Pode carimbar
Dr. Sin e Azul Limão estreiam novas formações e têm boa aprovação do público em matinê do rock no Rio. Fotos: Luciana Pires.
Porque dá pra perceber logo de cara que o Dr. Sin é uma banda de impressionante regularidade, mesmo com um novo integrante, na primeira vez na história em que a formação sofre uma mudança, desconsiderando a curta passagem de Mike Vescera como vocalista, o que não alterou o núcleo instrumental. Isso significa que todas as músicas são tocadas com incrível precisão técnica e o peso necessário ao gênero, com o adicional de o som da casa estar com ótima equalização – nem sempre é assim - e o volume no talo. Assim, as passagens instrumentais realçam em toda a noite, especialmente em músicas como “Nomad”, com evoluções que antecedem ao solo de guitarra de impressionar; no solinho de baixo emendado no da guitarra, em “Zero”; e na ótima introdução de “Isolated”, música de um dos melhores momentos da carreira do trio, o álbum “Brutal”, de 1995.
Regularidade que inclui os vocais bem conservados do baixista Andria Busic, até nas notas mais altas, mas que nem sempre se verifica no tocante às boas composições, o que inclusive é difícil de manter para qualquer banda, e, no caso do Dr. Sin, fica sempre a dicotomia música boa X instrumental bom. Olhando para o copo cheio, quando a música não é tão boa assim, o instrumental sempre salva, mas quando uma ótima canção encontra um arranjo poderoso de músicos tão tecnicamente esmerados – que banda, meus amigos, que banda! -, aí o bicho pega. E Melo, menos extravagante que Ardanuy, por assim dizer, mas igualmente inspirado, mantém o nível tranquilamente. Sem muitas reflexões o público encara petardos do naipe de “Fire”, também do disco “Brutal”, que fornece quatro das 15 músicas do set; “Time After Time”, com o auxílio luxuoso do batera Ivan Busic nos vocais, e que tem um cantarolar – ralo, mas tem; e até “Dirty Woman”, um hard rock standard das antigas, que pouca gente conhece, mas que agrada pelo ótimo poder de fogo.
O trio já em um disco gravado com essa formação, mas só uma música nova é apresentada, “Lost In Space”, lançada no final do ano passado, logo no início do show, com a boa participação do tecladista Bruno Sá. Atmosférica, a música é colante e tem tudo para representar bem essa nova fase. A julgar pelo set list afixado no palco, o show era para ser maior, mas tem o corte – por causa do público, bem pequeno? - de ao menos três músicas (“You Stole My Heart”, “No Rules” e “Have You Ever See The Rain”). O que abre caminho para a boa versão de “Foxy Lady”, de Jimi Hendrix, com Ivan nos vocais, e os convidados Pedro Mello, na bateria, e o guitarrista Anderson Gandra. Não faltam “Emotional Catastrophe”, e Ivan Busic cita David Coverdale, do Whitesnake, em ato falho que liga as duas bandas lá no começo; e a sempre marcante “Down In The Trenches”, em mais um ótimo show do Dr. Sin no Rio.
Se a volta rápida do Dr. Sin surpreende, imagina a do Azul Limão, depois de tantos anos fora de cena, tocando apenas em datas especiais, quando o vocalista da formação original, Rodrigo Esteves, que mora no exterior, vem ao Brasil. Agora, o guitarrista Marcos Dantas e o baixista Vinícius Mathias, ambos remanescentes da formação original, têm o vocalista Trevas (Renato Massa) e o baterista André Delacroix, ambos também do Metalmorphose, assim como Dantas. Ou seja, são músicos que se conhecem e agora assumem o Azul Limão como trabalho atual, tendo inclusive já lançado o álbum “Imortal”, no ano passado. No sábado, é a estreia nos palcos com essa nova cara, e o show, ainda que com o tempo curto – cerca de uma hora – por ser uma abertura, é ótimo.Muito porque Trevas assume com propriedade o posto de frontman, e, se não tem as notas altas do privilegiado Esteves, canta como ótimo tenor e com um belo alcance vocal, mantendo o feeling das músicas mais antigas. É o que acontece com “Portas da Imaginação”, já no começo, e na ótima “Sangue Frio”, que de seu lado tem ótima performance de Dantas, e até um cantarolar por parte do pequeno público aglomerado na beirada do palco; muita gente jovem, inclusive. Marcos Dantas, nessa formação, é o senhor das ações, e se mostra muitíssimo afiado, em solos e evoluções durante quase todas as músicas, com destaque para o verdadeiro hino em que se transformou “Coração de Metal”, parceria de DiCastro, do Sangue da Cidade, com Roosevelt Bala, do Stress. É seguramente o ponto alto da noite.
Uma pena que a versão para “Não Vou Mais Falar”, uma das mais emblemáticas do grupo, que tocava direto na Fluminense FM, não tenha ficado legal, meio sem peso e com performance fraca do vocalista. Trevas também estragou o desfecho do show com outro hino, “Satã Clama Metal”, ao iniciar uma inacreditável “Live” com o rosto escondido pelo aparelho emburrecedor, em vez de se apresentar no palco como cantor de rock; ou uma coisa ou outra. Do novo álbum, foram três: “Paranormal”, bela e extensa composição, mais agradável na parte mais acelerada e com ótima guitarra; a faixa-título “Imortal”, com boa pegada ao vivo e bons vocais; e a pedrada “Guerreiros do Metal”, uma sempre necessária ode ao gênero, com o realce da bateria cavalar de Delacroix. É lindo ver os brações erguidos cantando o verso/refrão de uma música nova de uma banda realmente histórica.
Set list completo Dr Sin:
1- Fly Away
2- Karma
3- Lost In Space
4- Time After Time
5- Fire
6- Sometimes
7- Nomad
8- Dirty Woman
9- Isolated
10- Scream And Shout
11- Zero
12- Miracles
13- Emotional Catastrophe
14- Foxy Lady
15- Down in the Trenches
Set list completo Azul Limão:
1- Portas da Imaginação
2- Sangue Frio
3- Paranormal
4- Nada a Perder
5- Não Vou Mais Falar
6- Imortal
7- Coração de Metal
8- O Grito
9- Rotina
10- Guerreiros do Metal
11- Satã Clama Metal
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