O Homem Baile

Dedicados

Apresentação confusa do Bomba Estéreo pouco anima os fãs do Arcade Fire no Rio. Fotos: Daniel Croce.

Figura central do Bomba Estéreo, a vocalista Liliana Saumet se esforça para interagir com o público

Figura central do Bomba Estéreo, a vocalista Liliana Saumet se esforça para interagir com o público

O sujeito que caísse de paraquedas no início da noite de sexta (8/12) na Fundição Progresso, no Rio, seguramente se sentiria em algum recanto paraense longe de tudo, mas não tão longe assim no tempo. O som que ecoava de uma das guitarras parecia um verdadeiro concerto de guitarrada de Belém, só que misturado com uma vocalização rap/feminina incomum, e em uma língua parecida com o espanhol. Ou, por outra, um castelhano invocado de algum gueto. Com a casa ainda vazia, e o som um pouco embolado, a confusão era a certeza de algo diferente acontecia ali, num parentesco com a música de gosto duvidoso da qual os paraenses, ao menos em grande e comercial escala, são pródigos.

Era a banda colombiana Bomba Estéreo, no esforço típico para conquistar o público em shows de abertura, no caso, o da sensação indie “que não cresce, mas é grande” Arcade Fire (veja como foi). A música, “Qué Bonito”, tem uma base de discoteca, a tal da guitarrada comendo solta, especialmente no final, e a vocalista Liliana Saumet mandando um rap difícil de entender até nas partes mais faladas. É o ponto alto do show porque os fãs da banda de fundo têm a oportunidade de colocar em prática o resultado vistoso de aulas de dança latina ministradas em academias. Para entender o BS, contudo, é preciso tomar conhecimento de bandas que misturam reggae, rap, rock e eletrônica, com a música local, como Asian Dub Foundation, O Rappa, Café Tacuba e afins.

Vestida como espécie de psicodélica general da banda, numa vibe Karol Conka, com quem, aliás, dividiu o palco no Rock In Rio, em setembro, Saumet dialoga pouco com o público e não se faz entender tampouco nos intervalos – por que não mandar um portunhol básico? -, reduzindo um pouco a nível de simpatia que, de certo modo, a banda passa. Cabe a música a tarefa, e “Somos dos”, com mais apelo, é outro destaque, em que pese também por circular no limiar entre o bom gosto e o popularesco. Ajuda a descida de Liliana Saumet no vão que separa o palco do público, e a luzes acesas sobre a plateia, uma vez que poucos ali sabem do que se trata. No quesito fanfarra, entretanto, vamos e venhamos, tudo tem a ver com o Arcade Fire, muito embora brasileiro não se identifique, de modo geral, com música cantada em espanhol.

Simón Mejía, tocando baixo, e Liliana Saumet, em ação na beirada do palco da Fundição Progresso

Simón Mejía, tocando baixo, e Liliana Saumet, em ação na beirada do palco da Fundição Progresso

Do disco mais recente, “Ayo”, o quinto deles, que saiu este ano, foram incluídas três músicas, em cerca de 40 minutos de bola rolando. A primeira, “Siembra”, peca por ser pouco orgânica e sofre com o som que ainda está sendo ajeitado com a Fundição vazia. “Internacionales”, com o discurso “somos iguais, dançamos juntos”, até tem seu apelo para a dança, mas a própria Saumet não se mostra íntima do rebolado, e definitivamente não é isso o que se espera em um show – vá lá – de rock. E “Química”, com sotaque de Oriente Médio, acaba sendo a mais agradável musicalmente falando, entre as três, até pelo verso/refrão primário. Mas nada superou, nem de longe, a guitarrada latina de “Qué Bonito”, num show realmente confuso.

Set list completo:

1- Siembra
2- Caderas
3- Quimica
4- Soy yo
5- Somos dos
6- Internacionales
7- Qué Bonito
8- Fiesta

Tags desse texto: ,

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado