O Homem Baile

Com exaustão

Voz vacilante não impede a boa apresentação do Bon Jovi, realçada pelo entrosamento dos músicos, no encerramento do primeiro final de semana do Rock In Rio. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Wesley Allen (1), Diego Padilha (2) e Renan Olivetti (3 e 4).

Jon Bon Jovi acena para o público no início do show, com o batera Tico Torres cantando ao fundo

Jon Bon Jovi acena para o público no início do show, com o batera Tico Torres cantando ao fundo

Foi preciso esperar dois anos, mas a plateia do Rock In Rio finalmente viu o Bon Jovi tocar “Always” e acompanhou o músico a plenos pulmões na noite desse domingo (29/9), na Cidade do Rock. A música, uma baladaça açucarada ao extremo, era pedida em coro na edição de 2017 (relembre), e, segundo consta, não entrou mais de 10 vezes no repertório dessa turnê, iniciada depois do lançamento do álbum “This House Is Not For Sale”, um ano antes. Composta para a trilha do filme “O Sangue de Romeu” (1993), mais que uma queridinha dos fãs brasileiros, se tornou uma obsessão e sua inclusão no repertório, só no bis (daí o suspense), é comemorada como se fosse um gol de placa já nos primeiros acordes. Colada em “Livin’ on a Prayer”, uma das maiores canções do rock em todas as épocas, foi o arremate certeiro para show.

Apresentação que, como de hábito, tem ao menos um megahit que todo mundo canta junto a cada três músicas, em que pese a duração ter sido menor em relação ao de 17 – quatro músicas a menos – e o fato de Jon Bon Jovi mostrar uma preocupante dificuldade em cantar cada uma delas, executadas praticamente no mesmo tom em que foram gravadas; exceção feita a “In These Arms”, assumida com honestidade pelo tecladista David Bryan. E notória a expressão de esforço no rosto do cantor - e percebe-se com clareza nas imagens ampliadas nos telões -, para manter a afinação, passando a impressão de que não vai aguentar por muito tempo, mesmo que compense a performance com o estilo aeróbico que o consagrou – a forma física, aos 57, segue em dia. Ainda assim, o show dura duas horinhas, que é o que se espera de um headliner em um festival dessas proporções.

O bom guitarrista John Shanks recebe o abraço do 'boss' durante o show de domingo no Rock In Rio

O bom guitarrista John Shanks recebe o abraço do 'boss' durante o show de domingo no Rock In Rio

O show é basicamente o mesmo de dois anos atrás, já que de lá para cá o Bon Jovi não lançou material novo, e mesmo assim o vídeo de abertura, que sugere a banda desembarcando na Cidade do Rock é sensacional e impactante, no começo logo de cara com a faixa-título “This House Is Not For Sale”, hit imediato. Mais um olhar mais amiúde encontra sutis diferenças. Como a ausência de “Runaway”, hit o início de tudo, uma pena. Ou a inclusão de “We Weren’t Born to Follow”, pinçada do discreto álbum “The Circle”, de 2009, reproduzida no público com ótima coreografia; nem dá pra imaginar que não entrou da outra vez. Ou ainda “Blood On Blood”, quando Jon, em uma das passeadas pelas laterais do palco, chega a cantar sentado, com o objetivo de recolher uma bandeira do Brasil para colocar os ombros e depois transformá-la em bandana. Parece pouco, mas público – uma multidão de responsa - vibra muito com esse tipo de coisa.

E também quando, em “Lay You Hands On Me”, Jon desce até o vão entre as grades que divide o público ao meio, cantando o refrão repetidas vezes, para o disparo da câmeras dos aparelhos emburrecedores. Ou ao receber duas fãs no palco, em um interlúdio de “Bed Of Roses”, sob a alegação de que “preciso de alguém para dançar”. A primeira, tímida, logo volta para o público, mas a segunda troca carícias com o ídolo e leva um selinho de celebridades pra casa, para delírio da plateia que acompanha tudo, inclusive pelos telões. É o momento Bono Vox de Jon Bon Jovi, cuja trajetória cada vez mais se aproxima de um ícone global da música pop, rompidas as fronteiras de todos os subgêneros do rock e da música pelos quais passou. E a afirmação do notório galanteador (Bruna Lombardi feelings), convertido em canastrão desses outros tempos. O público – repita-se – adora isso.

O aeróbico Jon Bon Jovi partindo para agitar na plataforma que divide o público ao meio

O aeróbico Jon Bon Jovi partindo para agitar na plataforma que divide o público ao meio

Alheios a as idas e vindas da vida do boss popstar, os músicos da banda, reformada e ajustada já há algum tempo, vão muito bem, obrigado. Cumprem corretamente suas funções suprindo, ao menos nos shows, a sempre lamentada ausência de Richie Sambora, fora desde 2013, e mandando bem no necessário suporte vocal de Jon. Brilha a técnica e o estilão de Phil X, coadjuvado por John Shanks, em músicas como a emblemática “Wanted Dead or Alive”; a impactante “Have a Nice Day” (Shanks soltinho nessa); na reformulada para o bem “Keep the Faith”, com um correndo para cada lado do palco; no estrondo da poderosa “You Give Love a Bad Name”, coisa linda de morrer; e no vocoder de “It’s My Life”; percebem a quantidade hits globais? O batera Tico Torres segue implacável depois de todos esses anos, e, na despedida, uma foto com ele, Jon e Bryan abraçados, os três remanescentes da formação original, é a imagem para se guardar na memória para todo o sempre.

Set list completo:

1- This House Is Not For Sale
2- Born to Be My Baby
3- Lost Highway
4- You Give Love a Bad Name
5- Roller Coaster
6- We Weren’t Born to Follow
7- Blood on Blood
8- In These Arms
9- Have a Nice Day
10- Keep the Faith
11- Bed of Roses
12- It’s My Life
13- Lay Your Hands on Me
14- Wanted Dead or Alive
15- Bad Medicine
Bis
16- Always
17- Livin’ on a Prayer

Vista geral do palco com a banda em ação e o telão no clipe de abertura de 'This House is Not For Sale'

Vista geral do palco com a banda em ação e o telão no clipe de abertura de 'This House is Not For Sale'

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