O Homem Baile

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Matanza não se intimida no Goiânia Noise e mostra força após terra devastada pelo Biohazard; Mechanics toca músicas novas com formação de duas baterias. Fotos: Flávio Monteiro/Divulgação GNF.

A pose de malvadão de Jimmy London, do Matanza: após devastação do Biohazard, grupo atropelou

A pose de malvadão de Jimmy London, do Matanza: após devastação do Biohazard, grupo atropelou

Não era o Matanza Fest, a edição desse ano começa hoje, no Rio (saiba mais). Não teve a volta do guitarrista Donida, tampouco a íntegra do álbum de estreia, “Santa Madre Cassino”. Mas era o Matanza a atração principal da noite de sexta do Goiânia Noise Festival, terra em que o grupo sempre teve severa legião de seguidores, a ponto de o festival ter se mudado somente na primeira noite para um lugar uma 10 vezes maior que o outro onde irão acontecer os shows no sábado e no domingo. E ainda por cima tocando depois de uma verdadeira comunhão hardcore que foi o show do Biohazard (resenha aqui) e de atrações de destaque do rock local. O veterano Mechanics, a cada vez mais afirmada Girlie Hell, o coletivo Sui Generis, bastante identificado com o Biohazard, por outro viés, e os novatos do Ghon. Era ou não era para ser uma noite daquelas?

Matanza é Matanza e não tem parada errada. Antes de o vocalista Jimmy London começar a mandar suas tiradas – que chegam a ser comemoradas – foram seis músicas emendadas no talo, sem parar. Do nada, o volume do som, que já vinha alto antes, subiu absurdamente e o público se acaba cantando as letras de cor e salteado, desde porradas como “Remédios Demais”; passando por bofetadas como “Odiosa Natureza Humana”, faixa-título da obra-prima da banda; até a dançante “Tudo Errado”. Em relação ao um show, digamos, normal do Matanza, são umas 10, 12 músicas a menos, o que, contudo, não condiz com a matemática do esporro que o grupo tão bem representa, ainda mais que todas as músicas, salvo parcas exceções, são aceleradas ao vivo. Às vezes até é difícil reconhecer logo de cara, mas quem se importa?

As exceções ficam por conta da romântica “Tempo Ruim”, na qual até o bebum se apaixona, mesmo com um copo de cerveja nas mãos; “Estamos Todos Bêbados”, quase uma cantiga de roda em volta de uma fogueira; e a bela “Mulher Diabo”, aquela mesmo do clipe censurado (relembre). A rigor houve certa dispersão de fãs do Biohazard durante o show do Matanza, até pelo avançar do horário, mas nada que abalasse a intensa participação do público com a banda, e sem que Jimmy, diferentemente de Billy Graziadei, do Biohazard, ficasse pedindo isso ou aquilo à plateia. A parte final é naturalmente uma covardia sem fim, com “Bom é Quando Faz Mal”, “A Arte do Insulto” e “Vem Pro Bar”, pérolas do imaginário de Marco Donida. O que só aumenta a expectativa para o que vem no novo álbum que já está sendo gravado.

Márcio Jr. à frente do Mechanics: duas baterias nem sempre em sincronia e três músicas novas para single

Márcio Jr. à frente do Mechanics: duas baterias nem sempre em sincronia e três músicas novas para single

Tocando pela 20ª vez em 20 edições, muito porque o líder do grupo, Márcio Jr., é um dos organizadores/fundadores do GNF, o Mechanics é hoje o verdadeiro bastião do rock goiano. E sempre se reinventando. O grupo, que já tocou com apresentação teatral simultânea e lançou disco tendo como encarte um livro de quadrinhos, hoje toca com duas baterias, nem sempre em sincronia. No show, no qual foram apresentadas as três músicas do novo single, realçam o resgate do grito por conta de Márcio Jr.; as guitarras hoje muito mais pesadas e desenvolvidas que há 20 anos; uma pegada no palco (isso nunca muda) que diferencia o grupo de outros mais jovens; o riff à Kiss da irônica “Fracasso”, que dá título ao tal single; e a mesmíssima vontade de fazer rock como o rock é: feio, sujo e pesado. Vamos ver quem tira essa banda do festival.

Com os percalços causados por atrasos que passaram até pela falta de teto no Aeroporto Santos Dumont, no Rio (!), algumas bandas tiveram o horário do show bastante reduzido, caso da Girlie Hell. Assim, o show desse ano não deixou a boa impressão em relação ao do ano passado – positivamente elas não dão sorte do Centro Cultural Oscar Niemayer. Mesmo assim, deu para usufruir de uma boa relação com o público, costurada já há alguns anos em que o quarteto, 100% feminino, é bom lembrar, tem tocado na cidade. O arremate foi com a pedrada “Gunpowder”, cujo clipe foi lançado este ano.

Melhor que o ano passado foi o show do Coletivo Sui Generis, mais à vontade em um palco espaçoso. O que pega é o grupo é muito apegado na repetição de si próprio, que por sua vez vem de fórmulas demasiadamente desgastadas. Não dá para os vocalistas agirem como se fossem covers de si próprios. Na abertura, o Ghon traz integrantes já experientes em uma nova formação voltada para o death metal arrastado e pesado, quase doom. O destaque é a pegada precisa do baterista e os vocais rasgados com timbre parecido com o de Phil Anselmo. Bela referência, mas ainda é muito chão para percorrer.

Bullas Attekita, da Girlie Hell, larga a guitarra e solta a voz pra valer: show cortado pelas circunstâncias

Bullas Attekita, da Girlie Hell, larga a guitarra e solta a voz pra valer: show cortado pelas circunstâncias

Set list completo Matanza

1- Ressaca Sem Fim
2- Remédios Demais
3- Odiosa Natureza Humana
4- O Último Bar
5- Tudo Errado
6- Clube dos Canalhas
7- Rio De Whisky
8- Mesa da Saloon
9- Carvão, Enxofre & Salitre
10- Pé na Porta e Soco na Cara
11- Mulher Diabo
12- Country Core Funeral
13- Eu Não Gosto de Ninguém
14- Todo Ódio da Vingança de Jack Buffalo Head
15- Tempo Ruim
16- Imbecil
17- Bom é Quando Faz Mal
18- Meio Psicopata
19- A Arte do Insulto
20- Estamos Todos Bêbados
21- O Chamado do Bar

Clique aqui para ver como foi o show do Biohazard no festival.

Marcos Bragatto viajou à Goiânia a convite da produção do Goiânia Noise Festival.

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