Nunca se apaga
Com repertório raro, Johnny Marr se reafirma como um dos principais guitarristas em todos os tempos no Lollapalooza; show tem metade dos Smiths no palco. Fotos: Bruno Eduardo (1), MRossi/Divulgação T4F (2 e 4) e Marcelo Costa/Scream & Yell (3).
Johnny Marr tem, e mostrou isso logo nos primeiros minutos do show realizado no último domingo (6/4), num ensolarado Palco Onix, o mais maratonístico do Lollapalooza. Pois reparem que logo no meio de “The Right Thing Right”, que abre o disco mais recente, “The Messenger” e é a primeira da tarde, Marr se dirige à beirada do palco empunhando a guitarra em um solo condizente com a pureza melódica da canção. Magricelo aos 50, Marr parece um garoto de banda de adolescente, fãs de Beatles com cabelo moptop. Sua banda inclui outro guitarrista que se vira nos teclados, baixo e bateria, mais ou menos como era a banda cuja promessa era simplesmente salvar a música pop na década de 1980.
Marr também faz as vezes de vocalista e – óbvio – bom cantor ele não é, mas dá para o gasto. Porque ninguém pode privar um compositor de cantar suas próprias canções, mesmo que, quando é chegada a hora das músicas dos Smiths, a sombra de Morrissey permaneça, e é justo que seja dessa forma. Se Morrissey é a Rainha da Inglaterra às avessas, Marr é o Primeiro Ministro que não pode ser colocado de lado. E de quem Morrissey jamais poderia ter prescindido para criar as inúmeras músicas que fizeram dos Smiths um mostro sagrado do rock, mesmo que o grupo tenha terminado antes de se agigantar, o que, por outro lado, o leva ao panteão sagrado dos indies para todo o sempre.E o fato é que a banda de Johnny Marr se sai muito bem já na primeira, “Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before”, que não é exatamente uma das mais bombadas dos Smiths. O público é pequeno e, mesmo torturado pelos empecilhos colocados pelo festival, se joga a valer na frente do palco. O repertório é bem parecido com os outros shows do grupo pela América do Sul, mas há quem se surpreenda com “I Fought The Law”, dos Crickets, popularizada por Bobby Fuller nos anos 60 e pelo Clash nos 80. Além de músicas dos Smiths, há também “Getting Away With It”, do Electronic, grupo que Marr teve com Bernard Sumner, do New Order, justamente uma das atrações principais no domingão do Lolla. E nesse arranjo observa-se que não há, em absoluto, uma única música ruim, num verdadeiros “best of” de melodias da música pop em geral. Foi ou não foi salvo?
Mas a surpresa, já antecipada no aparelho de telefonia móvel do amigo ao lado, via redes sociais, é a presença do baixista Andy Rouke, sabe-se lá o que o sujeito estava a fazer no Brasil. “Da formação original dos Smiths e meu melhor amigo na escola. Andy Rourke!”, anunciou Johnny Marr, antes de “How Soon is Now?”. De inesperada, a reunião de metade dos Smiths em pleno palco soou como um prêmio para o sofrimento causado pelo mal arrolado festival. Mas é preciso realçar outros destaques, numa apresentação, dentro do possível, memorável: a ótima “Generate! Generate!”, que trouxe como bônus um dos melhores solos de guitarra de todo o festival; “Bigmouth Strikes Again”, por motivos óbvios; e o arremate mais que perfeito com “There Is a Light That Never Goes Out”, dedicada aos que enfrentaram aquela soalheira danada e ninguém mais. Coisa mais linda, minha gente.Set list completo:
1- The Right Thing Right
2- Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before
3- Upstarts
4- Sun & Moon
5- New Town Velocity
6- Generate! Generate!
7- Bigmouth Strikes Again
8- Word Starts Attack
9- Getting Away with It
10- I Fought the Law
11- How Soon Is Now?
12- There Is a Light That Never Goes Out
Tags desse texto: Johnny Marr, Lollapalooza, The Smiths
Marr é genio! Assim como Peter Buck, The Edge… e mais tarde Bernard Butler….
Sem esqucer obviamente do Frusciante… o maior deles.
Belo texto Bragatto! E valeu ter encarado aquele sol senegalês e o calor africano para ver esse show. Lindaço! E o melhor foram os seguranças, naquele “vão” que fica no meio da platéia, distribuindo água e gelo pra galera. Civilizado.