Lancinante
Sob volume generoso, som pesado e arrastado do Alice In Chains vai direto no peito do público e hits empolgam geral. Fotos: Vinícius Pereira.
Porque, na maior parte do tempo, a música produzida por essa banda lá dos cafundós de Seattle não é dada a alegrias, mas percorre as profundezas das almas mais incautas com riffs de guitarra arrastados, dilacerantes, torturantes, rascantes. Para o Alice In Chains não tem vida fácil pra fã: são guitarras sobre guitarras e a entrega de lado a lado ou acontece ou nada feito. Mesmo assim, as cabeças batendo e os punhos erguidos a toda hora, ainda que na cadência um dia sistematizada pelo Black Sabbath e bem absorvida, revelam uma interação que, se já não surpreende mais, é cada vez mais intensa. É o que explica logo de cara a explosão causada por “Check My Brain”, mesmo sendo da fase mais recente da banda, que – bom lembrar – acabou com a morte do vocalista da formação original, Layne Stanley, em 2002, e só votou há 10, 11 anos, com DuVall em seu lugar.
No comando, contudo, está o Jerry Cantrell, o homem que não sorri. Além de criar esse pitoresco “way of being” ao tocar guitarra de modo consistente, para dizer o mínimo, é ele quem faz as vocalizações que temperam a voz de William DuVall e fazem o resultado final soar parecidíssimo com a fase anterior, com Stanley em ação, com a sensação de encaixe mais que perfeito. É o que se checa, ao vivo, em “The One You Know”, uma das duas do novo álbum, “Rainer Fog”, incluídas no show, e em “Again”, aquela do disco do cachorro perneta, na qual o público não se aguenta e a entrega vem em forma de contagiante participação. A outra do álbum novo é “Never Fade”, a terceira da noite, que acaba funcionando como momento de concentração para o desenrolar do show.
Em relação ao show da edição de São Paulo do Festival Solid Rock, no sábado, saíram do repertório “Down In A Hole” e “Angry Chair” – uma pena, duas que são tão emblemáticas do AIC… -, mas “I Ain’t Like That” cumpre muito bem o papel de substituta. A música, resgatada do álbum de estreia da banda, “Facelift”, de 1990, realça ainda mais o modelo tenso e sombrio que corta na alma, mesmo que o público não a tenha reconhecido como “Nutshell”, a outra por assim dizer substituta no set. Com o som nas alturas, como em todo a noitada no Metropolitan, a música tem valor penetrante ainda maior, mas algo deu errado na arrumação do palco, já que os painéis de luzes direcionadas ao público, na horizontal, escondem o telão onde imagens só podem ser vistas olhado de cima. Mais um motivo, de outro lado, para o som fazer o serviço pesado sozinho.O ponto alto do show é mesmo “Man In The Box’, aquela que quase converte o AIC em banda de um hit só, e que, popular demais no Brasil, dispara um sem número de pula-pulas pelo salão. Mas “We Die Young”, com as caixas explodindo em volume exorbitante, crava espada de aço no coração ao trazer – e de novo – a lembrança da perda precoce de Stanley. O desfecho é com a boa “Rooster”, que tem jeito de tudo, menos de música para terminar um show em alto astral, coisa impensável – reafirma-se – no caso do Alice In Chains. No computo geral, ficou tanta música boa de fora e os discos com DuVall foram tão pouco explorados que urge a volta da banda ao Brasil, para uma turnê como headliner, fora de festival, show de umas duas horas e set list com vinte e tantas músicas. Já passou da hora, aliás.
Set list completo:
1- Check My Brain
2- Again
3- Never Fade
4- Them Bones
5- Dam That River
6- Hollow
7- Nutshell
8- No Excuses
9- We Die Young
10- Stone
11- It Ain’t Like That
12- Man in the Box
13- The One You Know
14- Would?
15- Rooster
Tags desse texto: Alice In Chains, Solid Rock