Meio lá, meio cá
Em show compacto, CJ Ramone revive a banda que lhe deu notoriedade, mas não deixa de lado a carreira solo que segue à todo vapor. Fotos: Daniel Croce.
As tais mudanças confundem um pouco a própria banda. “Podemos seguir?”, pergunta CJ em tom jocoso quando um dos guitarristas erra o início de “Blitzkrieg Bop”, mais desejada que feriado prolongado. É a parte final do show, CJ se empolga e passa a caçoar de seus parceiros, que têm lá seus pedigrees. O guitarrista que erra é Dan Root, assim como o outro, Steve Soto, integrantes do Adolescents, e o baterista, um tanto confuso com o set list, é Michael Wildwood, do D Generation. Todos são apresentados antes de “I Won’t Stop Swimming”, aparentemente tocada pela primeira vez nessa turnê. Quem esperava músicas das bandas deles, contudo, ficou a ver navios: os três atuam como coadjuvantes de luxo, contribuindo muito bem com backing vocals e em belos solos, mais Root do que Soto. CJ, nessa formação, volta a tocar baixo.
O show começa com “Understand Me”, o single lançado no início de agosto, e que vai fazer parte do novo álbum de CJ, “Last Chance to Dance” (saiba mais), cuja faixa-título também é tocada. Difícil dissociar as duas do “Ramones way of life”, mas CJ defende o que chama de “American punk”, na visão dele um punk rock de raiz sem frescuras e que não usa roupas coloridas, como já defendia em 1996, ainda como integrante da banda que lhe deu notoriedade (entrevista aqui). As duas são muito boas, sendo que “Understand Me” é um ótimo início de show. O disco chave da turnê, no entanto, é “Reconquista”, lançado em 2012, que fornece seis faixas ao repertório. Uma delas é a boa “Three Angels”, dedicada aos outros três Ramones (Joe, Johnny e Tommy), que CJ espera reencontrar “no andar de cima ou no andar de baixo”.A música é uma das poucas de CJ que faz a plateia agitar, porque o que o povo quer – não tem jeito – é Ramones. A mediocridade é tanta que mesmo depois de “Blitzkrieg Bop” ser tocada segue o grito enfadonho de “Hey, ho! Let’s go!”. “Commando”, que inicia o desfecho da noite, é uma das que tem a maior roda de dança, talvez por ter sido regravada e tocada em tudo o que é show do Ratos de Porão. A primeira parte termina com “R.A.M.O.N.E.S.”, que poucos ali devem saber que se trata de uma música do Motörhead, feita em homenagem aos Ramones. A dobradinha final no bis é “53rd & 3rd”, música símbolo do baixista Dee Dee Ramone, ídolo de CJ, e “Sheena Is a Punk Rocker”. Mas o melhor de CJ nos Ramones é mesmo “Straight to Endure”, gravada originalmente com ele nos vocais no álbum “Mondo Bizarro” (1992), tocada na meiúca dos 70 minutos de show. Bem que CJ poderia incluir também outras nas quais ele emprestou o gogó aos Ramones, mas isso é papo para a próxima turnê, com mais um álbum solo em pauta. Que assim seja.
Set list completo:1- Understand Me
2- What We Gonna Do Now?
3- King Cobra
4- Judy Is a Punk
5- Ghost Ring
6- Low on Ammo
7- Psycho Therapy
8- Carry Me Away
9- Rockaway Beach
10- Last Chance To Dance
11- You’re the Only One
12- Straight to Endure
13- Three Angels
14- I Won’t Stop Swimming
15- I Wanna Be Your Boyfriend
16- Glad To See You Go
17- Clusterfuck
18- Commando
19- Blitzkrieg Bop
20- Do You Wanna Dance?
21- California Sun
22- R.A.M.O.N.E.S.
Bis
23- What’s Your Name
24- 53rd & 3rd
25- Sheena Is a Punk Rocker
Tags desse texto: CJ Ramone
Perfeita a descrição Bragatto. Além do “Reconquista” ser um discaço, talvez a melhor coisa que um ex-Ramone fez fora da banda, as musicas novas têm uma pegada excelente. E neguinho sequer se deu ao trabalho de prestar atenção. Mas valeu a noite, showzaço!