O Homem Baile

Redondinho

Domínio de palco e qualidade do repertório recente garantem a boa apresentação do Epica no Circo Voador. Fotos: Daniel Croce.

A vocalista do Epica, Simone Simons, que segue em ótima fase, em intensidade e variação vocal

A vocalista do Epica, Simone Simons, que segue em ótima fase, em intensidade e variação vocal

Aconteça o que acontecer, uma coisa é certa. Um show do Epica vai sempre ser encerrado com “Consign to Oblivion”. A música, que dá título ao segundo álbum da banda, é uma peça quase teatral, cheia de idas e vindas que ao vivo ganha mais de 10 minutos de duração e é parada certa para os fãs brasileiros que há uns 13 anos frequentam os shows; veja como foi em 2015, 2012 e 2010. Sócia dela é “Cry for the Moon”, aquela do irresistível verso “Forever and ever”, cantado até por quem nunca passou perto de um cursinho de inglês na vida, mais por razões fonéticas do que de significação. Pois estão lá as duas, lindonas e cantadas com a garra usual por uma plateia envolvida demais, neste domingo (11/3), em um Circo Voador com excelente presença de público. Maduro, o grupo anda afiadíssimo no palco.

Injustiça, contudo, achar que o ressalto para dois clássicos empurra a apresentação para algo sem muita novidade, revivalista e de caminho fácil e óbvio. Por que das 13 músicas tocadas, nada menos que cinco são do álbum mais recente, “The Holographic Principle”, lançado há cerca de um ano e meio. Se nem todas têm a adesão plena do público o problema é outro, mas o fato é que músicas como “Edge of the Blade”, beneficiada pela ansiedade geral acumulada para o início do show, e com grande impacto, e “Beyond the Matrix”, enfiada no bis, mais pesada que as mais recentes, e com forte apelo pop/dançante, funcionam muito bem ao vivo. Se “Once Upon a Nightmare” encerra a primeira parte com pouco interesse, exceto pelas lanternas acessas, a bonita “Ascension - Dream State Armageddon” precisa de tempo para ser melhor digerida pelo público.

O guitarrista Isaac Delahaye, que tem os solos subtraídos, e Simone Simons em coreografia ensaiada

O guitarrista Isaac Delahaye, que tem os solos subtraídos, e Simone Simons em coreografia ensaiada

O material mais recente evidencia, também, diferenças de arranjos das músicas mais antigas, que, embora orquestradas já na origem, têm muito mais peso que as mais recentes, envoltas por teclados e até com um sotaque mais pop, no sentido de colar de primeira – o que é muito bom. Por vezes, passa-se do limite, subtraindo os solos do guitarrista Isaac Delahaye, que vira um coadjuvante a mais, em prol do chamado conjunto da obra. É aí que aparece, também, o tecladista Coen Janssen, por exemplo, em músicas como “Ascension - Dream State Armageddon”, quando faz um belo dueto com a vocalista Simone Simons com um teclado dependurado no tronco. Janssen, entretanto, acaba aparecendo mais como espécie de animador de plateia do que como músico, num comportamento fanfarrônico, incluindo a formação de acrobáticos coraçõezinhos com as mãos, atitude pouco comum a bandas de heavy metal que seguem levando o gênero a sério; o que decerto prejudica a imagem do Epica.

O que melhora é o modo como essa formação, reunida há cerca de nove anos, à exceção do baixista Rob van der Loo, que entrou em 2012, se apresenta. Os músicos estão muito bem entrosados, com o baterista Ariën van Weesenbeek em ótima fase, e não só pelo solo no final de “Cry for the Moon”, mas pelo vigor demonstrado em todas as músicas. Mark Jansen cumpre o papel de guitarra base e faz o contraponto vocal à Simone sem deslizes, e ciente do papel duplamente secundário que ocupa, para Delahaye, acanhado – repita-se – e a vocalista brilharem. Simone Simons segue contando muito bem, tanto como soprano tanto como contralto em determinadas passagens, sem qualquer sinal de desafino ou cansaço, mesmo nas partes finais das músicas e no desfecho do show, ainda que haja um excesso de gravações em off para reproduzir as orquestrações registradas em estúdio. Em algumas passagens, um sotaque mais orgânico seria interessante.

No olhar: o bom entrosamento do guitarrista e vocalista Mark Jansen, ao lado de Simone Simons

No olhar: o bom entrosamento do guitarrista e vocalista Mark Jansen, ao lado de Simone Simons

Por isso o repertório abrangente, que cobre quase todos os álbuns da banda, e ao mesmo tempo não deixa de olhar para a frente, para o bem ou para o mal, apresenta ótimo padrão ao ser reunido nos cerca de 90 minutos que o show dura, em que pese as mais de 60 datas já realizadas nessa turnê. É um olhar para o lado e a cosa flui, todos cantam em todas as músicas e tudo se desenvolvem, em performance e coreografia que resultam em redondo desempenho coletivo. Vale ainda destacar o apelo de “Sancta Terra”, que abre o bis depois das apresentações dos músicos; a ritmada “Fight Your Demons”, mesmo sem a adesão desejada por parte da plateia; e – de novo – a ótima “Cry for the Moon”. Prestes a entrar para o rol do classic rock, o Epica, salvo uma ou outra mazela, parece bem preparado.

Set list completo:

1- Edge of the Blade
2- Sensorium
3- Fight Your Demons
4- The Essence of Silence
5- Design Your Universe
6- Ascension - Dream State Armageddon
7- Dancing in a Hurricane
8- Cry for the Moon
9- Unchain Utopia
10- Once Upon a Nightmare
Bis
11- Sancta Terra
12- Beyond the Matrix
13- Consign to Oblivion

Em ótima fase, o baterista Ariën van Weesenbeek mostra vigor em todas as músicas, além de um solo

Em ótima fase, o baterista Ariën van Weesenbeek mostra vigor em todas as músicas, além de um solo

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. w15_@hotmail.com em março 12, 2018 às 21:03
    #1

    Que matéria ridícula… Ninguém reclamou de nada… Vocês é que estão falando bosta da banda… Uma pena que foi uma tentativa frustrada…

  2. Luciana em março 13, 2018 às 2:42
    #2

    Desde quando os coraçõezinhos com as mãos são problema? São simplesmente um gesto de carinho, o que aliás cai muito bem. “Ah, não combina com heavy metal”. Ainda bem que Epica é uma banda de symphonic metal, não é mesmo? E a galera do sinfônico é muito mais mente aberta do que muito tio truezão do heavy, do thrash, do black metal e por aí vai. Ainda bem também que a cada álbum o Epica busca se reinventar, não é a toa que a cada ano a banda ganha ainda mais visibilidade. O álbum “The Holographic Principle” ficou um tempo legal no ranking da Billboard para comprovar que as músicas novas fizeram sucesso. Agora, sempre vai ter aquela galerinha chata que não aceita o novo para tentar miar a parada, paciência.
    Fora esses detalhes que me incomodaram na matéria, numa coisa tenho que concordar: “Cry for the Moon” é digna de se tornar um clássico, sim, assim como muitas outras músicas do set deles.
    Ansiosa para vê-los em Fortaleza e retribuir esses coraçõezinhos com todo o meu amor! ❤❤❤❤❤

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