O Homem Baile

Monstro restaurado

Em apresentação renovada cênica e musicalmente, Slipknot segue firme na dianteira da música pesada contemporânea. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Ariel Martini (1, 2 e 4) e Fernando Schlaepfer (3).

Monstro falante: o carismático vocalista Corey Taylor exibe seu novo figurino no palco do Rock In Rio

Monstro falante: o carismático vocalista Corey Taylor exibe seu novo figurino no palco do Rock In Rio

Um público na mão, uma noite de shows interessantes, um palco novo para mostrar, nove máscaras diferentes e cada vez mais aterrorizantes, dois integrantes novos e cinco músicas de um ótimo disco novo para tocar. Muitas vezes o novo. Este é o cenário encontrado pelo Slipknot, que volta ao Rock In Rio como atração principal depois de uma estonteante apresentação em 2011 (veja como foi). Curiosamente, a Cidade do Rock parece mais vazia em relação à lotação dos outros dias, como se a informação de ingressos esgotados em todas as datas não fosse das mais fidedignas. Não na beirada do palco. Não nas intensas e incessantes rodas de pogo que os telões insistem em ignorar. Não para o Slipknot e sua horda de seguidores que sabem muito bem o que fazer diante da missa. Tudo muito bem coreografado.

Do tal disco novo, o representativo “.5: The Gray Chapter”, lançado este ano, “The Devil in I” é de longe a que mais causa impacto na plateia. Não só pela força da canção em si, uma das mais porradas desse trabalho e que funciona muito bem ao vivo, mas por ser a primeira em que o discurso do vocalista Corey Taylor funciona. Suas falas chamando o público de “família” se tornariam repetitivas e enfadonhas durante toda noite. “Sarcastrophe” é outra das novas que vai bem, mas aí não conta muito porque, na abertura, o impacto visual atropelaria de uma forma ou de outra: uma cabeça de demônio gigante sobre a bateria, chamas lançadas que nunca se apagam em uma verdadeira grelha de churrasco gigante que cruza o palco, e os tradicionais, porém não menos impactantes kits de percussão erguidos por sistemas pantográficos, um de cada lado do palco. Tá bom pra você?

O palhaço Clow, aniversariante da véspera, ganha um um 'parabéns pra você' do público

O palhaço Clow, aniversariante da véspera, ganha um um 'parabéns pra você' do público

Mas tem mais. Tem a capacidade que o Slipknot desenvolveu de criar canções de fácil aceitação, com forte sotaque pop, sem retroceder um milímetro dentro da proposta pesada, horrorizante e “from hell” que o grupo adota desde os primórdios, quando ainda era tido como braço oficial do nu-metal. Por isso o crescimento para todos os lados, fora de eventuais fronteiras de subgêneros, com o noneto(!) espertamente usando tudo que é de ruim no mercado musical a seu favor. Não é ao acaso que músicas como a chicletuda “Before I Forget” e “Wait and Bleed”, só para citar duas, curiosamente separadas pela sugestiva “Killpop”, outra das novas, sejam cantadas a plenos pulmões, e não é de hoje. E aí o discurso de vencedor e a favor do heavy metal como um todo usado por Taylor em determinado momento da noite faz todo o sentido. Mas família, não, né?

No contrapeso, o leque de fãs se abre tanto que uns passam a ter comportamento de seguidores de outros grupos que descambam para a fé cega. Imaginem que durante “Spit It Out”, o público já sabe que é hora em que o vocalista pede para todos na plateia se abaixarem para depois pular, e o processo já começa no momento certo, tudo ensaiadinho. E ai de quem ficar de pé. Sinal de alerta nível Los Hermanos ligado. Em “Duality” - aí, sim -, um momento inesperado, quando Corey Glover faz a multidão cantar “Parabéns Pra Você” para o palhaço Clow, que fez aniversário na véspera. Entre os integrantes, os olhos se voltam para o novo baixista, Alessandro Venturella, que não compromete e tem até um mínimo momento de dedilhado solo, e para o baterista Jay Weinberg. Com o pedigree de ser filho Max Weinberg, da banda de Bruce Springsteen, ele manda muito bem e deixa na história o genial Joy Jordison que saiu em 2103. Só falta o deslocamento da bateria que acontecia de outras épocas.

Corey Taylor fica pequeno diante da multidão do Rock In Rio, quando vai para a passarela do palco

Corey Taylor fica pequeno diante da multidão do Rock In Rio, quando vai para a passarela do palco

Quem segue firme e forte, e tocando muito bem é o guitarrista Mick Thomson, cujos solos renovam a força da técnica em meio à desordem generalizada que é o que interessa em um show do Slipknot. Ele debulha certinho na boa “Vermilion” e em “Psychosocial”, que tem um lindo cantarolar por parte do público, só para ficarmos em dois exemplos. Ressalta-se que a inclusão das músicas novas em nada subtrai a força do repertório escolhido pelo grupo, que não mexeu em pontos nevrálgicos do show, no que se percebe na reação do povaréu, seja nas intermináveis e felizes rodas de pogo ou nos punhos cerrados dos demais. Mas que isso, o lançamento do novo álbum e essa subsequente turnê com boa repercussão renova uma banda que quase encerrou as atividades depois da morte do baixista Paul Gray. Saber se renovar sem deixar para trás premissas e convicções. É por aí se compreende essa horda desordenada chamada Slipknot.

Set list completo:

1- Sarcastrophe
2- The Heretic Anthem
3- Psychosocial
4- The Devil in I
5- AOV
6- Vermilion
7- Wait and Bleed
8- Killpop
9- Before I Forget
10- Sulfur
11- Duality
12- Disasterpiece
13- Spit It Out
14- Custer
Bis
15- (sic)
16- People = Shit
17- Surfacing

Vista geral do palco com o novo cenário que inclui a cabeça do demônio e muita pirotecnia

Vista geral do palco com o novo cenário que inclui a cabeça do demônio e muita pirotecnia

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