O Homem Baile

Matador

Testament honra a tradição thrash com repertório renovado e ótimo domínio de palco no Circo Voador. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista do Testament, Chuck Billy, usa o peculiar mini pedestal ao cantar no Circo Voador

O vocalista do Testament, Chuck Billy, usa o peculiar mini pedestal ao cantar no Circo Voador

“Quando eu digo para você se erguer, você diz: guerra!”. Poderia ser uma frase feita de uma música lançada no meio de um show para levantar os braços do público, mas são os versos/refrão que estão bem no meio de um dos números que iniciam uma apresentação fadada a ser matadora. Porque, mesmo que tenha voltado a passar pelo Rio com frequência – a última vez tem menos de dois anos, relembre – o Testament não é vítima do desdém que acomete certos públicos nessas ocasiões, e daí que o Circo Voador está bem cheio, e cedo, na noite deste domingo (20/8). A música, a segunda da noite, como em 2015, é a singela “Rise Up”, da fase mais recente da banda, mas é como se fosse já um clássico mais que absoluto.

Ela faz parte de um bloco inicial avassalador – e são muitos, com as músicas coladas umas às outras - que inclui ainda “More Than Meets the Eye”, acoplada a um cantarolar fascinante por parte do público, e “Brotherhood of the Snake”, que abre o show. É a faixa-título do novo álbum (“nem tão novo assim”, admite o vocalista Chuck Billy mais adiante), lançado há quase um ano, uma música repleta de variações no âmago da composição e que realça o primeiro material gravado por esta que é uma das melhores entre tantas formações do Testament. Pela reação do público, todo mundo já ouviu, e muito, o CD novo. O disco é a grande novidade no repertório do show, mas há outras pérolas, ao colocarmos os dois set lists frente a frente.

O guitarrista Alex Skolnick, reafirmando com técnica, potência e feeling, sua relevância no thrash metal

O guitarrista Alex Skolnick, reafirmando com técnica, potência e feeling, sua relevância no thrash metal

Uma delas é a inadvertida inclusão de “Urotsukidôji” (pronuncie como quiser), que pouco foi tocada na carreira da banda, e que está nesta turnê após mais de 20 anos. Poderosa instrumental(!), é precedida por um solo do baixista Steve Di Giorgio e turbinada com guitarras redobradas e com o baterista Gene Hoglan espancado os tambores com sua peculiar técnica; é ou não é uma cozinha de respeito? “Alone in The Dark”, do primeiro álbum, é outro retorno saudável, e, vista agora, depois de tantos anos, não é que tem um sotaque colante capaz de aumentar o volume dos gritos da plateia, incluindo até um acompanhamento do guitarrista Alex Skolnick? Caso também de “Electric Crown”, outra das antigas que reaparece, e também colante em riffs matadores, numa pegada mais rock e com refrão bom de ser acompanhar.

Impressiona também como Skolnick mantém uma performance impecável, solando em todas as músicas, sempre com precisão e um feeling de emocionar. Por vezes, trava duelos com Eric Peterson, o outro guitarrista e sócio fundador número um. Acontece, por exemplo, em “The Pale King”, outra das novas, com aquela sedutora cadência thrash de fazer a cabeça bater sem querer, e ainda na clássica “Practice What You Preach”, que faz Chuck relembrar com nostalgia as noites de caipirinha rolante na areia da praia de 1989, quando a banda veio ao Rio pela primeira vez, na versão anterior deste mesmo Circo Voador. Com outro solo delirante de tão veloz de Alex Skolnick, “New Order” vem coladinha e inicia de imediato uma roda de dança para não se esquecer, só comparada à de “Into the Pit”, que, afinal de contas, é idealizada para este fim.

Potência total: o baixista Steve Di Giorgio, Chuck Billy e o baterista Gene Holgan, no fundo

Potência total: o baixista Steve Di Giorgio, Chuck Billy e o baterista Gene Holgan, no fundo

Outras do disco novo tocadas são a insana “Centuries of Suffering”, com velocidade redobrada, e “Stronghold”, também rápida e que sugere união entre os fãs de metal. Uma banda com grande domínio de palco, contudo, se vale de um grande vocalista, e a figuraça Chuck Billy, além do gogó privilegiado, tem performance marcante pelo uso de um mini pedestal, imagem única no mundo da música, no qual manda espécie de air guitar atrás de outro. E, é bom lembrar, o Testament honra a tradição thrash só com cabeludos sobre o palco, em épocas de hipsters pra todo lado. Só um invólucro necessário que completa uma performance matadora e que, para bom entendedor, pode ser converter em uma aula de como ter uma banda por tantos anos.

Na abertura, o Prophecy, que não nasceu ontem, faz o que dele se espera: um show rápido, conciso, muito por causa da meia horinha disponível, e com a pegada thrash metal que lhe é peculiar e que a noite naturalmente pede. Com o som bem equalizado e com boa potência, considerando que é um show de abertura, o quarteto acaba levantando o público, em princípio mais observador que participante. Ao todo, são cinco músicas, com destaque para a parte final, em que o público se movimenta mais. Merece espaço para um show mais longo nesse mesmo Circo Voador.

Ótima formação: Alex Skolnick, Steve Di Giorgio, Gene Hoglan, Chuck Billy e o guitarrista Eric Peterson

Ótima formação: Alex Skolnick, Steve Di Giorgio, Gene Hoglan, Chuck Billy e o guitarrista Eric Peterson

Set list completo Testament:

1- Brotherhood of the Snake
2- Rise Up
3- More Than Meets the Eye
4- The Pale King
5- Centuries of Suffering
6- Electric Crown
7- Into the Pit
8- Stronghold
9- Low
10- Throne of Thorns
11- Practice What You Preach
12- New Order
13- Urotsukidôji
14- Souls of Black
15- Over the Wall
16- Alone in the Dark
Bis
17- Disciples of the Watch

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