Tradição em progresso
Galinha Preta mostra hardcore renovado no Goiânia Noise; Girlie Hell supera show de 2012 e Rios Voadores mergulha mais fundo na psicodelia retrô. Fotos: Marcelo Costa/Scream & Yell.
De certa forma, o GP resgata a força do hardcore noventista tão bem representado em Brasília por bandas como DFC e Oscabeloduro. É porrada na cara de todo mundo, com palavrão não gratuito, tudo tão tosco e visceral que se torna, sim, atraente. O “quê” de renovação se dá na (quase) ausência da abordagem típica que inclui temas como polícia-igreja-sistema e blábláblá. Com o Galinha Preta entram em cena o “O Padre Baloeiro”, os lactobacilos que destroem o estômago (“Lactobacilos Vivos”) e o tráfico de órgãos (“Roubaram o Meu Rim!”). O show, movido a gargalhadas, teve até um bis, com duas alegorias do tipo “bonecão do posto caveira style”. Os caras tocam mal e cantam mal, mas quem se importa, se todo mundo se diverte?
Na seara metálica – não podemos esqueceu que o headliner é o Krisiun (veja como foi) – o local Girlie Hell desfez a impressão ruim da edição do ano passado no Noise, quando tocou com uma qualidade de som terrível. Dessa vez foi exatamente o contrário, e, ainda, o grupo parece ter evoluído nos arranjos ultra pesados que dão novas cores ao repertório. Para se ter uma ideia, só cinco músicas entraram no set, dada a valorização instrumental de cada uma delas. Destaque para “Winter”, single novo produzido por Marcelo Pompeu e Heros Trench (ambos do Korzus), que, ao vivo, cresce muito em peso e dramaticidade, sobretudo na parte final. Podem contar que o segundo disco das meninas promete.Outra banda que melhorou em relação ao GNF do ano passado é o Space Truck, que vai fundo no classic rock que ganha força mundo afora. O grupo é fortemente influenciado pelo Rush, até na formação de trio e na alternância hard rock/rock progressivo, e isso abre vária frentes. Numa delas, com músicas mais palatáveis, a identificação com a plateia é imediata. Em outra, quando descamba para um apuro técnico acompanhado de um sotaque mais acadêmico, acaba sem eco. Antes, um bom show também fez o Johnny Suxxx and the Fucking Boys. O grupo promete um hard rock repleto de androginia, mas o vocalista precisa se soltar mais na performance de palco, ainda mais quando saem da guitarras riffs potentes com os dois pés nos anos 70. Já as incursões no tecnopop, em ao menos duas músicas, não são lá muito legais.
A turma da vizinha Brasília também seguiu bem representada com o Rio Voadores e o ex-Rumbora Alf. O primeiro segue cada vez mais firme rumo ao rock empoeiradamente psicodélico dos anos 60. Imaginem que a vocalista Gaivota Naves apareceu no palco vestida de noiva e o tecladista Tarso Cardoso, de padre. Exageros à parte, o grupo, embora atrapalhado por causa da bateria do Krisiun, montada desde o dia raiar no Palco Monstro, votou a fazer um bom show, como já havia acontecido no Porão do Rock, em julho. Os instrumentais viajantes e com peso moderado combinam muito bem com o bom vocal da “pulgueta” Gaivota. Com a bronca de encerrar o Palco Harmonia, Alf não encontrou uma plateia muito grande, dado o avançar do horário. Mesmo assim, deu para mostrar músicas novas como a boa “O Sol Saiu”, mais pesada ao vivo, e “Guarde Um Lugar”, numa onda Queens Of The Stone Age. E, claro, músicas dos tempos do Rumbora, como “Skaô”, por exemplo.Entre as bandas que tocaram mais cedo a de maior sucesso entre os locais é de longe o Overfuzz. Multirreferenciado, o trio começa com um forte sotaque à Motörhead, passa pelo poppy punk do Offspring e chega até aos sons mais pesados do Silverchair. O vocalista/guitarrista Bruno Veiga canta muito bem e circula facilmente em todas essas frentes, garantindo a diversão que se traduz em rodas de pogo e muita correria no meio do público. Olho vivo nesses caras. Abrindo os trabalhos, o West Bullets fez um bom show, investindo no rock pesado sem entrar na onda metal ou stoner comum ao domingão do Noise. A banda tem seguramente a menor média de idade do festival, e já manda bem em várias músicas, incluindo flertes com um country bem elétrico, e a participação de violino na formação.
Duas bandas menos porradas marcaram presença no domingão, o Versário e o Besouro do Rabo Branco, cujo nome já soa como ameaça ao bom gosto. O grupo, de Brasília, encarou a solidão do Palco Harmonia após o show do Galinha Preta e pouca gente viu a diversidade estéril que inclui blues pop e covers do tipo “inusitado”, como para a música tema do filme “Lisbela e o Prisioneiro”. Com repertório próprio, se sai melhor o Versário, trio de rock com boas músicas, mas que carece de vencer certa discrição.Entre as bandas mais novas de metal – repita-se que era o Krisiun o headliner -, se destacou o Grieve, com uma boa mistura de vários subgêneros. O vocalista circula muito bem entre vocais limpos e rasgados, e tem um timbre de voz semelhante ao de Lee Dorrian, do Cathedral. Antes, o Entre os Dentes (pura farra) inaugurou o vocal gutural agudo e a tradução não simultânea das letras; cada uma… E o Baba de Sheeva mandou um crossover thrash/hardcore bem pesado, soando como nos tempos do Ratos de Porão fase “Anarkophobia”.
Set list Galinha Preta:
1- A confirmar
2- Eu Não Sei de Nada
3- A confirmar
4- Burocracia
5- A confirmar
6- Ninguém Nesse Mundo é Porra Nenhuma
7- Lactobacilos Vivos
8- Mídias Sociais
9- Roubaram o Meu Rim!
10- Saco de Plástico
11-Vai Trabalhar Vagabundo
12- Uá
13- O Padre Baloeiro
14- Apocalypse Now
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Marcos Bragatto viajou à Goiânia a convite da produção do Goiânia Noise Festival.
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Bragatto, justiça seja feita, o João Lucas - aka Johny Suxxx - foi muito prejudicado em sua performance pela bateria do Krisiun. Normalmente ele é indecentemente abusado no palco, mas com meio metro de espaço ele realmente não se esparramou coo de hábito. No mais, mais nada.