Chance Perdida
Com disco novo recém-gravado, Cavalera Conspiracy estreia nova turnê pelo Porão do Rock, em Brasília, mantendo o repertório da anterior. Foto: Divulgação Porão do Rock.
Depois de quase dois anos sem subir em um palco, o Cavalera Conspiracy retoma a estrada de onde terminou, justamente no Brasil, com o início, por Brasília, de um giro que inclui 11 cidades. O grupo foi a atração principal da noite de domingo do Porão do Rock, reunindo a maior quantidade de público do final de semana no palco secundário do festival. Nesse meio tempo, mantida a formação daquela turnê, um novo álbum foi gravado – “Pandemonium” -, mas a banda se contenta em mostrar apenas duas músicas novas e a consequente manutenção do repertório antigo, com o set list recheado de clássicos do Sepultura e até umazinha do Nailbomb.
O aviso por parte dos produtores de que cenas do show seriam registradas para a produção de um videoclipe ouriçou ainda mais o público que ocupava a região do Palco Budweiser, reservado ao som mais pesado do Porão. Com o acréscimo dos que ficaram até o fim no show do Titãs, que acabara minutos antes em um dos palcos principais, a panela de pressão à céu aberto se formou. Nem a demora em se encontrar a boa qualidade de som – uma constante no Porão, diga-se – subtraiu a expectativa e a disposição do público para abrir rodas de festa de diversos tipos e tamanhos e mantê-las em ação durante a cerca de hora e vinte minutos de duração do show. Parece pouco – e é -, mas a intensidade a agressividade do repertório fornecem ao show o que ele promete e de fato entrega: tons de inesquecível.
Das duas novas a mais conhecida é “Banzai Kamikaze”, lançada na semana passada na web (ouça aqui). Trata-se de um petardo nervoso com as guitarras navalhantes que marcam a volta ao thrash metal de raiz proposta pelo Cavalera. O guitarrista Marc Rizzo se aproveita bem do riff guia da música e o desfecho instrumental é de fato poderoso. A outra é “Babylonian Pandemonium”, com Max exercitando um vocal gutural nervoso com o refrão mais limpo - até onde isso é possível em se tratando dele -, e outra boa evolução instrumental. Iggor Cavalera, sempre uma incógnita nos últimos tempos de pouca atividade, vai muito bem, não só nas duas novas, mas em todo o material apresentado no show.
A falta de mais músicas novas no repertório poderia ser atenuada se a banda incluísse outras dos dois primeiros álbuns já lançados, mas a opção vai justamente em direção contrária, de modo que as músicas tocadas desta feita são quase as mesmas da turnê de 2012 (veja como foi no Rio). O que inclui a participação do enteado de Max, Ritchie, em “Black Ark”, a repetição da boa “Wasting Away”, do Nailbomb, e o artifício de juntar os clássicos do Sepultura, dois a dois, como se fossem uma música só. Se funciona e enlouce a plateia na maior parte do tempo, de outro lado subtrai passagens gravadas na cabeça de cada um dos fãs da banda brasileira de maior sucesso no exterior, o que definitivamente não é pouco. Outros destaques são a poderosa “Sanctuary” e “Killing Inside”, de novo com Rizzo mostrando grande performance individual.
Se Iggor mostra boa forma, a insistência de Max em não se cuidar fisicamente tira muito do que um show com músicas tão extremas e conhecidas do público poderia proporcionar. Assim, na maior parte do tempo Max toca pouco e age como um entretenedor de plateia, pedido para o público pular, abrir rodas de dança e assim por diante. Além de enfadonha, a atitude tira – e muito – a necessária agressividade do show, algo indispensável em se tratando de música extrema como a cunhada pelos Cavaleras no Sepultura. Nada que não faça, contudo, de performances como as de “Refuse/Resist”, com destaque para volta da pegada animal de Iggor, e de “Roots Bloody Roots” algo absolutamente memorável e indispensável de se reviver. Como, aliás, o povão ali estava esperando.
Set list completo:
1- Inflikted
2- Warlord
3- Beneath The Remains/Desperate Cry
4- Troops Of Doom
5- Sanctuary
6- Terrorize
7- The Doom Of all Fires
8- Wasting Away
9- Babylonian Pandemonium
10- Arise/Dead Embryonic Cells
11- Killing Inside
12- Refuse/Resist
13- Territory
14- Black Ark
15- Banzai Kamakazi
16- Innerself/Atitude
Bis
17-Roots Bloody Roots
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Marcos Bragatto viajou à Brasília à convite do festival.
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