Intenso
Inspirado nas raízes do rock’n'roll, Cage the Elephant mostra a força de uma banda talhada para os palcos. Fotos: Nem Queiroz.
Mais assídua entre as bandas que o Lollapalooza traz anualmente para o Brasil por atacado – tocou em três das seis edições – o Cage The Elephant está longe de entrar no rol de atrações esquecíveis que o festival tem perpetuado. Porque quem vai a um show do grupo, não esquece jamais. Não só pela performance arrojada do espevitado Shultz, mas porque o grupo sabe encontrar eco das raízes do rock americano, sem produzir como resultado algo clichê e repetitivo. Ao contrário, suas músicas são visivelmente atraentes, como o rock deve ser, e, por conseguinte, atuais e que cativam o ouvinte sem muito esforço, ainda mais ao vivo, quando - aí, sim -, a performance do vocalista é crucial. Misto de Mick Jagger rejuvenescido com James Brown em início de carreira, Matthew Shultz remete aos primórdios da criação do rock’n’roll, quando o blues era a base de tudo.
Músicas como “Ain’t No Rest for the Wicked”, um blues rock de grudar na cabeça; o rockão clássico “Back Against TheWall”; e “Cry Baby”, com um “quê” de ZZ Top, que abre a noite em grande estilo, são bons exemplos de como o grupo busca nas raízes do rock a matéria prima para uma sonoridade atualíssima e que precisa seguir sendo explorada. Em “In One Ear”, a segunda da noite, a adesão do público é total, e a juventude espremida na beirada do palco não iria se conter, estabelecendo um trânsito quase que contínuo do salão para o palco, dando trabalho para os roadies e seguranças e estragando, de certo modo, a performance da banda. Na pulsante “Spiderhead”, o trabalho de guitarras do esquisito Brad Shultz, que toca com o instrumento pescoço como se viola caipira fosse, e canta o tempo todo sem ser ouvido, e de Nick Bockrath é dos mais interessantes, e o refrão, cantado a plenos pulmões pelo público, ecoa bonito sob a lona.Sem os limites de tempo do Lolla, o repertório é ampliado – quatro músicas a mais -, contudo, mantendo-se a estrutura de início e desfecho da apresentação, com tempo para bis e tudo. Uma das novidades, além da já citada “Back Against The Wall”, é “Take It or Leave It”, com dois pés na música negra americana, cujo refrão também pega o púbico quase que involuntariamente. Já “Too Late Too Say Goodbye” é uma baladaça de almanaque, que revela as pretensões mais dramáticas, terreno por muitas vezes chafurdado pelo Whitesnake, imbatível nesse quesito. Boa parte das músicas – 14 de 19 – sai dos dois últimos álbuns do Cage, “Melophobia” (2013) e “Tell Me I’m Pretty” (2015), mas, ao vivo, são completamente diferentes, e não só pelo arrojo do vocalista, mas porque trata-se – de novo - de uma banda essencialmente talhada para os palcos.
Por isso o show é, acima de tudo, intenso, não há pausa na emoção nem em músicas mais lentas ou menos conhecidas, e paira a dúvida se há alguma coisa que aquele público ali não cante do início ao fim. Tanto que, no bis, para descansar o gogó e/ou receber a energia do povaréu, Shultz faz as vezes de um maestro que rege a cantoria à capela, em “Cigarette Daydreams”, e também em “Teeth”, o rock clássico simplório que encerra a noite com a adrenalina lá em cima. Entre elas, “Shake Me Down”, que curiosamente flerta com os melhores momentos do Pixies, ao se fazer de discreta até se converter em pauleira das boas, com riffs sobre riffs. Para quem acha que o rock anda cambaleante e sem renovação, eis aí uma banda para fixar os olhos.Set list completo:
1- Cry Baby
2- In One Ear
3- Spiderhead
4- Aberdeen
5- Take It or Leave It
6- Too Late to Say Goodbye
7- Cold Cold Cold
8- Sweetie Little Jean
9- Trouble
10- Ain’t No Rest for the Wicked
11- Mess Around
12- Punchin’ Bag
13- Telescope
14- Back Against TheWall
15- It’s Just Forever
16- Come a Little Closer
Bis
17- Cigarette Daydreams
18- Shake Me Down
19- Teeth
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