Infernal
Com muito vigor, Venom Inc. toca clássicos que influenciaram gerações do metal extremo pelo mundo, em ótimo show no Rio. Fotos: Marcos Hermes.
E é justamente a caçula “Prime Evil” a escolhida para abrir a noite, uma opção um tanto duvidosa, já que ela não é das mais empolgantes, e pelo visto a estratégia é ajustar o som. Demolition realmente sofre com o equipamento de baixo, de modo que é só com “Die Hard” que o público, mais ansioso que a banda, vem abaixo. Era só o esboço da abertura de uma impossível roda de pogo, em um local tão apertado e entupido de gente. O que, de fato, aconteceria em números de maior patente, como “Welcome to Hell” e “Sons Of Satan”. Em “Schizo”, uma pedrada das boas, um único incauto consegue subir no palco para depois surfar lindamente sobre o público. Depois, foi só estapeamento generalizado até o final.
O trio não é de muitas palavras, a não ser para falar bem do Rio, incluindo uma passagem por Copacabana, no caso de Demolition, e quando Mantas se orgulha de ter composto uma música que originou um gênero musical, ao menos no nome, ao anunciar “Black Metal”. Não, Mantas, o Venom não contribuiu para criar só o black metal, mas é o ponto de partida para muito mais que isso, é pedra fundamental para praticamente todas as tendências no metal extremo desde, ao menos, 1982, ano em que o disco foi lançado. Na música, tocada com uma naturalidade quase juvenil, realça a incrível pegada de Abaddon. Na ausência do vocalista/baixista Cronos, único da formação clássica que não está no palco, é ele o preferido da turma.“Bloodlust” é outra em que o baterista se supera, impingindo uma velocidade abissal, e a música ainda é valorizada por um ótimo solo de Mantas; e não são muitos durante a noite. É o bloco que engrena para o final, que tem ainda “Sons Of Satan”, outra em que a roda de dança brota desafiando as leis de Newton, e “Welcome to Hell”, cujo riff cativante, além do título, é uma ótima tradução para o ambiente infernal – repita-se – em que a casa se torna. E vale o registro de que o som está redondinho, reforçando a boa performance do trio. A dobradinha “Buried Alive”/“Raise the Dead”, mais cedo, é outro momento em que se salienta grande vitalidade, deixando na poeira muita banda mais jovem, cuja radicalidade de ocasião não resiste a um, dois álbuns.
Por que o Venom, seus integrantes e toda a sua obra, sobretudo a fase inicial, que ocupa mais da metade do repertório do show, tem o Mal nas veias, e traduz como poucos os ensinamentos cravados a ferro e fogo pelo Black Sabbath no começo de tudo, lá no final dos anos 1960. Atmosfera que se acentua também em “Warhead”, na cantoria resultante em “Countess Bathory”, e, ainda, nos desfecho, com “Witching Hour”, na qual o público percebe que ali é tudo ou nada e se acaba de lado a lado do palco. Uma lista de ausências poderia ser encabeçada por “In League With Satan” e “At War With Satan”, ou pode vir à tona a sugestão de uma turnê com a íntegra dos dois primeiros discos, mas a verdade é que não há o que reclamar quando se está diante da história. E vivinha da silva.Set list completo:
1- Prime Evil
2- Die Hard
3- Don’t Burn the Witch
4- Live Like an Angel (Die Like a Devil)
5- Buried Alive
6- Raise the Dead
7- One Thousand Days in Sodom
8- Warhead
9- Schizo
10- The Seven Gates of Hell
11- In Nomine Satanas
12- Bloodlust
13- Sons of Satan
14- Welcome to Hell
15- Black Metal
16- Countess Bathory17- Witching Hour
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