Inverteu
Mesmo com banda, duo eletrônico Phantogram para na carência de musicalidade; The Outs mostra psicodelia de baixo impacto que tem tudo para crescer. Fotos: Diego Padilha/I Hate Flash.
A formação de banda do Phantogram, contudo, não funciona. Ou, por outra, não dá certo em todas as músicas, porque os efeitos eletrônicos são tão abundantes que a guitarra tocada na maior parte do tempo por Josh Carter, o dono da boca, fica em segundo plano a ponto de parecer dublagem. Se a intenção é mostrar um show mais, digamos, orgânico, não é o que acontece em meio a baticuns de volume exorbitante. O tom humano acaba sendo dado pela vocalista Sarah Barthel, uma magricela de voz fofa que saltita de lado a outro do palco, quando não está tocando teclado ou guitarra. Todos no quarteto tocam muitos instrumentos, mas é a impressão que fica é que se trata de som de produtor mais preocupado com bases do que com a música propriamente dita. Até a bateria muitas vezes é sufocada por uma xará digital/eletrônica. Uma pena.
A coisa fica boa justamente quando o som de mentira dá espaço aos instrumentos, e quando afloram boas músicas escondidas atrás daquela zorra toda. Em “Turning Into Stone”, por exemplo, duas guitarras seguram a onda cavernosa da voz de Carter e o climão faz lembrar momentos sombrios da década de 1980. “Fall In Love”, hit do álbum novo, “Voices”, lançado no ano passado, tem um forte sotaque pop e é uma das poucas em que a música aparece como música de verdade. Não à toa é o momento em que o público do gargarejo mais vibra; boa parte só foi porque a entrada no evento é franca, repita-se. A dançante “Howling at the Moon”, que até refrão tem (!) ganha uma versão alongada e bem poderia ter fechado o set. No bis, “Celebrating Nothing” surge como uma omelete de esporro bem conduzido por Sarah. Se o show fosse só nesses termos, teria sido bem melhor.Podem anotar aí que o The Outs é uma das gratas revelações do rock nacional. O grupo, que a bem da verde já vem sendo falado aqui e acolá, investe numa psicodelia de baixo impacto focada na fase mais importante dos Beatles, mas com outras referências no currículo que apontam para varias épocas do rock, daqui e de lá de fora. Imaginem um passeio que inclua XTC, Violeta de Outono e Oasis, entre outros, e que tenha como ponto de chegada nomes contemporâneos como o Tame Impala, mas sem soar como uma colcha de retalhos. Com apenas meia horinha e um público pouco interessado, o quarteto mandou oito músicas que, se não causam grandes reações, mostram bom potencial, sobretudo se a dupla de guitarristas Dennis Guedes e Vinícius Massolar se concentrar em tocar guitarra pra valer.
Isso porque o grupo sofre de um problema crônico do rock contemporâneo, o rodízio de instrumentos, reforçando a máxima de que quem toca tudo, quase sempre não toca nada bem. Um detalhe que não impede a banda de mandar sons concisos, apurados e de muito bom gosto, em que pesem as boas composições, coisa muitas vezes difícil de encontrar em bandas mais novas. As melhores da noite são a boa “Ainda Me Lembro”; “Start Over”, que fecha a noite em clima de Oasis; e “Over Before”, repleta de solos que, quando encorpados e tocados para um público mais disposto, vão atropelar ao vivo. Sim, se eles se definirem pelo inglês ou português, a coisa vai fluir bem melhor. Mais um pouco e o The Outs rouba a noite do Phantogram.Set list completo Phantogram:
1- Nothing But Trouble
2- Running From the Cops
3- As Far As I Can See
4- Black Out Days
5- Turning Into Stone
6- Bad Dreams
7- Don’t Move
8- The Day You Died
9- Bill Murray
10- Blame You
11- Fall in Love
12- Howling at the Moon
13- When I’m Small
Bis
14- Mouthful of Diamonds
15- Celebrating Nothing
Set list completo The Outs:
1- Intro
2- Row
3- Mystic Ragtime
4- Whats Brings Me Down
5- Ainda Me Lembro
6- Once Before
7- Novadema
8- Start Over
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