Destruidor
Thrash metal agressivo do Kreator contagia público em show de grande interação no Liberation Festival, no Rio. Fotos: Daniel Croce.
E o resultado disso tudo junto é uma interação entre público e banda como pouco se vê em tempos de cabeças ocas gravando tudo o que aparece pela frente. Não tem como, é impossível ficar incólume ante ao apelo de um Mille Petrozza possesso pela participação do público, música após música, sem parar de tocar pra ficar de discurso vazio, e – o principal – com um repertório, se mesclado entre nove dos 14 álbuns da banda, que vem encalacrado de palhetadas, no maior estilo thrash, com o volume alto pra dedéu e o baterista Jürgen “Ventor” Reil apressadinho impondo a velocidade das músicas em outra rotação. E a resposta é imediata. Para se ter uma ideia, o show mal começa com “Phantom Antichrist”, faixa-título do ótimo álbum de 2012, e já tem duelo de quem grita mais alto, abertura do Mar Vermelho, estapeamento generalizado e o escambau.
Além das palhetadas, o guitarrista Sami Yli-Sirnio mostra que não está para brincadeira, impingindo solos com espantosa agressividade, em que pese o modus operandi do Kreator ser violento por si só. Se Ventor quer apostar corrida, sebo nas canelas! Em “Civilization Colapse”, uma traulitada daquelas, o movimento das mãos que ele faz é extraordinário, e em “Gods Of Violence”, cujo título já sugere o nível de “soco na cara” que é a música, ele tem a companhia de Mille, em um raro momento em que deixa a base para solar em duelo com o parceiro. As duas guitarras, juntas, brilham desde cedo em evoluções melódicas, como em “Hail to the Hordes”, quando a cadência thrash se impõe e o público responde com o inevitável bater de cabeças, coisa linda de se ver.O show é, também, fadado a recordações, e Mille diz se lembrar claramente da passagem da banda pela cidade em 1992 (muito embora troque o ano para 1991, acontece), em plena quadra de uma escola de samba, em evento produzido – vejam vocês – pelo saudoso Garage. Ele quer saber inclusive quem estava lá, de modo a receber o carimbo de “old school”. A partir daí persegue a noite toda o que ele chama de “Brazilian style” de agitar em um show, no que o público reponde com obediência servil, mantendo a zorra que se desenrola quando rodas de dança se multiplicam em desorganizadas interseções. É assim, por exemplo, em “Enemy Of God”, uma passada de rodo que inclui introdução melódica de guitarra, refrão colante que se converte em um esperto cantarolar no final, solos sobre solos e trechos com mudança de andamento e guitarras distorcidas no talo de fazer todo mundo pular. Ou seja: tudo que o festeiro thrash metal tem de melhor. E – por isso mesmo – o povaréu se acaba no meio do salão.
Necessário salientar, a despeito da ótima performance de palco, como o Kreator trabalha bem os refrães, desde de as composições das músicas. Em quase todas o público canta a plenos pulmões cada um deles, a ponto de Mille Petrozza, que tanto impulsiona a participação, se sentir tocado. O tempo é curto - 1h15 só -, é show de festival, faltam músicas das antigas, mas, mesmo assim, a ênfase do álbum mais recente, “Gods Of Violence”, de 2017, que fornece quatro das 13 músicas, não impede que a performance avassaladora do Kreator fale por si só. Tem cartaz erguido por fã com a frase “Vegan is Real” em “Satan is Real” (título genial); tem Mille agitando bandeira em “Flags of Hate”; tem o bis matador com “Violent Revolution” e a plateia acompanhando no ritmos das palmas sob luz estroboscópica; e tem o arremate de “Pleasure to Kill, seguramente a música chave do Kreator, que de certo modo resume todo o show, como se fosse a hora de aproveitar o máximo possível antes de tudo acabar. E é o que acontece, no melhor estilo brasuca-germano.Set list completo:
1- Phantom Antichrist
2- Hail to the Hordes
3- Enemy of God
4- Satan Is Real
5- Civilization Collapse
6- People of the Lie
7- Flag of Hate
8- Phobia
9- Gods of Violence
10- Hordes of Chaos (A Necrologue for the Elite)
11- Fallen Brother
Bis
12- Violent Revolution
13- Pleasure to Kill
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