O Homem Baile

Cansados

Fora de forma, Obituary faz show apenas razoável no Rio; noite é salva por repertório clássico, mas grupo apresenta boas músicas novas. Fotos: Daniel Croce.

John Tardy deu conta do recado em um show descontinuado em que o Obituary ficou devendo

John Tardy deu conta do recado em um show descontinuado em que o Obituary ficou devendo

Em uma verdadeira noite de gala na última quinta (24/4), o Teatro Odisseia praticamente lotado foi ao delírio com um dos shows mais esperados dos últimos tempos, o Obituary. Realmente, era inadmissível que o grupo, revelado no final da década 1980 e que teve o grande momento nos 1990, ainda não tivesse dado as caras no Rio. Só que demorou tanto que o quinteto parecia cansado e fez um show que pecou pela falta de continuidade – intervalos enormes entre uma música e outra – e de comprometimento com a urgência do próprio som, que, lá atrás, ajudou a definir as bases do que veio a se chamar death metal.

Parados desde outubro, à exceção de três shows em janeiro, os integrantes do Obituary por vezes pareciam estar em pleno ensaio, decidindo o que e como fazer. Para se ter uma ideia, as músicas a serem tocadas eram definidas na hora, em meio a discussões ante a um público apinhado sedento pelos riffs e andamentos pesadões característicos do death metal da Flórida; há inclusive que considere este um ramo mais alongado do metal extremo. Convenhamos que um show de death metal não se conduz assim, o negócio é uma porrada atrás de outra e todos que se acabem na felicidade do pit. De certo modo, foi o que aconteceu em algumas partes do show, muito mais pela qualidade das músicas – clássicos que marcaram época – do que por conta da forma com elas eram executadas.

O Obituary de hoje: Trevor Peres, os irmãos John e Donald Tardy, Terry Butler e Kenny Andrews

O Obituary de hoje: Trevor Peres, os irmãos John e Donald Tardy, Terry Butler e Kenny Andrews

Assim, músicas como “The End Complete”, acrescida de verdadeiras maratonas de guitarras no trecho originalmente reservado ao solo e o desfecho ultrapesado; “Infected”, com o início sombrio de quase dois minutos que logo se converte em um desesperado esporro, desencadeando em um mar de braços erguidos; e “Chopped in Half”, mais cadenciada, porém não menos agressiva, entre outras, garantiram a felicidade geral de quem esperou muito tempo para o fatídico encontro com – reforça-se - uma verdadeira lenda do death metal. Embora essa seja a chamada “Classic Set-List Take Over Tour”, o Obituary está gravando um novo álbum e teve que deixar o estúdio (vai ver vem daí a preguiça com o palco) para vir ao Brasil, e o grupo mostra ao menos três músicas novas, aparentemente sem título, sendo uma ainda sem letra; todas identificadas com a fase, digamos, “old school” da banda.

Na performance acabrunhada do quinteto é preciso livrar a cara de Donald Tardy, que, concentrado, desceu o braço sem dó em seus tambores, e, em partes, de seu irmão John, que se parece desmotivado, soltou o berros – quase – como nos bons tempos. O guitarrista Trevor Peres, que completa o trio da formação original, de seu lado, nem sabia onde estava, sempre perdido e consultando Donald, aparentemente, sobre o que fazer. E a duplinha de novatos Kenny Andrews (guitarra) e Terry Butler (baixo), que não é boba nem nada, ante ao cenário de desentrosamento fez o feijão com arroz sem comprometer, passando completamente despercebida, entre um solo ou outro. Artifício, aliás, que não é indispensável para uma banda cuja gênese é o riff e as longas evoluções, lentas, pesadas e arrastadas. Não por acaso o Obituary é apontado como um dos precursores (tardiamente) do stoner rock.

John Tardy, com a cabeleira em dia, de costas para o público que abarrotou o Teatro Odissséia

John Tardy, com a cabeleira em dia, de costas para o público que abarrotou o Teatro Odissséia

Por isso, quando a primeira parte da noite é encerrada, com uma horinha só, a sensação é a de que os caras não vão mais voltar. Mas uma nova assembleia entre Donald e Trevor, com apartes de John Tardy, garantem um bis matador. Primeiro, com uma das novas que tem um riff cativante e grudento. Embora enraizada no histórico do grupo, traz um frescor identificado com grupos mais recentes como o Mastodon, por exemplo; o que é bom. Depois, com a dobradinha “I’m in Pain”/“Slowly We Rot”, esta última que dá título ao álbum de estreia, cujo aniversário de 25 anos é o mote dessa turnê. A primeira, que incrementa uma roda de pogo furiosa, reserva um solo enxuto de bateria que subscreve a boa performance de Donald Tardy. A segunda, de seu lado, é a senha para a destruição final do público que, ante a um show curto e sem “ritmo de jogo”, nem teve tempo para ficar tão cansado quanto à banda. Foi bom, mas poderia ter sido bem melhor.

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