O Homem Baile

Boa acolhida

Em turnê que serve de teste para a nova vocalista, Arch Enemy enfim estreia no Rio e descarrega verdadeira avalanche de guitarras. Fotos: Daniel Croce.

Aprovada: a pequerrucha Alissa White-Gluz não teve descanso e vomitou pedregulhos sobre o público

Aprovada: a pequerrucha Alissa White-Gluz não teve descanso e vomitou pedregulhos sobre o público

Com quase 20 anos de atraso, e shows em São Paulo frequentes desde 2007, enfim o Arch Enemy faz a estreia no Rio, justamente na turnê em que a nova vocalista, Alissa White-Gluz, tem que mostrar serviço. A canadense, que esteve no mesmo Circo Voador há um ano, como coadjuvante do show do Kamelot (veja como foi), é o bendito fruto entre os homens e faz questão de destoar. Num universo onde o preto é a lei, surge toda de branco com os cabelos azulados tal qual uma alegoria bufã de Iemanjá na Marquês de Sapucaí. Pouco importa, já que não precisa de muito tempo para provar que sabe como vomitar pedregulhos sobre o público, e que a pioneira Angela Gossow, que ocupou o posto durante 14 anos, tem substituta à altura. Nem o fã mais devoto pensa no assunto durante os cerca de 90 minutos – sem acréscimos – que dura a apresentação.

Mas o Arch Enemy não é uma banda de metal com vocais femininos. É uma banda de guitarras comandada por Michael Amott, guitarrista encardido que ajudou a criar, além do próprio Arch Enemy, Carcass e Carnage, e que tem serviços prestados em diversas outras formações da música extrema. Com a ajuda luxuosa de Jeff Loomis, ex-Nevermore, convocado para o quinteto de última hora, em novembro, ele executa, ao vivo, o que o death/thrash metal tem de melhor: maratonas de guitarras com duelos, solos de parte a parte, riffs avassaladores e peso, muito peso. Engana-se aquele que acredita que o quesito “melódico” subtrai agressividade da banda; nunca se viu, no rol do death metal melódico, tanta raiva em estado bruto-metálico, sobretudo ao vivo, como no som do Arch Enemy.

O guitarrista e fundador do Arch Enemy, Michael Amott, esmerilha a guitarra no palco do Circo Voador

O guitarrista e fundador do Arch Enemy, Michael Amott, esmerilha a guitarra no palco do Circo Voador

Em “You Will Know My Name”, uma das novas, por exemplo, a duplinha das seis cordas se posiciona na beirada do palco e desanda a solar com precisão e velocidade impressionantes. A música é uma daquelas mais cadenciadas e que tem, do ponto de vista da canção, um irresistível apelo pop, numa bela amostra de que uma coisa (peso e agressividade) não é necessariamente divorciada de outra (apelo popular). Por isso o público, que passa boa parte do tempo girando em rodas de pogo e batendo cabeça com punhos cerrados, também esboça um vigoroso cantarolar. É o que acontece também em músicas como a já contagiante “Burning Angel” e sua espetacular introdução à custa das guitarras; “Ravenous”, outra do álbum “Wages Of Sin”, de 2001; e em “Nemesis”, já no encerramento em um bis curtinho, curtinho.

A turnê é a do álbum “War Eternal”, lançado no ano passado, já com Alissa nos vocais - a banda só anunciou a mudança após finalizar as gravações – e cinco músicas das novas são tocadas. A faixa-título e “As The Pages Burn” parecem ser as mais conhecidas do público, mas, além da já citada “You Will Know My Name”, é com “No More Regrets” que o encarnado Amott e Loomis mostram serviço esmerilhando as guitarras sem dó. O restante do material é bem parecido com o repertório do disco ao vivo mais recente da banda, o matador “Tyrants of the Rising Sun: Live in Japan”, de 2009. O que, para quem nunca viu a banda ao vivo chega a ser uma dádiva. O show praticamente não tem blábláblá, o que reforça a vitalidade da pequerrucha Alissa, cujas cordas vocais são exigidas um bocado, sem descanso. Ou seja: nova formação aprovada, com louvor.

Recrutado de última hora, Jeff Loomis, ex-Nevermore, não se intimida faz belo par com Michael Amott

Recrutado de última hora, Jeff Loomis, ex-Nevermore, não se intimida faz belo par com Michael Amott

Uma trapalhada sobre o horário do início do show (23h no ingresso e 21h30 segundo os produtores) fez a banda de abertura, Melyra, tocar muito cedo, para um público bem pequeno; depois o intervalo teria longas duas horas. A boa banda, só com garotas, investe em um metal tradicional bem tocado, mas que tem muito claras as referências, separadamente. Se uma das músicas é a cara do Iron Maiden (“Catch Me If You Can”), outra lembra Megadeth na hora. Nada que mais ensaio e, principalmente mais shows, não resolvam, visto que o grupo é bem novo. O destaque ficou no encerramento, quando “Trip to Hell” realça bons riffs e o peso concedido para uma banda de abertura, coisa rara em shows internacionais. Também ajuda não tocar cover para mostrar mais do trabalho próprio, embora a versão para “N.I.B.”, do Black Sabbath, tenha ficado legal.

Set list completo Arch Enemy:

1- Enemy Within
2- War Eternal
3- Stolen Life
4- Ravenous
5- No More Regrets
6- Taking Back My Soul
7- My Apocalypse
8- You Will Know My Name
9- Bloodstained Cross
10- Burning Angel
11- As the Pages Burn
12- Dead Eyes See No Future
13- No Gods, No Masters
14- Dead Bury Their Dead
15- We Will Rise
Bis
16- Snow Bound
17- Nemesis

Michael Amott e o baixista Sharlee D'Angelo agitam, com Alissa batendo cabeça no centro do palco

Michael Amott e o baixista Sharlee D'Angelo agitam, com Alissa batendo cabeça no centro do palco

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