O Homem Baile

A essência

Helloween resume a turnê do exagero em show possível no Rockfest, para alegria dos fãs que viram os três vocalistas juntos pela primeira vez. Fotos: Ricardo Matsukawa/Mercury Concerts.

Michael Kiske e Andi Deris juntos no palco em versão reduzida da turnê de reunião do Helloween

Michael Kiske e Andi Deris juntos no palco em versão reduzida da turnê de reunião do Helloween

Quando o início do show do Helloween se anuncia, com a banda tocando a todo o vapor no palco, logo quem aparece desfilando na passarela que avança sobre o público é o vocalista Andi Deris. Ele faz mímica com a boca como se cantasse de verdade, mas a voz que sai pelas caixas de som é a de Michael Kiske. Essa trollagem real com o público é só o prenúncio do que vai acontecer na próxima hora no palco do Rockfest, espécie de braço hard rock do Rock In Rio, que aconteceu no último sábado (21/9), no Allianz Parque, em São Paulo. Juntos, o vocalista da formação atual (Deris), o da clássica (Kiske) e o da original, o também guitarrista e fundador da coisa toda, Kai Hansen, são a marca dessa turnê acertadamente intitulada como “Pumpkins United”, referência à abóbora de Halloween, um dos símbolos da banda.

Mas é bom lembrar que o Helloween só entrou nessa, tanto no dia no metal do Rock In Rio quanto no Rockfest, por conta da desistência do Megadeth, em função dos problemas de saúde de Dave Mustaine. O que significa que o grupo, que já estava pensando em gravar um álbum com essa formação cheia de gente, teve que reduzir drasticamente o show da turnê com os três vocalistas, que chegou a durar três horas em algumas praças, para nada mais do que uma horinha só. Assim, ainda que se mantenha a narrativa histórica – didática até – com cada música sendo explicada no contexto de cada disco e de cada fase do grupo, o resultado, embora agrade na medida do possível, não deixa de ser frustrante.

Os três guitarristas debulham na borda do palco: Sascha Gerstner, Kai Hansen e Michael Weikath

Os três guitarristas debulham na borda do palco: Sascha Gerstner, Kai Hansen e Michael Weikath

Andi Deris lembra que está no lugar do Megadeth e logo no início, antes de “Eagle Fly Free”, pede um salve para Mustaine, ao que parece bem recuperado do tratamento de um câncer na garganta. Sim, a música, um clássico da chamada “era Keepers”, em referência aos álbuns “Keepers Of The Seven Keys” partes I e II, da fase mais emblemática do grupo, aparece logo no início, e em matadora sequência que tem, antes, “I’m Alive” e “Dr. Stein”. É a oportunidade de ouro para ver Michael Kiske, com o gogó em dia, ressalte-se, e Kai Hansen juntos executando nada menos que seis músicas desse período, ainda que Deris, sempre questionado por boa parte dos fãs, participe em quase todas elas. Mas o dueto dele com Kiske funciona muito bem, incluindo boas performances do palco, quase sempre com eles lado a lado em diálogo.

Performance que tem realce também – e tinha mesmo que se assim -, no desfile dos três guitarristas pelo palco. Além de Hansen, Michael Weikath (da formação original e que nunca deixou a banda, como o baixista Markus Grosskopf) e Sascha Gerstner vão de lado a outro em duelos melódicos da pesada. Na montagem do set list, que acaba sendo curto, com 10 músicas, há a pérola “Ride The Sky”, ancestral que quase sempre aparece em um medley, mas dessa vez vem inteirinha. No detalhe do telão, chama a atenção a mão calosa de Hansen, o que faz pensar o quanto de guitarra ele já tocou em todos esses anos. Em “How Many Tears”, que encerra a primeira parte, a debulhagem dos três na beirada do palco é ampla, geral e irrestrita, para delírio geral, incluindo uma generosa coreografia de encerramento que mexe de verdade com o público.

Andi Deris ao lado do baixista Markus Grosskopf: músicas da 'era Keepers' são prioridade no show

Andi Deris ao lado do baixista Markus Grosskopf: músicas da 'era Keepers' são prioridade no show

É, sim, um show dado a exageros e, além de três vocalistas e três guitarristas, a bateria de Daniel Löble, alocada dentro de uma abóbora partida, tem quatro bumbos – vibrantes, acreditem – e dois tambores na vertical, tudo reproduzido em detalhes nos telões de grandes proporções. No final do bis, balões – cor de abóbora, claro – são lançados sobre o público, e só há economia no tímido lançamento de papel picado nas laterais do palco; parece até que alguma coisa saiu errado. Da fase com Andi Deris é “Power” – Monsters Of Rock 1996 no Pacaembu feelings – a mais ovacionada, embora o dueto em “Perfect Gentleman” tenha sido impagável. Mas é justamente no bis, com “Future World”, que fala de um futuro quem nunca chegou, e “I Want Out” que não vai sair da memória de quem esteve no Rockfest. E que reforça como o show do Rock in Rio, no dia 4, é mesmo imperdível.

Set list completo:

1- I’m Alive
2- Dr. Stein
3- Eagle Fly Free
4- Perfect Gentleman
5- Ride the Sky
6- A Tale That Wasn’t Right
7- Power
8- How Many Tears
Bis
9- Future World
10- I Want Out

Michael Kiske em momento isolado; ao fundo, Daniel Löble e a bateria de quatro bumbos vibrantes

Michael Kiske em momento isolado; ao fundo, Daniel Löble e a bateria de quatro bumbos vibrantes

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