Redondinho
Domínio de palco e qualidade do repertório recente garantem a boa apresentação do Epica no Circo Voador. Fotos: Daniel Croce.
Injustiça, contudo, achar que o ressalto para dois clássicos empurra a apresentação para algo sem muita novidade, revivalista e de caminho fácil e óbvio. Por que das 13 músicas tocadas, nada menos que cinco são do álbum mais recente, “The Holographic Principle”, lançado há cerca de um ano e meio. Se nem todas têm a adesão plena do público o problema é outro, mas o fato é que músicas como “Edge of the Blade”, beneficiada pela ansiedade geral acumulada para o início do show, e com grande impacto, e “Beyond the Matrix”, enfiada no bis, mais pesada que as mais recentes, e com forte apelo pop/dançante, funcionam muito bem ao vivo. Se “Once Upon a Nightmare” encerra a primeira parte com pouco interesse, exceto pelas lanternas acessas, a bonita “Ascension - Dream State Armageddon” precisa de tempo para ser melhor digerida pelo público.
O material mais recente evidencia, também, diferenças de arranjos das músicas mais antigas, que, embora orquestradas já na origem, têm muito mais peso que as mais recentes, envoltas por teclados e até com um sotaque mais pop, no sentido de colar de primeira – o que é muito bom. Por vezes, passa-se do limite, subtraindo os solos do guitarrista Isaac Delahaye, que vira um coadjuvante a mais, em prol do chamado conjunto da obra. É aí que aparece, também, o tecladista Coen Janssen, por exemplo, em músicas como “Ascension - Dream State Armageddon”, quando faz um belo dueto com a vocalista Simone Simons com um teclado dependurado no tronco. Janssen, entretanto, acaba aparecendo mais como espécie de animador de plateia do que como músico, num comportamento fanfarrônico, incluindo a formação de acrobáticos coraçõezinhos com as mãos, atitude pouco comum a bandas de heavy metal que seguem levando o gênero a sério; o que decerto prejudica a imagem do Epica.O que melhora é o modo como essa formação, reunida há cerca de nove anos, à exceção do baixista Rob van der Loo, que entrou em 2012, se apresenta. Os músicos estão muito bem entrosados, com o baterista Ariën van Weesenbeek em ótima fase, e não só pelo solo no final de “Cry for the Moon”, mas pelo vigor demonstrado em todas as músicas. Mark Jansen cumpre o papel de guitarra base e faz o contraponto vocal à Simone sem deslizes, e ciente do papel duplamente secundário que ocupa, para Delahaye, acanhado – repita-se – e a vocalista brilharem. Simone Simons segue contando muito bem, tanto como soprano tanto como contralto em determinadas passagens, sem qualquer sinal de desafino ou cansaço, mesmo nas partes finais das músicas e no desfecho do show, ainda que haja um excesso de gravações em off para reproduzir as orquestrações registradas em estúdio. Em algumas passagens, um sotaque mais orgânico seria interessante.
Por isso o repertório abrangente, que cobre quase todos os álbuns da banda, e ao mesmo tempo não deixa de olhar para a frente, para o bem ou para o mal, apresenta ótimo padrão ao ser reunido nos cerca de 90 minutos que o show dura, em que pese as mais de 60 datas já realizadas nessa turnê. É um olhar para o lado e a cosa flui, todos cantam em todas as músicas e tudo se desenvolvem, em performance e coreografia que resultam em redondo desempenho coletivo. Vale ainda destacar o apelo de “Sancta Terra”, que abre o bis depois das apresentações dos músicos; a ritmada “Fight Your Demons”, mesmo sem a adesão desejada por parte da plateia; e – de novo – a ótima “Cry for the Moon”. Prestes a entrar para o rol do classic rock, o Epica, salvo uma ou outra mazela, parece bem preparado.Set list completo:
1- Edge of the Blade
2- Sensorium
3- Fight Your Demons
4- The Essence of Silence
5- Design Your Universe
6- Ascension - Dream State Armageddon
7- Dancing in a Hurricane
8- Cry for the Moon
9- Unchain Utopia
10- Once Upon a Nightmare
Bis
11- Sancta Terra
12- Beyond the Matrix
13- Consign to Oblivion
Tags desse texto: Epica
Que matéria ridícula… Ninguém reclamou de nada… Vocês é que estão falando bosta da banda… Uma pena que foi uma tentativa frustrada…
Desde quando os coraçõezinhos com as mãos são problema? São simplesmente um gesto de carinho, o que aliás cai muito bem. “Ah, não combina com heavy metal”. Ainda bem que Epica é uma banda de symphonic metal, não é mesmo? E a galera do sinfônico é muito mais mente aberta do que muito tio truezão do heavy, do thrash, do black metal e por aí vai. Ainda bem também que a cada álbum o Epica busca se reinventar, não é a toa que a cada ano a banda ganha ainda mais visibilidade. O álbum “The Holographic Principle” ficou um tempo legal no ranking da Billboard para comprovar que as músicas novas fizeram sucesso. Agora, sempre vai ter aquela galerinha chata que não aceita o novo para tentar miar a parada, paciência.
Fora esses detalhes que me incomodaram na matéria, numa coisa tenho que concordar: “Cry for the Moon” é digna de se tornar um clássico, sim, assim como muitas outras músicas do set deles.
Ansiosa para vê-los em Fortaleza e retribuir esses coraçõezinhos com todo o meu amor! ❤❤❤❤❤