim que o riff sabbathiano de “Anticontrole” evolui para uma maçaroca de distorções de impressionar, em que pese a boa qualidade sonora do Martim Cererê, novinho em folha depois de um reforma. Em “Mesmo Assim”, até o ar parece tremer na frente do público; veja o set list completo no final do texto.
Nascido nos anos 90, a associação com o grunge é imediata, mas o vocalista Mini e asseclas já beberam em muitas fontes do rock pauleira em todas as épocas, a ponto de terem – o que é difícil – assinatura própria. Imagine, por exemplo, a fusão do riff pesado à Black Sabbath, com o próprio grunge, um de seus filhos bastardos. É o que acontece em “Cérebro Embrião”, quando, de tanta guitarra rangendo, o som parece aumentar de volume por conta própria, fortalecendo a suspeita de que há, sim, fantasmas do rock aprisionados no Martim Cererê. Em “Seja Mais Certo”, é a bateria marcada que introduz a manutenção do barulho e o público ainda recebe como bônus a catártica “Quando Tudo Explodir”, num arremate de deixar os ouvidos zunindo. Assim é que é bom.Para comemorar a 19ª participação seguida no festival, o Mechanics encheu o palco com duas baterias, e enfim o elemento percussivo fez frente ante às guitarras do grupo, nessa noite atuando como sexteto. Não que isso diminuísse o pode de fogo das fulanas e a verve do vocalista Márcio Jr, duas das marcas da banda, mas multiplicou – e muito – o volume e a intensidade do som como um todo. “Quero ver o ódio no coração de cada um de vocês”, dispara Márcio antes de “Ódio”, carro-chefe do disco mais recente, “12 Arcanos”, a segunda a ser tocada, para desespero geral. O vocalista, sempre afirmativo, preza pelo sofrimento da plateia nos shows. E não é sentido figurado, não.
O show segue com a truculência atroz e costumeira, incluindo ainda petardos como “Sangue” – olha o Black Sabbath aí de novo – e na potente “Máquina”, entre outras lanças pontiagudas jogadas sobre o público. Poucas vezes no festival a meia hora passou tão depressa. Assim como também pareceu rápido a verdadeira lavagem cerebral sonora promovida pelo insuspeito - já no nome - Fuzzly. O trio desanda a soltar evoluções instrumentais pesadíssimas, sendo que as letras das músicas são curtas o bastante para não atrapalhar a viagem. E elas - as músicas - têm passagens instrumentais que apontam para um aparente desfecho, mas é aí que tudo recomeça de forma ainda mais atraente e avassaladora. As referências ao rock pauleira pré-heavy metal e ao stoner rock são latentes, mas o grupo já está em outra esfera em qualquer gênero a que seja comparado. Até a iluminação estroboscópica – defeitaço do GNF – contribui para o clima sombrio e para a onipresença do Mal. Showzaço.Fosse na sexta, com aquela horda de fãs de hardcore, o Ação Direta teria aproveitado melhor a oportunidade no Goiânia Noise. Mesmo assim, o grupo não tomou conhecimento e passou por cima do público – que agitou bastante, diga-se - sem o menor constrangimento. É de impressionar como o crossover metal + hardcore funciona em alta voltagem, e como os integrantes do grupo do ABC, já com 25 anos de estrada, preservam tamanha vitalidade sobre o palco. São quase 15 minutos – a metade do set – sem dar um pio, só na apologia da violência sonora. Uma pena, que, do outro lado, o Zander não tenha adquirido pegada semelhante. Embora tenha um bom séquito de fãs colado na grade, e o instrumental cabeçudo bem feito, o quarteto sofre com uma ancestralidade emo da qual não se separa.
O anúncio de que o Mixhell, de Iggor Cavalera, iria fazer um “live set” era até animador, mas é um lástima que um dois músicos mais talentosos já nascidos no Brasil esteja numa fase tão ruim. Primeiro que, independente de se apreciar ou não o Sepultura, o baterista foi criado na música de verdade, tocada ao vivo pra valer. E, agora, tem ares de coadjuvância em meio as tantos efeitos eletrônicos. E, cá entre nós, Iggor, ainda jovem, já não goza de bom preparo físico para um baterista de primeira linha há muitos anos. Uma pena, de verdade.Tinha quem pegasse leve no sabadão, caso do trio hillbilly Wild Comets, liderado por Tarso Miller. O cantor é espécie de Ritchie Valens, de voz macia e afinada, e o trio – baixolão de pau + guitarra semiacústica limpíssima + viola – canta as aventuras de interioranos das Minas Gerais, só que com sotaque ianque. Muito bom e teve até casal dançando no salão. Mais cedo o trio de garage/stoner rock Damn Stoned Birds se despedia da baixista que – dizem – concorre à vaga aberta por Kim Shattuck no Pixies (saiba mais), num bom show com pouca audiência; o festival começa cedo, mas o público chega mais tarde. Problema também enfrentado pelo Gomorrah in Blood, trio de thrash metal clássico que merecia um horário melhor para tocar.
Pisadas na bola, que festival não tem? Colocar uma banda que faz cover de clássicos do rock em versão dub como a 2Dub é uma delas, mas a playboizada gostou mesmo assim. Não foi o caso do Indústria Orgânica, cujas referências misturadas, sem unidade alguma, afugentou o público que já era pequeno naquele horário cedinho. Mais tarde, as boas melodias do Darshan agradaram. O grupo parece ter uma passado metálico do qual quer se distanciar, mas ainda não conseguiu; continuem tentando. O Coletivo Suigeneris, de seu lado, pouco tem de “sui generis”: instrumental nu-metal, DJ e dois vocalistas, um para fazer os vocais rasgados à death metal, e outro clone de Chorão, do Charlie Brown Jr. Valeu pelo pedido de casamento feito pelo gaiato, prontamente aceito pela “noiva” apaixonada. Que lindo.Som parecido faz o Kamura, com mais ênfase nas guitarras e no lado metal/hardcore da coisa, mas soando igualmente repetitivo. Dá para inventar mais pessoal, sejamos criativos. Recado que vale também para os mineiros do Mad Sneaks, praticamente uma bandas cover com músicas próprias, Nirvana detected. Ainda assim, passa longe do deplorável baticum de discoteca do Lust for Sexxx, cujo nome já denota a latente mediocridade musical. Desse jeito, só tentando a vida na Augusta, rapazes.
Set list completo Walverdes:
1- Altos e Baixos
2- Mesmo Assim
3- Anticontrole
4- Diagonal
5- Basalto
6- Cérebro Embrião
7- Viajando na AM
8- Seja Mais Certo
9- Heaven and Hell
10- Quando Tudo Explodir
Clique aqui para ver como foi o show do Exploited no Goiânia Noise Festival.
Clique aqui para ver como foram os shows de sexta no festival.
Clique aqui para ver como foi o show do guitarrista do Cachorro Grande, Marcelo Gross, no festival.
Marcos Bragatto viajou à Goiânia a convite da produção do Goiânia Noise Festival.
Tags desse texto: Goiânia Noise Festival
Bragatto, a música nove era Heaven and Hell do The Who. Abraços!
Nada noticioso. Elogios aos amigos, pedras aos forasteiros. Texto mal escrito e sem relevância como este comentário. Perda de tempo.