Paulada
Em boa forma, Testament compensa longa ausência no Rio com show com repertório variado e volume de som generoso. Fotos: Nem Queiroz.
Não que o repertório dos shows pelo Brasil tenha mudado para o Rio. É o mesmo de toda a turnê brasileira, que começa com uma trinca matadora, de gente que sobe no palco para mostrar que o bicho vai pegar sem trégua. “Over The Wall”, a primeira delas, que ganhou a posição de “Rise Up”, a segunda, durante o giro, já emplaca um cantarolar por parte do público mostrando que este também não tinha atravessado as catracas para ficar de braços cruzados, resultando numa interação que só teria fim junto com o show em si. A música leva o por vezes subestimado guitarrista Alex Skolnick a empunhar a guitarra na beirada do palco, uma cena que se repetiria a noite toda. “Rise Up” parece talhada para a multidão, que, ou se acaba no pit, ou canta tudo com os punhos erguidos ou as duas coisas juntas. A cascuda “The Preacher”, um típico thrash metal de raiz, aparece numa velocidade abissal. Começa bem ou não?
Mas thrash metal lembra Metallica e quando o Testament ainda se chamava The Legacy, as duas bandas partilhavam o mesmo frescor da invenção de um novo subgênero do metal. Se o Metallica hoje se vê às turras com o próprio sucesso planetário, o Testament segue muito bem obrigado no segundo escalão, e sem ver o seu público dançando micareta em grandes arenas. Aqui, sob a lona em que tocou há 26 anos, o quinteto tem o total domínio do público que lota tudo o que é canto. Por isso os punhos erguidos em coreografia ensaiada de “More Than Meets the Eye” soa como um daqueles momentos que só o heavy metal pode proporcionar. A música salienta como o público vibra com o material mais recente, e, por vezes, deixa músicas mais antigas passarem batido, como acontece em “Practice What You Preach”.A música aparece em um bloco “old school”, como diz o vocalista Chuck Billy, no meio de “Into The Pit”, cujo título já define a maçaroca de carne, osso, músculos e alma que se quebra ali na frente do palco, e “The New Order”, esta sim, esgoelada por todo mundo, e que recebe um fabuloso duelo de Alex com um nervoso Eric Peterson, perseguindo as escalas do braço da guitarra como quem vai tirar mãe da forca. A formação ainda tem um malabarista, mas eficiente Steve DiGiorgio no baixo, espécie de andarilho do bem do metal mundial, e que gravou o álbum “The Gathering”, e o batera Gene Holgan, outro que já rodou meio mundo, e que está em grande forma, física e técnica, o que, aliás, nunca lhe faltou. Contudo, nada é melhor do que ver Chuck Billy se mantendo como um grande frontman depois de todos esses anos e de ter superado um câncer. Não é mole, não.
Outras músicas de destaque em um show com quase nenhum blábláblá são “Native Blood”, com o refrão cantado a plenos pulmões; “Legions Of The Dead”, com direito a outro solo matador de Peterson; e o duelo de guitarras melódicas de “Henchmen Ride”. A música troca de posição no set com “Dog Faced Dogs”, possivelmente por um erro de Billy, o que diverte os músicos no palco. O mesmo acontece quando o vocalista não consegue se lembrar de qual disco é tal música. Não se lamente, Chuck, o mundo hoje é assim mesmo e quase ninguém se importa. O negócio agora é a banda voltar à cidade com mais frequência, e, de preferência, mostrando as músicas de um novo álbum. Pelo que se viu ontem, oito anos de espera não dá. Mas não dá mesmo.Set list completo:
1- Over the Wall
2- Rise Up
3- The Preacher
4- Dog Faced Gods
5- Henchmen Ride
6- Native Blood
7- Legions of the Dead
8- True Believer
9- Into the Pit
10- Practice What You Preach
11- The New Order
12- D.N.R. (Do Not Resuscitate)
13- 3 Days in Darkness
14- Disciples of the Watch
Bis
15- More Than Meets the Eye
16- The Formation of Damnation
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