Pé direito
Hatefulmurder segue com o thrash ultrapesado na estreia da nova vocalista no Rio, e Unmasked Brains mostra personalidade com metal contemporâneo. Fotos: Nem Queiroz.
O show é baseado no repertório do álbum mais recente do quarteto, o bom “No Peace”, lançado o passado. “No Peace For The Wicked”, que abre esse disco, é uma das melhores da noite, com um élan sombrio já na introdução que aponta para um início matador, logo convertido na clássica cadência thrash pra fazer bater cabeça. É o que acontece no meio da plateia, quase sempre de comportamento contemplativo. Outra que mexe com o público é “Caught By The Arms Of Death”, cujo riff matador é um convite à agitação. Ajudada por um volume alto pacas – como em toda a noite, diga-se – a música descamba para um final brutal que realça o entrosamento do trio. O guitarrista Renan Campos, contudo, se mostra muito econômico nos solos, talvez porque o grupo se ressinta de um segundo guitarrista. É mais difícil fazer o thrashão deles com uma guitarra só, ainda mais ao vivo.
Embora seja só o primeiro show com Angélica, o grupo já mostra uma música nova, “My Battle”, uma porrada de melodia enviesada que mostra que a banda não está para brincadeira. E que Renan e o baixista Felipe Modesto podem contribuir muito bem com os backing vocals. O que se percebe é que, quanto mais eles tocarem essa música – ontem foi a primeira vez – mais ela vai se desenvolver. O show termina com “Scars to God”, um sopapo thrash em que brilha o trabalho de guitarra de Renan e que parece ser o hit deles, com um refrão para se cantar junto; é preciso fazer outras como essa! Antes, o baterista Thomás “Animal” Martin tem um bom momento solo, mas nem precisava. Com excelente performance em um kit de bateria enxuto, é ele o motorzaço que conduz o Hatefulmurder a essa usina sonora de fazer esporro.Antes quem tocou foi o Unmasked Brains, grupo dos primórdios dos anos 1990, que voltou à cena há poucos anos. E voltou bem melhor que antes. Da banda identificada com o thrash de raiz, o quarteto agora reaparece como um compêndio de várias correntes do metal, o que lhe confere muito mais personalidade que antes. A começar pelo uso de uniformes estampados com circuitos eletrônicos e, curiosamente, se levarmos em conta o nome do grupo, o uso de máscaras, em algumas músicas por parte de todos os integrantes, e o tempo todo pelo incógnito guitarrista LGC, espécie de headbanger rasta futurista movido à bateria. O que ele não esconde são as ótimas intervenções o tempo todo, não só quando debulha a guitarra em solos, em geral velozes e repletos de virtuose.
É assim em “Little God Ivory”, logo na abertura, e na atualíssima “Corrupt”, quando o vocalista/guitarrista Reinaldo Leal, cujo gogó faz diferença, conversa com a própria máscara, só para citar duas. Na segunda, todos usam máscaras também e uma delas é lançada para o público. O repertório é a íntegra do único álbum do UB, “Machina”, que saiu no ano passado, com as músicas em outra ordem. Uma delas, “Cloistered Life”, originalmente gravada no split álbum “Garage Voices”, lançado pela famosa casa de shows, berço do underground carioca dos anos 90, reaparece totalmente remodelada, sem, porém, abandonar suas raízes thrash, entenda-se Megadeth. Não por acaso é uma das que o público mais agita, sobretudo no arremate matador. A produção de palco inclui também um pano de fundo com o logotipo da banda iluminado, em outro efeito que funciona bem, ainda mais no ótimo palco do Imperator.Também de inspiração clássica do thrash metal, “Controversies Of The War” tem o baixista Denner Campolina com um contrabaixo de pé (parece acústico, mas não é), tocado com arco, artifício ousado para uma banda de heavy metal, mas que cai muito bem, em meio a uma ótima sessão de esporro, com um trecho lento à “Master Of Puppets”, do Metallica, no meio. Embora curta, “Numbers” revela uma ótima melodia, sufocada – e isso é bom – pela massa sonora do quarteto, num bom exemplo de que música pesada sempre pode ser música boa, e com apelo junto ao ouvinte minimamente interessado. Mais uma ótima noite do projeto Imperator Novo Rock, que precisa seguir abrindo espaço para o heavy metal. Alguém aí falou Imperator Novo Metal?
Set list completo Hatefulmurder:1- Worshipers Of Hatred
2- Gates Of Despair
3- Caught By The Arms Of Death
4- Black Chapter
5- No Peace For The Wicked
6- Solo de bateria
7- Fear My Wrath
8- My Battle
9- Scars to God
Set list completo Unmasked Brains:
1- Little God Ivory
2- Lost Control
3- Corrupt
4- Life Has No Meaning
5- Cloistered Life
6- Numbers
7- Controversies Of The War
8- The New Order Of Desorder
9- A Maquina
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