O Homem Baile

Foco apurado

Far From Alaska exala contemporaneidade em show intenso no aniversário do Imperator Novo Rock, berço das novas bandas no Rio. Fotos: Bruno Eduardo.

A duplinha danada do FFA: a performática Emmily Barreto e a tecladista 'faz de tudo' Cris Botarelli

A duplinha danada do FFA: a performática Emmily Barreto e a tecladista 'faz de tudo' Cris Botarelli

Já passa da meia-noite de uma quinta-feira no subúrbio do Méier e o público não arreda o pé do Imperator de jeito nenhum. O motivo é nobre: o show de encerramento da noite comemorativa de um ano do projeto Imperator Novo Rock, que uma vez por mês (só?) abre espaço para duas bandas do novo cenário carioca, sempre as quintas, com preços acessíveis. Mas isso é só o pretexto para a casa receber a primeira banda “internacional” do evento. E é com ares de headliner que o Far From Alaska sobe ao palco, para, enfim, fazer um show no Rio com bom público e estrutura à altura do tamanho que a banda vem conquistando já há algum tempo. Surpreso com a ótima recepção, o quinteto não decepciona.

O show é todo baseado no álbum de estréia, “modeHumam”, lançado no ano passado e que tem – diga-se – mais músicas do que aquelas que se apertam em uma horinha que dura a apresentação. Ou, por outra, uma hora intensa de uma sonoridade consistente e bastante peculiar, muito embora não seja tão difícil identificar as fontes diversificadas que deságuam no som do FFA. “Isso aqui tá surreal”, diz a vocalista Emmily Barreto, naquela linha de não esperar tanta gente na madrugada de quinta para sexta. O ponto alto do show, embora conciso o bastante para se transformar numa bola de neve atropeladora, é a trinca “Communication”/“Rainbows”/“Mama”, quase uma síntese do trabalho do grupo, com realce para guitarras pesadas (de verdade), baixo e bateria pulsantes, a eletrônica do bem encorpando as músicas e as vocalizações ora afinadas ora esporrentas da duplinha feminina.

Emmily rasga a voz, mas também sabe usar falsetes e efeitos menos barulhentos durante o show

Emmily rasga a voz, mas também sabe usar falsetes e efeitos menos barulhentos durante o show

Em tese, o Far From Alaska era para dar errado. Uma banda longe demais das capitais, com formação enxuta e ao mesmo tempo não com uma, mas duas vocalistas, e que pega firme na muitas vezes ingrata mistura de rock com eletrônico. Ocorre que a banda sabe muito bem até onde cada uma dessas partes vai, sem pender para um lado ou outro. É rock dos bons, é pesado e é eletrônico. E, o principal, nenhuma banda nesse Brasil varonil compreendeu tão bem o rock contemporâneo produzido por Jack White e seus projetos paralelos; por Josh Homme e amigos; e – por que não? – por bandas menos relevantes como o Black Keys, como o Far From Alaska. Formada a sonoridade, o bolo cresce com boas composições, muitas colantes de primeira, em uma ou duas ouvidas.

Não é por acaso que o público já conhece e se deleita em músicas como “Deadmen”, que cresce tanto ao vivo a ponto de fazer o povão abrir rodas de dança e até iniciar uma suave rodada de stage dives. Ou “Communication” – de novo -, de forte sotaque pop e que salienta os dotes de Emmily, e da parceira de esporro Cris Botarelli. Pode não parecer, mas a tecladista encorpa a música do Far From Alaska, fazendo o diabo com efeitos sobre efeitos, pontuais, em toda a noite, e até com uma inusitada lap steel guitar, na boa “Politiks”. Em “Dino Vs Dino”, aquela do clipe, já na parte final, o palco fica cheio de gente, dada a empolgação com o talvez grande hit do quarteto. Um desfecho de ouro para uma noite de festa, e que pode servir de exemplo para essa geração aflorada pelo Imperator Novo Rock.

O vocalista e guitarrista Raphael Heiderich se assusta no início, mas logo embala no bom show do Hell Oh

O vocalista e guitarrista Raphael Heiderich se assusta no início, mas logo embala no bom show do Hell Oh

Se o público impressionou o Far From Alaska, mais cascudo, imagina para os imberbes do Hell Oh. Visivelmente afrontado pela força da plateia, o quarteto, contudo, encara o desafio e vai se soltando no palco na medida em que as músicas vão agradando. E não são poucas. Na parte final, a boa “Flag”, cujo riff vira refrão de alto poder de combustão, contagia o público que já vinha se divertindo. “Naked Gun” revela que, mesmo tímido, o vocalista/guitarrista Raphael Heiderich se mostra ótimo performer, com um inglês redondinho, trazendo semelhanças com pares contemporâneos como Arctic Monkeys, Placebo, Strokes e – forçando a memória - David Bowie.

O som do quarteto é uma mistura nem sempre bem misturada de tudo isso, com uma música pendendo para um lado, outra para outro, e assim por diante. O grupo toca várias das músicas do bom álbum de estréia e ao menos uma nova, “Ride”, toda trabalhada na melodia, com boas guitarras se entrecruzando. Outras que caem muito bem são “Shake Up”, que cresce ao vivo e faz a roda de dança comer solta; e a boa “Empty Speech”. Só é preciso pensar melhor a ordem das músicas do set list, de modo que o show não demonstre cansaço justamente no final. Por que, no rock, diferentemente da vida, a última impressão é a que fica.

O vocalista Kadu Eduardo, do Verbara: brega sem noção transforma o salão em terrível micareta

O vocalista Kadu Eduardo, do Verbara: brega sem noção transforma o salão em terrível micareta

E é péssima a impressão deixada pelo Verbara. O grupo investe no brega sem noção completamente defasado de qualquer resgate que se julgue digno de uma nova corrente musical. As músicas são decalques baratos de ícones do gênero, como se a banda fosse cover, e as letras, sofríveis; imagine o verso “Sofria Sofia”… O vocalista Kadu Eduardo se porta como um Roberto Carlos caricato cumprimentando fãs na beirada do palco, e, depois de uma performance mal ensaiada e constrangedora de um casal do meio do salão, desanda a distribuir rosas(!). O repertório inclui sucesso de artista emepebista de gosto duvidoso, em um arranjo ainda pior, nível Ray Conniff de pasmaceira. Mas o pior mesmo é que o público adora e transforma o salão numa terrível micareta. Alô Imperator Novo Rock, vamos prestar mais atenção.

Set list completo Far From Alaska:

1- Thievery
2- Another Round
3- Deadmen
4- Politiks
5- Rolling Dice
6- Communication
7- Rainbows
8- Mama
9- About Knives
10- Dino Vs Dino
11- Monochrome

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Comentários enviados

Existem 5 comentários nesse texto.
  1. Dora em julho 31, 2015 às 17:11
    #1

    Visivelmente preconceituoso seu comentário sobre a banda Verbara, que esbanjou um espetáculo. Trazendo para a noite um belo início de festa que deixou uma tarefa difícil de ser seguida após o término. Procure conhecer mais sobre o projeto e se aprofundar na poesia das letras que não são apenas diversão. Duvido que entenda metade.

  2. Helson Luiz Trindade em julho 31, 2015 às 17:22
    #2

    Que shows maravilhosos foram esses de ontem à noite! Não conhecia as duas primeiras bandas e entrei na metade do show da Verbara, cantei, me animei, vi até um potencial legal nos caras, já que o brega pode ser chique em alguns casos. Mas o que me chamou mais atenção foi o Hell Oh!, com seu rock bem britânico. Viajei no som dos caras. Lembrava um pouco o Teenage Funclub.
    O Far From Alaska arrebentou num show muito bom e muito avançado!
    Foi a minha primeira vez no Imperator Novo Rock e posso dizer que os tempos, sim, mudaram, pois nunca pensei ver bandas desse nível por 10 conto!
    Vida eterna ao Imperator Novo Rock!

  3. João Bertrame em julho 31, 2015 às 18:25
    #3

    Achei a matéria muito boa. Assisti às três bandas e confesso que a primeira não gostei, achei que não teve nada a ver com o conceito do dia. Aquilo não é rock, é praticamente uma banda de coreto de baile. Nada contra, mas não deveria se misturar no meio. Espero que isso não seja o NOVO ROCK que tanto falam.

  4. Amigo em julho 31, 2015 às 19:45
    #4

    Irmão,
    Nos anos 80 o rock teve abertura na mídia e começou a ser popular no Rio e depois no Brasil por causa de uma banda chamada “Blitz” que realmente era uma das menos rockeiras da sua geração. Ela fazia graça e a ponte entre o rock e o popular.

    Cada banda tem a sua função! A Verbara é popular, mistura sim elementos do rock com ska, com rockabilly, dentro de uma linguagem e pode ajudar nessa ponte. Não delimite o rock dentro de uma fronteira pessoal, olhe para o todo. A Verbara tem sua função.

    A Verbara em números na internet e é ainda infinitamente inferior a Far From Alaska, e ontem a maioria do público era da competente banda de Natal, e se você mesmo disse que todo mundo caiu na dança de Verbara e virou uma micareta tivemos um fato: a Verbara agradou muito aos rockeiros fãs do FFA.

    Você poderia ter feito as mesmas críticas a Verbara mantendo seu estilo de escrita e a coerência do resto do texto. Realmente na parte da Verbara seu texto se perdeu e você começou a fazer ataques muito apaixonados. Me veio uma sensação: você se acha muito “roquenroll” e ficou puto quando automaticamente a Verbara começou a fazer você bater seus pézinhos no Imperator. E quando alguma rima do Kadu fazia você esboçar um sorriso? Realmente deve doer pra alguém tão rock.

    Sai do armário irmão.

    Ah! O vocalista Kadu da Verbara é a mistura do Axl Rose com Reginaldo Rossi: é o nosso Axl Rossi.

    Bjs. Paz pra você.

  5. Elisa Caldeira em agosto 1, 2015 às 4:35
    #5

    Me parece no mínimo equivocada essa critica ao show do Verbara, onde o jornalista começa dizendo que a impressão deixada é péssima, e conclui ao final da matéria que “o público adora”. Quem teve a péssima impressão então, o jornalista cobrindo o evento? Quanto ao recado à organização do evento (”alô Imperator”), vale ressaltar que a presença do Verbara nessa noite foi fruto de voto popular, e a vontade do público se refletiu durante o show. Show esse muito bem executado em todos os quesitos que compõem uma apresentação ao vivo. Caro jornalista, saiba que gosto cada um tem o seu, e havia muito mais de UM ali, o público que elegeu o Verbara para tocar naquela noite. Esperamos, como público, menos preconceito e uma visão mais aberta de alguém que se diz jornalista de rock. Lamentável!

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