Fora da ordem
Em apresentação vacilante e aparentemente pouco ensaiada, Strokes revê álbum de estreia quase inteiro no encerramento do Lollapalooza. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara/MRossi.
Não é isso, contudo, que parece fora da ordem como diz o título. É ali, em cima do palco, que as cinco peças do quebra cabeças não se encaixam. Ou, por outra, e em nome da precisão, é Julian Casablancas que parece girar em outra rotação, em comparação com os seus parceiros. Tanto que cada intervalo entre uma e outra música parece uma assembleia geral de condomínio para saber o que e como será feito. Ao todo, em 17 músicas, apenas em uma oportunidade uma delas é tocada colada na outra, na dobradinha “Is This It”/“Threat of Joy”. De resto, é um pára-continua que tira o pique de qualquer show, ainda que o público se mostre bastante empolgado, sobretudo em músicas mais conhecidas como “Someday” ou na altamente cantarolável “Reptilia”, assim recebida antes de o vocal entrar.
É bem verdade que o Strokes anda meio encostado nos últimos tempos, quase sempre com os integrantes mergulhando em projetos solo – Casablancas e o guitarrista Albert Hammond, Jr. estiveram nesse mesmo Lolla, em 2014 (veja como foi) e no ano passado (relembre), respectivamente – e desmentindo que a banda já acabou. E que eles têm tocado pouco nos últimos tempos, mas nada disso pode fazer do show de encerramento do Lollapalooza espécie de ensaio ao vivo. Em mais de um intervalo entre as músicas, o baterista Fabrizio Moretti não consegue esconder o constrangimento ao aparecer no telão tentando dialogar com Julian Casablancas sobre o que se passa, ou sobre o que fazer. Mesmo assim, ao que parece o repertório foi seguido à risca, sem surpresas, se compararmos com a apresentação de dois dias antes, em Bogotá, na Colômbia.Repertório esse calcado no álbum de estreia, “Is This It”, lançado no alvorecer da década de 00, como marco do rock daquela década, que nascia e crescia exclusivamente no mundo virtual; entram nove das 11 faixas. O que, de certo modo, hoje, faz realçar de novo aquela ideia da conversão dos Strokes ao classic rock, apesar de uma carreira magra em termo de lançamentos de discos, contados em uma única mão. O que segue incólume é o modo peculiar de tocar guitarra de Hammond, Jr e de Nick Valensi, em uma noite um tanto contida. É o que se salienta em “Trying Your Luck”, com o primeiro mais em evidência, e no enrosco distorcido em que se transforma a nervosinha “New York City Cops”. Distorção que passa dos limites em “Alone, Together”, quando parece que até o sujeito que aperta os botõezinhos lá no PA se enfastiava como a vida de popstar de Julian Casablancas.
A demora para o bis fortalece a certeza de que ele jamais existirá, o que faz com que muita gente bata em retirada – boa parte do público não vê shows inteiros na farra de ecléticos do Lolla -, mas, sim, há o epílogo para se atingir, esticando pra dedéu, os 90 minutos a que tem direito um headliner. E é aí que entra “80’s Comedown Machine”, a solitária representante do disco mais recente deles, justamente chamado de “Comedown Machine”, que nem é ruim a ponto de ser esquecido. Mais elaborada dentro do jeito Strokes de compor, e tocada também de um modo muito estranho, como num arremate do que foi toda a apresentação, soa como novidade. Até “Hard to Explain” se encarregar de fortalecer a máxima de que, no show de rock, diferentemente da vida, é a última impressão a que fica. Fica pra próxima.Set list completo:
1- The Modern Age
2- Soma
3- Drag Queen
4- Someday
5- 12:51
6- Reptilia
7- Is This It
8- Threat of Joy
9- Automatic Stop
10- Trying Your Luck
11- New York City Cops
12- Electricityscape
13- Alone, Together
14- Last Nite
Bis
15- Heart in a Cage
16- 80s Comedown Machine
17- Hard to Explain
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