Encruzilhada à vista
Mesmo com um ótimo disco solo, Liam Gallagher se rende a sucessos do Oasis no Lollapalooza e é isso mesmo que o público quer. Fotos Divulgação Lollapalooza: MRossi/MRossi.
Porque são nada menos que oito petardos do Oasis contra cinco do álbum solo, em mais ou menos uma horinha que o festival lhe reserva. E, aí, não tem choro, porque é disso mesmo que o povo gosta, muito clássico e pouca novidade. Lamentação só se ouve na discussão do tipo “por que essa ou aquela não entrou”, muito embora as novas são muito bem recebidas e cantadas até por boa parte dos fãs. Supreendentemente de bermudas, Liam mantém a pose e o jeitão largado de cantar, se curvando embaixo do pedestal do microfone, numa marra só, com uma barba por fazer há 200 dias. Fala pouco com o público, e, por conta do forte sotaque norte-britânico, pouco é compreendido, a não ser na linguagem musical, muito bem assimilada e vivida pela boa quantidade de público que se aglomera à frente do palco.
Não há como não lembrar dos shows do Oasis quando a noite começa com “Rock ‘n’ Roll Star”, uma das mais marcantes do grupo, coladinha com “Morning Glory”, sem muita cerimônia. Na banda de apoio está o guitarrista Jay Mehler, ex-Kasabian e parceiro de Liam no Beady Eye, que, de longe, tem até semelhança física com Noel, e o baixista Drew McConnell, do Babyshambles. Ao que parece, a ordem é não partir para variação alguma, e cada versão é quase exatamente idêntica à original, ou, ao menos, do mesmo jeito que o Oasis tocava nos shows, para a alegria geral do público, que sabe exatamente o que quer. O quase ali em cima existe justamente por causa de Liam Gallagher.
É que ele já não exibe o mesmo viço vocal de outras épocas. Ok, vem de problemas vocais nessa turnê, e já chegou a abandoar um show pela metade no Lollapalooza do Chile, e a cancelar outro no Brasil, o que pode ter lhe prejudicado a performance como um todo. Ainda assim, é notável, em um acompanhamento mais amiúde, que a sua voz soa rascante, áspera, sem a doçura melódica que é indispensável para se entender o Oasis como um todo. Não que ele não possa seguir em frente com boas performances com o material novo, mas aquele jeito de cantar que o colocou no mapa mundi do rock e da música como um todo, mais ao vivo do que em disco, parece muito distante.Dentre as novas, onde o olhar para ao conjunto da obra não conta, Liam vai bem na dobradinha “Greedy Soul”, um rockão britânico com pegada estradeira, e “Wall Of Glass”, primeiro single do disco que, mais cadenciada, dá um descanso para o começo acelerado do show. A melhor delas é a tensa e pesada, sobretudo tocada ao vivo, “I Get By”, com espaço para boas evoluções de guitarra e um refrão de colar fácil nos ouvidos. Ainda engatinha, mas vai se tornar logo, logo uma das preferidas nos shows. Liam avisa que só faltam quatro, e dispara o arremate que todo mundo gosta: “Wonderwall”, com os vocais repassados ao público no refrão; “Supersonic”, reconhecida antes de si própria e que rende um raro sorriso no rosto de Liam; “Cigarettes & Alcohol”, a menos cotada da série final”; e o momento emoção verdadeira de “Live Forever”. É, não dá mesmo para reclamar.
Set list completo:
1- Rock ‘n’ Roll Star
2- Morning Glory
3- Greedy Soul
4- Wall of Glass
5- Bold
6- For What It’s Worth
7- Some Might Say
8- I Get By
9- Be Here Now
10- Wonderwall
11- Supersonic
12- Cigarettes & Alcohol
13- Live Forever
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