O Homem Baile

Inverteu

Mesmo com banda, duo eletrônico Phantogram para na carência de musicalidade; The Outs mostra psicodelia de baixo impacto que tem tudo para crescer. Fotos: Diego Padilha/I Hate Flash.

A vocalista do Phantogram, Sarah Barthel, manchada de verde pela desagradável projeção de vídeo

A vocalista do Phantogram, Sarah Barthel, manchada de verde pela desagradável projeção de vídeo

O bom público que conseguiu se inscrever para mais uma edição do “Converse Rubber Tracks” compareceu ao Circo Voador em plena noite de terça para ver o primeiro show do Phantogram na América do Sul. Explica-se que o evento é gratuito e as entradas são distribuídas para quem consegue se inscrever na web. E que o Phantogram, só para constar, é um duo de pop eletrônico americano já com dois álbuns lançados, sendo que, para este show – boa! - trouxe uma formação de banda. A abertura teve o local The Outs, e ambas as bandas têm em comum certo conteúdo psicodélico. Uma pena que um vídeo projetado pelo patrocinador do evento tenha estragado a paisagem de ambos os shows, com uma mensagem repetida um milhão de vezes. Do peito para cima, todos os integrantes pareciam verdes como o Hulk. Incrível.

A formação de banda do Phantogram, contudo, não funciona. Ou, por outra, não dá certo em todas as músicas, porque os efeitos eletrônicos são tão abundantes que a guitarra tocada na maior parte do tempo por Josh Carter, o dono da boca, fica em segundo plano a ponto de parecer dublagem. Se a intenção é mostrar um show mais, digamos, orgânico, não é o que acontece em meio a baticuns de volume exorbitante. O tom humano acaba sendo dado pela vocalista Sarah Barthel, uma magricela de voz fofa que saltita de lado a outro do palco, quando não está tocando teclado ou guitarra. Todos no quarteto tocam muitos instrumentos, mas é a impressão que fica é que se trata de som de produtor mais preocupado com bases do que com a música propriamente dita. Até a bateria muitas vezes é sufocada por uma xará digital/eletrônica. Uma pena.

Sarah ataca nos teclados e Josh Carter, o dono da boca, toca guitarra nem sempre percebida pela plateia

Sarah ataca nos teclados e Josh Carter, o dono da boca, toca guitarra nem sempre percebida pela plateia

A coisa fica boa justamente quando o som de mentira dá espaço aos instrumentos, e quando afloram boas músicas escondidas atrás daquela zorra toda. Em “Turning Into Stone”, por exemplo, duas guitarras seguram a onda cavernosa da voz de Carter e o climão faz lembrar momentos sombrios da década de 1980. “Fall In Love”, hit do álbum novo, “Voices”, lançado no ano passado, tem um forte sotaque pop e é uma das poucas em que a música aparece como música de verdade. Não à toa é o momento em que o público do gargarejo mais vibra; boa parte só foi porque a entrada no evento é franca, repita-se. A dançante “Howling at the Moon”, que até refrão tem (!) ganha uma versão alongada e bem poderia ter fechado o set. No bis, “Celebrating Nothing” surge como uma omelete de esporro bem conduzido por Sarah. Se o show fosse só nesses termos, teria sido bem melhor.

Podem anotar aí que o The Outs é uma das gratas revelações do rock nacional. O grupo, que a bem da verde já vem sendo falado aqui e acolá, investe numa psicodelia de baixo impacto focada na fase mais importante dos Beatles, mas com outras referências no currículo que apontam para varias épocas do rock, daqui e de lá de fora. Imaginem um passeio que inclua XTC, Violeta de Outono e Oasis, entre outros, e que tenha como ponto de chegada nomes contemporâneos como o Tame Impala, mas sem soar como uma colcha de retalhos. Com apenas meia horinha e um público pouco interessado, o quarteto mandou oito músicas que, se não causam grandes reações, mostram bom potencial, sobretudo se a dupla de guitarristas Dennis Guedes e Vinícius Massolar se concentrar em tocar guitarra pra valer.

Linha de frente do The Outs, cuja psicodelia tem grande potencial de crescimento no rock nacional

Linha de frente do The Outs, cuja psicodelia tem grande potencial de crescimento no rock nacional

Isso porque o grupo sofre de um problema crônico do rock contemporâneo, o rodízio de instrumentos, reforçando a máxima de que quem toca tudo, quase sempre não toca nada bem. Um detalhe que não impede a banda de mandar sons concisos, apurados e de muito bom gosto, em que pesem as boas composições, coisa muitas vezes difícil de encontrar em bandas mais novas. As melhores da noite são a boa “Ainda Me Lembro”; “Start Over”, que fecha a noite em clima de Oasis; e “Over Before”, repleta de solos que, quando encorpados e tocados para um público mais disposto, vão atropelar ao vivo. Sim, se eles se definirem pelo inglês ou português, a coisa vai fluir bem melhor. Mais um pouco e o The Outs rouba a noite do Phantogram.

Set list completo Phantogram:
1- Nothing But Trouble
2- Running From the Cops
3- As Far As I Can See
4- Black Out Days
5- Turning Into Stone
6- Bad Dreams
7- Don’t Move
8- The Day You Died
9- Bill Murray
10- Blame You
11- Fall in Love
12- Howling at the Moon
13- When I’m Small
Bis
14- Mouthful of Diamonds
15- Celebrating Nothing

Set list completo The Outs:
1- Intro
2- Row
3- Mystic Ragtime
4- Whats Brings Me Down
5- Ainda Me Lembro
6- Once Before
7- Novadema
8- Start Over

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